*Jos? Augusto da Silva
Convidado
Resumo: Tais coment?rios foram sistematizados
com o prop?sito de me permitir, enquanto leitor desta
obra po?tica, uma tentativa de vivenciar o instante criador
que tomou conta do poeta. Num esfor?o de construir uma
interpreta??o pessoal para esta obra, acredito poder instigar
outros leitores a percorrerem o mesmo caminho.
Caiu em minhas m?os, como obra do acaso, o gracioso livro, O Cora??o de Darwin, obra po?tica de Ely Manoel Rosa, financiado pela Lei Murilo Mendes de Incentivo ? Cultura. Recebi-o de presente e n?o me saciei enquanto n?o devorei suas noventa e seis p?ginas desafiadoras. Conhe?o o autor, n?o conhecia sua obra. Do autor, posso dizer um militante convicto da nova matriz energ?tica que vai, segundo ele, ao lado de Bautista Vidal, Aziz Ab'Saber, dentre outros adeptos da biomassa, revolucionar as rela?es sociais no campo e al?ar o Pa?s ? condi??o de celeiro energ?tico do mundo. Dispensa coment?rios a evidente assertiva, sustentada no programa do ?lcool combust?vel e, agora, na experimenta??o do biodisel, extra?do da mamona e outras oleaginosas abundantes em nossa flora e quintais.
Mas o que me traz ao presente coment?rio ? o vigor desafiante da sua obra po?tica. E quando o assunto ? o seu livro, me pergunto, sem exatas respostas, o que permeia o cora??o, agora imortalizado, de Darwin, nessa po?tica essencial t?o bem constru?da pelo autor. Poesia essencial. Aqui a exist?ncia n?o ? um fardo, algo imposs?vel de ser sustentada. Ela simplesmente ?. Com suas cores, seus risos, seus medos, paix?es e loucuras.
Ela ? do mundo vivido, sentido, tocado e por tocar. ? essencial porque n?o foge ao seu papel de decodificar em palavras o sublime e arrojado sentimento de vida que faz, do seu autor, um poeta maior, menos porque se compara mas, sobretudo, porque ? extremamente ousado em se desnudar da sua privacidade e se mostrar ao mundo como homem que o vivencia. N?o h? esconderijos e segredos mal contados, sentimentos herm?ticos e abstra??o por demais tolhedora. Ao contr?rio, ? cristalina e caudalosa como o rio da nossa inf?ncia, poss?vel de peixes, carregado de mem?rias encantadas, ressonantes por entre pedras e contemplativas pelos remansos.
Em tudo isto estaria O Cora??o de Darwin? Fico a imaginar que aqui cabem todos os cora?es. Eu mesmo me percebo em cartas teses deste grande e emoldurado di?logo po?tico, O Cora??o de Darwin.
E neste di?logo desconcentram-se em mim a raz?o, os s?mbolos e signos significantes e significadores. J? n?o h? pedra sobre pedra, a certeza se esvai como ?gua da bica por entre dedos infantes. Meus sentidos, antes soberbos em face de uma verdade poss?vel, s?o agora convidados a confundirem-se, e a mim, como se pud?ssemos, e podemos, reinventar o olhar das palavras, a retumbante sonoridade dos olhos e o agrad?vel perfume das palavras.
? o encanto m?gico desta obra po?tica que nos solicita e nos permite desconstruirmo-nos e erguermo-nos em sucessivas atitudes frente ? vida que se descortina para n?s.
Desconstru?do, o corpo j? n?o ? p?, j? n?o ? mat?ria. Esp?rito, qui??? Mas com que raz?o posso eu perguntar sobre O Cora??o de Darwin se o que se me oferece, na forma de palavras diretas, ora tortas, enviesadas em textos-vida ? apenas a constata??o do ser em si ? Assim, desnudo, apenas si de si mesmo, repleto de n?s outros. J? n?o ? cora??o, assim como n?o s?o propriedades e verdades as palavras tornadas vida. ? ess?ncia mesmo. Essa coisa que nos rouba dogmas, burla destinos e ca?oa do tempo-rel?gio. Ela, e s? ela nos desconstr?i, nos decomp?e em fragmentos gentilmente cedidos por Cronos, tempo-mem?ria, de semear, de colher. S? ela, portanto, a sua ess?ncia mesma ? que permanece em transforma??o e nos permite, cora??o invocado, ser a testemunha da obra criadora, tal qual a biomassa, a nossa potencial matriz energ?tica: dada como presente para que todos dela desfrutem.
Jos? Augusto da Silva ? antrop?logo, Mestre em Educa??o pela UFJF, Pesquisador do Projeto Escola de Cidadania da UFJF, Diretor-Presidente do Instituto Cidade, Organiza??o da Sociedade Civil voltada para a organiza??o e difus?o da cultura c?vica. Convidado do Portal ACESSA.com para escrever este artigo.
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