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Brasileiro: um amplo assunto restrito

O Cinema Brasileiro de fic??o p?s "retomada", com todas as limita?es, amplia?es e equ?vocos que possam estar inclu?das nesta palavra, vinha sofrendo de v?rios males t?picos do cinema dos pa?ses em "desenvolvimento". O mais grave, que ainda n?o se resolveu e que n?o se resolver? t?o cedo, ? a distribui??o. A produ??o est? indo de "vento em popa", mas a exibi??o, quando ocorre, fica restrita a pequenas salas do circuito alternativo. Exce??o para os produtos da Globo Filmes e outros poucos exemplares.

Outros dois males dessa nova safra s?o uma certa nostalgia em rela??o ao Cinema Novo e o desejo de agradar p?blico e cr?tica, o que muitas vezes gera produtos h?bridos que n?o chegam a lugar nenhum. Novamente devemos ressaltar exce?es como Um C?u de Estrelas, de Tata Amaral, os filmes de Beto Brant e, talvez principalmente, Madame Sat?, de Karim A?nouz.

Realizando um filme ousado e tenso, Domingos Oliveira coloca sua esposa, a atriz Priscilla Rozenbaum praticamente o tempo todo sozinha em cena, num embate corporal e psicol?gico com outros personagens (muitos deles ao telefone) e, principalmente, consigo mesma. Carreiras, realizado e exibido em digital, ? a proposta de Domingos para o movimento BOAA (Baixo Or?amento e Alto Astral).

Vindo na contra-m?o do que vinha realizando at? agora, Beto Brant realiza o tamb?m ousado Crime Delicado. A viol?ncia que emana do filme ? de outra natureza. Ao inv?s do embate f?sico, o embate psicol?gico.

Na estr?ia do filme ?rido Movie, L?rio Ferreira, seu diretor, declarou que os formadores de opini?o afirmavam que a maioria dos recursos destinados ao cinema deveriam ir para o eixo Rio-S?o Paulo para garantir a "qualidade dos filmes", mas que a safra que ele tinha visto no Festival estava a? para provar o contr?rio.

Ele estava se referindo mais precisamente aos filmes Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, e Cidade Baixa, de S?rgio Machado. Realmente, juntando-se ao ?rido Movie, o trio de filmes nordestinos apresenta o que de melhor se fez no Brasil ultimamente.

Cinema, Aspirinas e Urubus ? daquelas pequenas p?rolas onde tudo se encaixa com perfei??o. N?o existe nada que se possa ressaltar ou diminuir no filme. Da linda fotografia ao perfeito trabalho dos atores, tudo flui belissimamente.

O filme de S?rgio Machado vai por um caminho mais visceral de rela?es humanas. Apesar de utilizar pressupostos do cinema cl?ssico narrativo, ou seja, a rotina que ? modificada pela entrada de um personagem ou a amizade que ? abalada/quebrada pois dois amigos se apaixonam por uma mesma mulher, o diretor manipula muito bem os ingredientes e foge com habilidade de clich?s e armadilhas f?ceis. O elenco, apesar da imagem um pouco desgastada de L?zaro Ramos e Wagner Moura, est? excelente. Alice Braga se destaca, como o elemento respons?vel pelo conflito, enriquecendo com nuances e ambig?idades sua interpreta??o.

Se os caminhos apontados por essa turma forem inspiradores para novos e velhos cineastas, talvez haja o que se comemorar parcialmente dentro de alguns anos e se possa realmente falar em retomada.

Infelizmente essas obras ainda se restringem a um pequeno p?blico, pois a exibi??o de filmes brasileiros ainda ? pr?xima do nulo. Enquanto o Brasil n?o resolver a quest?o de distribui??o, n?o poderemos afirmar que temos um cinema, pois cinema n?o ? apenas produ??o, ? di?logo com o p?blico.

Aleques Eiterer
Luzes da Cidade - Grupo de Cin?filos e Produtores Culturais