População idosa precisa de "voz" no país
No VII Congresso de Geriatria e Gerontologia de Minas Gerais, que reuniu aproximadamente 500 profissionais de todo Estado, na acolhedora e aprazível, cidade de Caxambu, no período de 28 a 31 de agosto passado, trouxe para o nosso trabalho, algumas conquistas, reflexões e indicadores que balizam, o que estamos fazendo por aqui. A participação nestes eventos científicos reveste-se de uma importância capital, na medida em que, colocamos o nosso fazer profissional, em evidência, no parâmetro de comparação, com o que os outros municípios realizam na área do envelhecimento com seus cidadãos. E também, serve para reafirmar o caminho metodológico e de gestão (o que já é uma conquista) já percorrido. Por outro lado, temos a oportunidade de conhecer, o que há de mais atualizado no trabalho geriátrico-gerontológico desenvolvido por outras cidades.
Parafraseando o grupo Titãs (sou fã de carteirinha), ao cantar que, "pobreza é igual em toda parte, riquezas é que são diferentes", afirmo que, pouco importa o tamanho da cidade, se é em Caxambu, Diamantina ou Belo Horizonte. O que vale constatar, é que, infelizmente, até o momento, independente do número de sua população idosa, os gestores municipais mineiros, continuam a dar de ombros na atenção aos idosos: o que equivale assegurar que no ambiente público, as vozes das pessoas idosas ainda não encontraram lugar nas salas do/as prefeito/as. Um outro aspecto a ser destacado, que o Congresso repercutiu, é a importância das redes sociais, na melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas: ter para onde ir, com quem conversar, expressar sentimentos, ser chamado pelo nome, receber convites para sair de casa, ser amado e amar; estes atributos comportamentais, por exemplo, contribuem, sem dúvida, para dar sentido a vida de qualquer pessoa, ainda mais, na velhice. Um outro aspecto, que trago à luz, embora seja muito falado e pouco praticado, é justamente, o movimento para o exercício contínuo de atividades físicas na prevenção de agravos e promoção de saúde dos idosos. O sedentarismo é fato entre nós, de crianças aos mais velhos.
Outro tema importante que precisa da atenção pública, diz respeito ao funcionamento das instituições de longa permanência para idosos dependentes. Eles apresentam alto grau de vulnerabilidade social e econômica. São os idosos, de um modo geral, que são esquecidos nos asilos. Historicamente, estes equipamentos de cuidados aos idosos, estão ligados às orientações religiosas que prestavam e ainda prestam, serviços relevantes de assistência social e de saúde a eles, que não tem nenhum vínculo familiar e/ou social. Praticamente sozinhas, contra tudo e todos, estas instituições, só Deus sabe, como sobrevivem, com despesas pesadas, para dar conta do exercício de cuidado. Está na hora de a gestão pública assumir responsabilidade no dia a dia destes cidadãos idosos que estão asilados e muitas das vezes, exilados de si mesmos: afinal de contas, quem vai cuidar dos idosos dependentes? A família está comprometida até o pescoço com despesas diversas, o Estado não tá nem aí, como se a questão não fosse com ele, a sociedade finge que não vê, sobra para quem?
Numa sociedade, como a nossa, violenta e desigual socialmente, os idosos vivenciam situações humilhantes e até de morte, em consequência dos mais variados tipos de agressões que sofrem, em muitos dos casos, de pessoas íntimas do convívio familiar. O noticiário local traz em suas páginas escritas, televisivas e faladas, quase que diariamente casos e mais casos de violência contra as pessoas idosas. A cidade ainda está longe de oferecer segurança e um ambiente de proteção para a participação dos idosos na vida diária do centro urbano: por que tantos acidentes de trânsito envolvendo pedestres idosos? Entra em cena aqui, o decano Estatuto do Idoso. Passados 10 anos de vigência no Brasil, que diferença fez na vida dos cidadãos idosos? Nenhuma. Para não cometer injustiça, diria, como outro músico, Lulu Santos, "ainda vai levar um tempo"! O Estatuto do Idoso é hoje um ilustre desconhecido. Pelos próprios idosos. E também pela falta de divulgação na sociedade e na cidade. Em Juiz de Fora, é difícil conseguir um exemplar do Estatuto. Quem tem? Se, os idosos não conhecem seus direitos, como cobrá-los?
Um outra realidade precisa ser construída no campo da justiça social direcionada para as pessoas idosas e penso que eles próprios, inseridos na sociedade, tem um forte papel politicamente para desempenhar: se são muitos, organizados, podem muito mais. Como o mais fervoroso torcedor do Atlético Mineiro, campeão da Taça Libertadores, eu também acredito.
José Anísio da Silva
Assistente social, mestre em Serviço Social pela UFJF, especialista em Gerontologia pela FUMEC - Fundação Mineira de Educação e Cultura/BH e pela SBGG/MG - Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de Minas Gerais. Participa ativamente do CMDI/JF - Conselho Municipal dos Direitos do Idoso de Juiz de Fora/MG.
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