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Cr?nica de uma morte anunciada
Tupi, praticamente fora do M?dulo II, conta as horas para anunciar seu futuro rumo ao fundo do po?o do futebol mineiro

Ricardo Corr?a
Rep?rter
01/02/2006

A cadeira vazia e os rostos tristes na coletiva desta quarta-feira, dia 1? de fevereiro, no Cesporte n?o eram mera coincid?ncia. Ela deveria ser ocupada por Marco Aur?lio Saggioro Del Papa, o "18", coordenador da parceria Tupi 100% Juiz de Fora que, no entanto, estava sedado em uma cama do Hospital Albert Sabin. Sintom?tico. Um infarto brando, no ?ltimo final de semana. Emblem?tico. Por mostrar como anda pesado e dolorido o cora??o dos torcedores carij?s.

S? os sedativos impediram Marco Aur?lio de ouvir a not?cia que ele tentou evitar quando anunciou uma parceria com o clube (Leia a mat?ria). Ele n?o ouviu, mas a imprensa esportiva precisou engolir. Na voz nervosa e, ao mesmo tempo, um pouco embargada de Geraldo Magela Tavares, a cidade come?ou a saber do que j? temia h? muitos anos: o Tupi est? praticamente fora do futebol.

Embora ainda esperem uma luz no fim do t?nel, os dirigente da parceria j? sacramentaram: o futebol da cidade tem data e hor?rio marcados para morrer. Ser? entre 12h e 13h desta quinta-feira, dia 2 de fevereiro. Em menos de vinte quatro horas, quase um s?culo de tradi??o do Tupi estar? em jogo.

? como na s?rie famosa que passa diariamente nas telas da televis?o. A cada minuto a esperan?a se esgota. O objetivo, nesta vers?o de "24 Horas", n?o ? impedir atentados terroristas dos mais diversos tipos. Os agentes que participam da miss?o de salvamento do Tupi precisam conseguir dinheiro: pelo menos R$ 30 a 40 mil para iniciar os trabalhos. Sem isso, ser? imposs?vel cadastrar os contratos na Federa??o, cujo prazo termina j? na sexta-feira, dia 3 de fevereiro, e agendar a viagem para aquela que seria a primeira partida, contra o Juventus de Minas Nova.

Na abertura da coletiva, Ricardo W?gner, hoje subsecret?rio de Esportes e Lazer, mas por 18 anos cronista esportivo e membro da Liga de Futebol de Juiz de Fora, tentou deixar claro qual foi o apoio que a Prefeitura deu ao clube e culpou os dirigentes. Passou a palavra para Geraldo Magela Tavares, o senhor que, em suas pr?prias palavras, "deu sua vida ao Tupi". Foi dele a miss?o de dar a pior not?cia que o esporte da cidade recebeu nos ?ltimos 20 anos.

"As minhas primeiras palavras s?o a de que o Tupi n?o vai disputar o campeonato. O sonho est? virando ?gua. O Tupi foi irresponsavelmente falido. Irresponsabilidade de seus dirigentes, dos seus s?cios que elegeram e reelegeram maus gestores. E colocaram l? algu?m indicado pelo gestor anterior. O Tupi est? em uma situa??o de quase insolv?ncia. Eu fico at? revoltado. A sociedade acredita, mas n?o somos m?gicos. N?o podemos carregar essa cidade nas costas. N?o sei se nossas empresas podem ou n?o ajudar, mas eu acho que n?o v?o. Est? praticamente decidido", disse, emocionado, ao lembrar que j? perdeu o emprego para treinar o Tupi.

"? mais f?cil fundar um clube do zero do que recuperar o Tupi. Entreguei minha vida a esse clube. Toda vez que o Tupi estalava o dedo eu estava l? e agora sou obrigado a ver essa situa??o".

