Abandono geral
Foi como se saísse para comprar o cigarro. E nunca mais voltasse. Disse que ia ali na esquina e já voltava. Nunca mais. É assim a sensação do abandono. Como se a fumaça do cigarro que permitiu a fuga para o abandono se transformasse em outra névoa, como numa daquelas estrelinhas de ninja e quando ela se desfizesse, o oriental mascarado não mais estaria ali. Teria abandonado a cena. Deixando de lado as delongas e eu bem gosto de metáforas, foi assim que me senti ao ver a matéria sobre a situação de abandono do Parque da Lajinha, um dos poucos pontos turísticos de Juiz de Fora e importante área verde. Como se fosse apenas este o único caso. A semana apresentou inúmeros episódios de abandono, que eu preciso desabafar por aqui...
Teve o anúncio dos taxistas, que agora pretendem recusar corridas em locais com alto risco de ocorrências de assaltos. Não querem ficar abandonados, em meio à insegurança. Mas abandonarão os bons passageiros, já que muita gente de bem mora em todos os bairros desta cidade. Pelos pecados de alguns poucos, todos pagarão. Como se não bastasse a Operação Tartaruga da semana passada, que deixou os usuários na mão e em pé nos pontos de embarque e desembarque. O valor da bandeirada do táxi deve subir. Daqui a pouco, já começam a falar do transporte coletivo... Salve-se quem puder!
E as notas falsas que foram aplicadas por bandidos durante a semana? E se uma dessas cai na minha mão por um acidente? Quem poderá me defender? Deve ser por esse motivo que o pessoal que trabalha nas caixas registradoras olha minuciosamente a marca d'água contra a luz e dão uma coçadinha na nota, quando vou efetuar um pagamento qualquer. Tem que desconfiar de todo mundo mesmo. Só não entendo, porque eu, pobre consumidor, não posso também aferir a legitimidade das notas no troco que me entregam por aí. É cada cara feia que fazem para mim, que dá até medo, só de pensar.
Não são somente as pessoas que abandonam ou são abandonadas. Tem gente que abandona carros velhos nas ruas da cidade. Mais de 80 veículos e quase R$ 15 mil retirados dos cofres públicos injetados para pagar pelo descaso de gente que não tem a menor noção de cidadania.
Ainda bem que existe gente que não abandona as pessoas que mais precisam de ajuda. Estou falando dos voluntários, que prestam importantes trabalhos no município, abdicando de seu tempo livre para poder fazer algo por pessoas que foram abandonadas, por "alguém que foi comprar cigarros e nunca mais voltou"... E aproveito a menção para fazer o lembrete de comprar um chocolate para a Páscoa dos desassistidos. É sempre bom ser solidário.
Como o abandono é geral, espero que o nobre leitor deste espaço não me abandone no decorrer do ano. Tentarei também não abandonar ninguém por aqui. Toda sexta-feira espero colocar um texto novo por aqui, não desamparando, inclusive, o pessoal da redação do Portal ACESSA.com, que conta com essas reflexões semanalmente para preencher a página da web.
Juliano Nery não fuma cigarros e terá que inventar outra desculpa esfarrapada quando quiser abandonar alguém.
Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.
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