Sindicato denuncia alteração em ponto de carteiros e atendentes dos Correios

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Terça-feira, 13 de julho de 2010, atualizada às 17h35

Sindicato denuncia alteração em ponto de carteiros e atendentes dos Correios

Clecius Campos
Repórter

O Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Correios e Telégrafos de Juiz de Fora (Sintect-JF) denunciou a prática de alteração no cartão de ponto de carteiros e atendentes nas unidades de Juiz de Fora e região. A denúncia foi feita a jornalistas após o pronunciamento da Empresa Nacional de Correios e Telégrafos (ECT) em audiência pública realizada na tarde desta terça-feira, 13 de julho, na Câmara Municipal.

O gerente regional da ECT em Juiz de Fora, Sérgio Sacramento, apontou a média diária de 7 minutos a mais na carga horária dos atendentes e o gerente de Tratamento e Distribuição dos Correios, Carlos Vilela Martins, apontou média diária de 26 minutos extras na carga horária de carteiros.

Os números incomodaram o diretor de Finanças do Sintect-JF, João Ricardo Guedes, que contou como funcionaria a alteração. "O atendente faz a hora extra e anota o horário correto no cartão de ponto. Posteriormente, o mesmo cartão volta às mãos do funcionário, com o pedido de que seja feita a mudança. Esta prática é que mascara os dados reais." Segundo o sindicalista e diretor de Ciência e Tecnologia dos Correios, Cleber Pereira Pinto, os trabalhadores aceitam a alteração diante da "perseguição e assédio moral que sofrem". "No interior, o atendente é ainda mais omisso, já que cada agência tem apenas um ou dois atendentes. Se vier uma reclamação de uma unidade do interior, a empresa fica sabendo quem fez a denúncia."

A suposta fraude é confirmada pelo presidente do Sintect-JF, Josimar de Castro. Segundo ele, o interesse dos Correios é cumprir as metas estipuladas pelo Ministério das Comunicações. "Se descumprir, a gerência regional pode ser punida. Os números que foram apresentados não mostram a realidade." De acordo com Castro, o sindicato já fez denúncias ao Ministério do Trabalho sobre o assunto. "Em alguns apontamentos registrados no órgão,  foram registrados indícios de irregularidade no cartão de ponto."

Sacramento nega a prática. "Isto [a suposta alteração] não acontece em Juiz de Fora, nem na região, nem em qualquer lugar do Brasil. Os números que apresentamos são os verdadeiros." Martins também descarta a mudança no número de horas extras. "Não há motivo para ser feita qualquer alteração", resume.

Sobrecarga por falta de pessoal

A sobrecarga de trabalho seria ocasionada pela falta de pessoal para atender à demanda da cidade e da região. De acordo com Sacramento, dois programas de demissões voluntárias (PDVs), realizados em abril e dezembro de 2009, ocasionaram 23 perdas de atendentes nos 80 municípios cobertos pela gerência regional. Em Juiz de Fora, 14 atendentes foram perdidos.

"Os PDVs nos impactaram. Além disso, em julho do ano passado houve o esgotamento do banco de aprovados no último concurso público realizado pelos Correios. Aguardamos a licitação da empresa que realizará o novo concurso, já com um milhão de inscritos para todo o Brasil, mas já sabemos da impossibilidade de contratação ainda em 2009." O edital já publicado prevê 21 vagas de atendentes para Juiz de Fora.

Segundo Martins, a Gerência de Tratamento e Distribuição também sofre efeitos dos PDVs. Segundo dados apresentados na audiência pública, a média de horas extras teria subido 60% no primeiro semestre de 2010, em relação ao mesmo período de 2009. "Hoje são 252 funcionários efetivos, mais 13 temporários. As contratações temporárias vão prosseguir, com mais três em agosto e outros três realocados de outra cidade da região que engloba 217 municípios da Zona da Mata, Vertentes e Leste de Minas. "A intenção é voltar ao índice satisfatório."

O aumento no volume de trabalho é apontado pelo presidente do Sintect-JF. "Os carteiros tentam fazer de tripas o coração para servir à comunidade." O esforço preocupa o auditor fiscal da Gerência Regional do Trabalho e Emprego, Antônio Carlos Ribeiro Filho. "O problema é antigo e muito conhecido e a solução não é das que demandam tantos esforços. É necessária a contratação de mais pessoal. No entanto, os Correios deveriam realizar análise ergonômica do trabalho para resolver a situação de forma concreta, sem artifícios e soluções temporárias." Entre os prejuízos para os carteiros, ele aponta o transporte excessivo de carga, a postura inadequada, a maior exposição à radiação solar, o aumento no número de acidentes e o esforço repetitivo.

Objetos deixariam de ser entregues diariamente

Enquanto isso não ocorre, cerca de 9 mil objetos deixam de ser entregues diariamente por falta de pessoal, segundo estimativa do Sintect-JF. Segundo Cleber Pereira Pinto, em um dia crítico, cerca de 17 mil encomendas e correspondências deixaram de sair para a distribuição, em um universo de 60 mil. Os atrasos seriam motivo de 70% dos atendimentos realizados pela Central de Atendimento dos Correios da região, segundo o sindicato. A ECT nega atrasos e retenção de objetos. Segundo a empresa, apenas 1,2% dos volumes são entregues fora do prazo.