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L?der do MST critica democracia brasileira, faz apanhado hist?rico e diz n?o saber mais qual a sa?da para crise que se abate sobre o pa?s
Ricardo Corr?a
Rep?rter
05/05/2006
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Se n?o quis dar essa resposta a quem acompanhou sua palestra nesta quinta-feira, dia 4 de maio, no ICH, o l?der nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), tentou dar muitas outras. Convidado para palestrar na UFJF pelo Diret?rio Central dos Estudantes, o pol?mico l?der manteve suas cr?ticas ? imprensa, ao sistema pol?tico brasileiro e, mais do que isso, desfilou seu repert?rio de frases contundentes. Durante cerca de uma hora, tra?ou todo o hist?rico da democracia brasileira de uma ?tica diferente, recebendo aplausos dos estudantes muitas vezes, e n?o deixando de usar palavr?es ou express?es mais fortes para se referir a figuras pol?ticas que abomina.
Assim como em outra vinda ? cidade, antes da elei??o do presidente Lula, St?dile abriu seu voto. Apesar de todas as cr?ticas e de em alguns momentos at? ridicularizar o presidente, deixou claro que ap?ia o petista nesta elei??o. Mas reconheceu que a esquerda dessa vez tem outras op?es.
"Essa elei??o ? um pouco diferente porque a esquerda est? dividida. Desde 1984 que a esquerda estava com o Lula. Nessa elei??o a esquerda vai dividida. Tem aqueles que como eu v?o votar no Lula. Tem quem v? votar na Helo?sa Helena. Tem tamb?m aqueles que torcem para que Itamar Franco saia candidato e votariam nele. Tem quem vai anular e tem gente que vai pescar. Vai visitar a m?e, vai fazer outra coisa ao inv?s de votar. Isso ? revelador", lembrou o l?der, que avaliou a atual situa??o dos movimentos sociais no pa?s, e reconheceu que o momento ? de descenso.
Para isso, comparou o
Brasil ? Cor?ia do Sul. Com economias semelhantes, segundo St?dile, os
coreanos possuem 97% dos jovens chegando at? a Universidade, enquanto no
Brasil esse ?ndice n?o chega a 8%.
"Se s? 8% dos nossos jovens podem entrar na universidade, nossa sociedade
n?o ? democr?tica para o ensino superior. Democracia n?o se mede pelo
direito de votar, mas pelo grau de oportunidade que as pessoas t?m para
prosperar", lembrou, antes de come?ar a falar de reforma agr?ria, o tema que
lhe solicitaram para discursar em Juiz de Fora. Reforma Agr?ria
"Eles n?o suportam o MST, mas os que mais invadiram terras nesses pa?s foram
esses 1%, que ocuparam 48% das terras. At? 1850 todas as terras do pa?s eram
propriedade da coroa. Eram p?blicas. Podia usar mas n?o podia vender nem
comprar", reclamou.
O economista sem terra avaliou que, durante 400 anos, o Brasil desenvolveu
um modelo que privilegiava a agroexporta??o e disse que o MST defende ? a
produ??o de alimentos para o mercado interno, para suprir um d?ficit
existente.
Em sua avalia??o hist?rica, ele lembrou o conceito de Industrializa??o
Dependente, que Florestan Fernandes utilizou para nomear o processo de
industrializa??o brasileira ocorrido entre as d?cadas de 30 e 80. St?dile
explicou que o capitalismo brasileiro encontrou nessa ?poca uma f?rmula
milagrosa de acumular e desenvolver o pa?s ao mesmo tempo, utilizando como
comprova??o as altas taxas de crescimento da economia brasileira no
per?odo.
"A cada doze anos a fam?lia dobrava o seu patrim?nio. Hoje isso n?o acontece
mais. Ent?o houve um crescimento, mas manteve a concentra??o", lamentou
St?dile, que lembrou ainda que existem burgueses, nome que ele utiliza para
os ricos, e burgueses apenas de cabe?a, que n?o possuem capital e
propriedades relevantes mas ostentam o status como se fossem.
