População idosa cresce mais de 55% em Juiz de Fora; Conselho afirma que falta planejamento dos poderes públicos
O município tem mais 109 mil idosos de 60 anos ou mais; já o Censo de 2010 apontava mais de 70 mil pessoas da mesma faixa etária. Para o Conselho, a cidade passou a ser de formação, não de fixação.
Juiz de Fora tem mais de 109 mil idosos, conforme o Censo Demográfico do Brasil de 2022. O público de 60 anos ou mais cresceu mais de 55% em relação ao Censo de 2010, o último feito antes da pesquisa de 2022 e que apontou mais de 70 mil pessoas nessa faixa etária. O presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa (CMDPI), Marcus Amaral, disse que o crescimento não é surpresa, pois o município passou a ser uma cidade de formação, não de fixação. Ele afirma ainda que falta um planejamento dos poderes públicos para os idosos.
"A cidade não tem um planejamento para o aumento de idosos. Ela tem que se adaptando conforme as necessidades. E daí a necessidade também dos poderes públicos, né? Tanto quanto dos conselhos, das entidades, das Instituições de Longa Permanência [ILPI'] que cuidam de idosos se juntarem né, para que seja cobrada ações de políticas públicas que façam atendimento à essa população", explicou Marcus.
Os dados do Censo 2022 foram divulgados este ano e apontam que a cidade tem 109.366 mil idosos com 60 anos ou mais, sendo a maior parte de mulheres: 64.290 60; são 45.076 idosos homens no município.
No Brasil, o total de pessoas com 65 anos ou mais (22.169.101) chegou a 10,9% da população, com alta de 57,4% em comparação com 2010, quando o público era de 14.081.477, ou 7,4% da população.
“Ao longo do tempo a base da pirâmide etária foi se estreitando devido à redução da fecundidade e dos nascimentos que ocorrem no Brasil. Essa mudança no formato da pirâmide etária passa a ser visível a partir dos anos 1990 e a pirâmide etária do Brasil perde, claramente, seu formato piramidal a partir de 2000. O que se observa ao longo dos anos, é redução da população jovem, com aumento da população em idade adulta e também do topo da pirâmide até 2022”, analisa a gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, Izabel Marri.
Censo 2010
O Censo Demográfico é realizado pelo Governo Federal. O Brasil ficou 12 anos sem realizar o Censo e somente em 2022 a coleta de dados foi retomado. Com isso, a população idosa em Juiz de Fora teve um aumento de quase 40 mil pessoas neste período.
No Censo 2010, a coleta de dados foi separada por idades a partir dos 60 anos e, depois dos 80, o público foi unificado, totalizando 70.288 pessoas idosas. Veja abaixo os dados por idade e gênero conforme os dados:
Homens
- 60 a 64 – 9.848
- 65 a 69 – 6.668
- 70 a 74 – 5.027
- 75 a 79 – 3.441
- 80 ou mais – 3.580
Mulheres
- 60 a 64 – 12.550
- 65 a 69 – 9.097
- 70 a 74 – 7.228
- 75 a 79 – 5.544
- 80 ou mais – 7.305
Censo 2022
Já no Censo 2022, o público acima dos 80 anos foi dividido e totalizou 109.366 idosos. Confira os dados:
Homens
- 60 a 64 – 14.376
- 65 a 69 – 11.386
- 70 a 74 – 8.453
- 75 a 79 – 5.280
- 80 a 84 – 3.070
- 85 a 89 – 1.644
- 90 a 94 – 695
- 95 a 99 – 152
- 100 ou mais – 20
Mulheres
- 60 a 64 – 18.390
- 65 a 69 – 15.409
- 70 a 74 – 11.873
- 75 a 79 – 7.869
- 80 a 84 – 5.249
- 85 a 89 – 3.309
- 90 a 94 – 1.643
- 95 a 99 – 475
- 100 ou mais – 73
Conselho Municipal aponta dificuldades encontradas
Marcus Amaral, presidente do CMDPI afirma que Juiz de Fora passou a ser uma cidade que recebe as pessoas para estudarem e que, depois de formadas, elas saem à procura de um novo campo de trabalho, diferente do que ocorria antes dos anos 90, quando as pessoas fixavam moradia.