No fundo do po?o
Quando o Tupi foi rebaixado para o M?dulo II, em 2004, os torcedores choraram como crian?as. Protestaram, cercaram os ?nibus. J? naquela ?poca dizia-se que o Tupi sa?a da elite do futebol mineiro sem saber se voltaria. Nesta quarta-feira, quem esteve presente na coletiva teve a no??o de que o pior realmente ainda estava por vir. A desist?ncia na disputa do M?dulo II, assim que for confirmada, trar? san?es que podem enterrar de vez o clube.

Logo que enviar um documento anunciando a desist?ncia, o Tupi ser? denunciado pela Federa??o Mineira de Futebol ao Tribunal de Justi?a Desportiva. Se for condenado, o que ? dado como certo, ser? rebaixado para a Segunda Divis?o, ou o M?dulo III, o fundo do po?o do futebol mineiro. Dificilmente encontrar? for?as para continuar.

Falido, afundado em d?vidas e completamente sem credibilidade, o clube ainda pode arrumar mais problemas. Dever? tamb?m sofrer san?es econ?micas, como multas e indeniza?es por ter prejudicado o funcionamento do campeonato. Enquanto isso, o presidente do clube, Lu?s Carlos Monteiro, sequer na coletiva estava. Terceirizou o futebol, as preocupa?es e as frustra??o de ver de perto o fim do futebol do clube.

Procurando culpados
Monteiro entregou o futebol do clube a Marco Aur?lio "18" (foto ao lado) e ? ADJF. Hoje, esses s?o acusados de ingenuidade. De achar que seria f?cil o que agora parece quase imposs?vel. "Eu acreditei que o autor tinha um projeto mais s?lido. N?o imaginava que fosse t?o fr?gil. E n?o duvido que ele tenha passado mal por causa dessa situa??o", disse Geraldo Magela, que no entanto dispara mesmo ? contra os dirigentes antigos do Tupi.

"Assaltaram o Tupi durante o dia e na frente de todo mundo", disse, para depois ser interrompido por Ricardo W?gner, que completou: "Agora a cidade tem que cobrar dessas pessoas. Colocar o Minist?rio P?blico para investigar como essas pessoas enriqueceram. O que fizeram no clube", disse Ricardo, que reclama de n?o ter conseguido apagar a imagem deixada sob o nome Tupi. "O Geraldo Magela vai em busca de dinheiro e os empres?rios dizem: para o Carnaval eu dou, para o Tupi n?o", e Magela complementa.

"Eles t?m vergonha de colocar a logomarca na camisa do Tupi. Olha o estrago! N?o deixaram nem uma bola furada no clube, mas o pior de tudo: n?o deixaram credibilidade e agora as pessoas acham que somos da mesma laia desse pessoal", desabafou.

A decis?o de n?o prolongar o sofrimento caso os apoios n?o apare?am at? o in?cio da tarde desta quinta-feira foi para n?o dar calote em jogadores, comiss?o, federa??o e todos os outros envolvidos. Foi assim nos ?ltimos anos e h? quem ainda n?o tenha recebido. Se n?o conseguir R$ 7 mil para registrar os contratos, R$ 8 mil para viajar at? Minas Nova e R$ 7 mil para um vale para os atletas, os trabalhos estar?o encerrados.

A Prefeitura ir? repassar os R$ 12 mil que o Galo tem direito para que os jogadores e a comiss?o t?cnica n?o fiquem sem receber pelos 15 dias de trabalho. O m?nimo para quem perdeu outras oportunidades de emprego para apostar no projeto que teima em n?o dar certo mesmo em uma cidade de 500 mil habitantes.

E foi em tom f?nebre, com jornalistas e dirigentes de cabe?a baixa, com um sil?ncio incomum ao fim de cada coletiva, que Geraldo Magela sentenciou o prov?vel futuro do Galo, dos jogadores, comiss?o t?cnica, jornalistas esportivos e torcedores. Era o clima de fim de festa, ?s v?speras do dia que pode ser o pior da hist?ria do Tupi. "N?o vamos dar preju?zo, s? matar a esperan?a".