"Em Juiz de Fora n?o tem ningu?m burgu?s. S? de cabe?a. De patrim?nio n?o
tem. S? os donos da Mercedes, mas esses n?o est?o aqui". O grande embate de 1989
"T?nhamos a ilus?o de que acabar com a ditadura resolvia o problema.
Derrubamos os militares, reconquistamos nosso direito de escolher o
presidente mas n?o foi suficiente", disse St?dile que apontou as elei?es de
1989 como o grande momento de embate entre a constru??o de um capitalismo
democr?tico, representado por Lula ou a entrega ao capitalismo
internacional, nas m?os de Collor.
"Aquela derrota de 1989 n?o foi uma derrota eleitoral. Foi uma derrota de
como sair da crise. Gerou um processo de des?nimo. Criou um descenso do
movimento de massa. De l? para c? os trabalhadores s? perderam e n?o
conseguiram mais se mobilizar", lamentou. Cr?tica aos Fernandos
St?dile atacou as privatiza?es e citou o exemplo da Vale do Rio Doce. Em
diversos momentos fez quest?o de escrever no quadro para onde iria o lucro
da empresa ap?s as privatiza?es. Chegou a falar da Petrobras e disse que
Fernando Henrique s? n?o privatizou a empresa por medo dos militares. Mas
que, com a venda de a?es na Bolsa, 48% do lucro da empresa iria para os
Estados Unidos.
Por isso, chegou at? a se mostrar contente com a decis?o do governo
boliviano de nacionalizar a produ??o de petr?leo e g?s no pa?s, por
prejudicar os interesses da empresa.
Jo?o Pedro St?dile comparou o crescimento m?dio da economia, na casa de 2,5%
ao ano, ao crescimento m?dio da popula??o no per?odo, de 2,3%, para dizer
que a economia brasileira ficou praticamente estagnada.
"O neoliberalismo foi um desastre. E os capitalistas n?o exploram mais o
trabalhador pelo trabalho, e sim pelos servi?os e pelos juros cobrados",
disse ao lembrar de como o brasileiro paga caro para usar um celular, por
exemplo. A elei??o de Lula "Foi fruto do voto do desespero, de quem queria o fim do neoliberalismo",
lembrou St?dile que contabilizou na vit?ria de Lula a raiva do povo, ao fato
da campanha ter sido despolitizada e de parte da burguesia, que se assustou
com a crise argentina, ter apoiado o candidato do PT com medo de que a
situa??o se repetisse no pa?s.
"Mas eles fizeram um acordo com o Lula, que foi a Carta ao Povo Brasileiro,
onde ele se comprometeu a n?o modificar a pol?tica econ?mica".
Neste momento St?dile criticou bastante o governo, ao qual chamou de
"amb?guo".
"As for?as de direita seq?estraram Lula. A economia ficou controlada pela
direita. E a esquerda ficou com a ?rea social, que n?o tem dinheiro e n?o
manda nada. O governo Lula n?o tem projeto", disse ele, antes de assumir que
votar? novamente no candidato petista. Assim mesmo, ressaltou que a sa?da
para o problema n?o est? nas elei?es e sim em um reacenso dos movimentos
sociais. Ele acredita que, tendo algu?m da esquerda no poder, mesmo nessas
condi?es, ? mais f?cil isso acontecer do que se a direita voltar ao
Planalto.
O l?der do MST defendeu que bens da natureza, como a terra, a ?gua e o clima
n?o podem ter propriedade. "Ningu?m pode dizer: 'Essa terra ? minha. Fui eu
que fiz, ela ? fruto do meu trabalho'. N?o ? como essa cadeira, por
exemplo", disse o l?der que acusou o governo de estar querendo tamb?m
privatizar a ?gua, depois de privatizar a terra. Nesse momento, lembrou os
rumores de privatiza??o da Cesama, companhia de abastecimento que opera em
Juiz de Fora e atacou. "? uma picaretagem"
Ap?s o fim desse per?odo de industrializa??o dependente, surgiram os
movimentos de massa que, no in?cio, lutavam era contra a ditadura.