Para Marcus, os maiores pontos de dificuldades para os idosos na cidade envolvem acessibilidade e mobilidade da pessoa idosa.
"A pessoa idosa ela precisa ter acesso à uma qualidade de vida, atendimentos de saúde, calçamento adequado. E, considerando Juiz de Fora uma cidade de médio porte, eu acho que ela enfrenta desafios tanto das pequenas quanto das grandes cidades em relação a essa população. É uma população que não pode ser apartada, ela não pode ser segregada. É preciso debater, tornar efetivo a questão da urbanização, a criação de atendimento em UBSs, em postos de saúde, é preciso investir nos centros de convivência social para que o idoso tenha sua convivência", apontou o presidente do Conselho.
Entre os casos que o CMDPI mais recebe sobre os idosos na cidade, são as denúncias de violência doméstica, patrimonial, física e psicológica. Segundo Marcus, o conselho orienta quais canais os idosos devem procurar nestes casos de denúncia. Ele destaca ainda uma nova ferramenta que vai ajudar os idosos que passam por essas situações na cidade, que foi a criação da Ouvidoria Especial de Proteção à Pessoa Idosa.
Conforme o projeto aprovado, dentre os objetivos da ouvidoria, estão a análise e o encaminhamento de denúncias, sugestões e críticas, incluindo notificações de violência e discriminação; a promoção de ações e campanhas de conscientização sobre os direitos da pessoa idosa; e a elaboração de parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social e demais secretarias pertinentes no encaminhamento dos casos recebidos. A norma entrou em vigor na data de sua publicação.
Marcus finaliza ressaltando que o CMDPI está debatendo conseguir uma capacitação para os cuidadores que prestam assistência à população idosa.
"As demandas dessa parcela da população elas têm que ser entendidas, debatidas e anunciadas. Para que haja assim um plano diretor, como o plano municipal do idoso, que a Secretaria de Direitos Humanos implementa. Temos que viabilizar isso, o acesso a essa informação a quem cuida, a quem assiste, a quem se dedica a dar assistência a essa população", finaliza.
Melhorias para a terceira idade
Em uma reunião realizada na Câmara Municipal, os participantes do Projeto Câmara Sênior Ana Edde, do Legislativo, foi discutido sobre uma aproximação e diálogo com a Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU) para resolver os problemas que os idosos enfrentam ao usar o transporte coletivo urbano.
O grupo espera ter mais campanhas educativas para segurança no trânsito, principalmente nas avenidas Getúlio Vargas e Rio Branco, além de mais respeito aos lugares preferenciais nos ônibus, e mais cuidado, por parte dos motoristas, com os idosos e pessoas com deficiência.
Ainda nos trabalhos do Legislativo, na noite da última segunda-feira (30) foi aprovado pelos vereadores o projeto de lei que prevê a criação do Programa Visão Legal na Terceira Idade, com o objetivo de garantir à população acima de 60 anos avaliação oftalmológica anual, e tratamento caso necessário.
O programa deverá atender, em regime de mutirão, a todas as pessoas idosas, em especial para a população de baixa renda. Por meio da Secretaria de Saúde, a Prefeitura terá que disponibilizar profissionais habilitados para a realização de avaliação oftalmológica; encaminhar ao Sistema Único de Saúde (SUS) os pacientes portadores de doenças detectadas e que necessitam de tratamento; mapear os dados obtidos pelo programa para futuros estudos; e fornecer armações e lentes quando for necessário.
O projeto do vereador Julinho Rossignoli (PP) segue agora para sanção do Executivo.
A reportagem procurou a Prefeitura de Juiz de Fora solicitando um posicionamento em relação às dificuldades encontradas pelos idosos e as ações realizadas pelo Executivo, mas até o fechamento da matéria não houve retorno.