Amor na Terceira Idade
a gente quer comer, quer fazer amor..."
Repórter: Ana Maria Reis
23/10/2000
- Com a palavra, os velhinhos
- A vida não pode parar
- Sexo ainda após seis décadas de vida
- O que muda no organismo
- Terapia sexual
Com a palavra, os velhinhos:
Onice de Souza Cezário Franco, 76 anos
Geraldo Neves Costa, 76 anos
Eles enviuvaram e tomaram rumos diferentes. Ela ficou em casa, cuidando da família e esperando um novo amor. Ele foi tentar, entre um namorico e outro, esquecer a solidão. Foi em um dos bailes promovidos pelo Pró-Idoso que se conheceram. "Disse a uma amiga que gostaria de me casar novamente e ela me respondeu que me apresentaria a um viúvo supimpa." Dito e feito. Onice e Geraldo namoraram 1 ano e estão casados há 3. |
Maria da Conceição Pereira, 73 anos
"Não sou de namoro", freia, literalmente, os velhinhos mais saidinhos do Pró-Idoso. A declaração é da viúva Maria da Conceição que, apesar do pudor, é uma das mais animadas. Se por um lado não quer saber de novos parceiros (ela se casou duas vezes e teve 5 filhos), não recusa um convite para dançar. "Alguém para me conquistar tem que ser muito do meu agrado. Não aconteceu ainda", argumenta a pé-de-valsa, que diz ser muito assediada. "Durante as paqueras, eles falam que sou muito bonita e simpática." |
Mas não é só de festa que vivem estes velhinhos, eles suam a camisa para se manterem em forma (fazem ginástica adaptada diariamente pela manhã) e encontram no trabalho voluntário uma forma prazerosa de se sentir útil.
"Todas as atividades têm como objetivo a elevação da auto-estima destes idosos, que durante uma vida inteira sofreram com a repressão e tornaram-se pessoas passivas. Freqüentando as reuniões, bailes e palestras, eles desenvolvem sua postura crítica. Esta ousadia pode estar contribuindo para que estes idosos se encontrem abertos a novos relacionamentos", relata a assistente social do Pró-Idoso, Magda Cristina Ferreira.
Sexo ainda após seis décadas de vida
E em um relacionamento de terceira idade, onde se encaixa o componente sexual? Viagra à parte, o desejo mantém-se vivo após seis, sete, oito décadas de vida, se isto, logicamente, for imprescindível à pessoa. "A sexualidade é um termômetro da forma de ser. Se alguém é aberto para o sexo, também será para outros aspectos da vida", atesta o sexólogo e psicoterapeuta Octávio Viscardi Filho.
Assim, a vida sexual de um casal na terceira idade pode ser plena e feliz se eles conseguirem encarar a velhice e o ato sexual com a mesma traqüilidade.
Certas diferenças físicas influenciam a vida sexual a partir dos 50 anos. Vasos sangüíneos, nervos, musculatura vão sendo afetados. Perdem a elasticidade e a circulação do sangue no organismo não flui tão naturalmente.
Tudo isto vem afirmar que não é o desejo que acaba e, sim, a vontade de procurar o sexo. "Nos homens, o período refratário (espaço de tempo entre uma ereção e outra) tende a aumentar significativamente. Nas mulheres, a diminuição da elasticidade e o processo de ressecamento da vagina tornam a penetração incômoda", avalia o sexólogo Octávio Viscarde Filho.
Durante as últimas décadas, a ciência confirmou a suspeita fisiológica de que sexo faz bem. Uma boa resposta sexual favorece todas as outras áreas de atuação humana, como o trabalho, relacionamento familiar e com os amigos, além da criatividade. E isto continua vigorando entre os que têm mais de 50.
Se o idoso entrou na terceira idade, ciente das modificações orgânicas que ele sofrerá, ele tem pouco com o que se preocupar. Embora o fôlego não seja o mesmo, de acordo com o sexólogo Octávio Viscardi, o desejo depende mais da saúde mental, fantasia e alegria de viver, que da musculatura enrijecida.
Durante as sessões de terapia que buscam o prazer na terceira idade, os medicamentos costumam ser coadjuvantes. "O orgasmo está numa dimensão cerebral, por isto o mais importante é fazer com que o corpo desenvolva o seu potencial de toque e de ser tocado", comenta Viscardi.
No entanto, remédios como o Viagra para os homens e a reposição hormonal para as mulheres são estratégias bem vindas.