A Igreja tem candidatos?

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A Igreja tem candidatos?

A Igreja tem candidatos?

Dom Gil 23/10/2018

Há muitos anos a Igreja, seja pelos documentos papais, seja pelos pronunciamentos das Conferências Episcopais, tem procurado ser isenta nas opções político-partidárias, não indicando candidatos e não privilegiando partidos. Ela, contudo, indica princípios e critérios a partir dos Santos Evangelhos, resumidos na sua doutrina social, na moral familiar e nos seus códigos de ética construídos ao longo da história à luz dos ensinamentos de Cristo. A partir do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), ela tem reforçado estes propósitos.

O critério de pronunciar-se, em máximas vezes, por meio de documentos aprovados em assembleias, sínodos ou concílios tem se revelado ideal, pois os textos são julgados pelos presentes com direito a críticas, modificações e eliminação de termos dúbios. Esse método é aplicado na CNBB com muita responsabilidade e precisão. Posso afirmar, que, em toda a minha vida, não encontrei, no Brasil, nenhum outro grupo que tenha mais espírito democrático, mais liberdade na votação de textos que a CNBB.

Porém, vez por outra, surgem problemas. Bispos são também humanos. Alguns são mais acalorados sobre determinados pontos de vista e outros são, às vezes, extremamente acomodados porque não querem polêmicas. Não nos assustemos se, em épocas de campanha, apareçam um bispo ou outro, um padre ou um diácono que se deixem levar pela paixão e facilitem espaços nas igrejas, ou mesmo nos prédios oficiais da CNBB, para candidatos que lhe pareçam mais indicados. São exorbitâncias. Há, embora poucos que, dominados pela ânsia dos votos, até chegam a sublevar o valor da Sagrada Comunhão e dos púlpitos, como se a sua escolha e sua opinião fossem verdade suprema, acima da Bíblia, da Sagrada Doutrina e até do direito democrático de pensar diferente deles. Os que lhes opõem, às vezes, são tratados por eles como réprobos, reacionários, alienados e outros depreciativos. Pior ainda quando fazem do altar verdadeiros palanques eleitoreiros, sem se importar com a noção de sacrilégio. Não tomemos esses irmãos ideologizados por representantes da Igreja. Não são. Mas não guardemos ressentimentos contra eles. Continuam nossos irmãos, pois nossa fé e nosso amor a Deus são muito superiores a estas situações e nossa fraternidade é muito mais preciosa que a política.

Esses comportamentos acontecem também no campo protestante e em igrejas evangélicas de coloração pentecostal, chegando a sacralizar de tal maneira alguns candidatos que parecem estar convencidos que Jesus é também eleitor de sua urna. As emoções em época de política ficam à flor da pele e, para muitos, de forma imatura e perigosa.

Quanto à CNBB, o único documento oficial sobre eleições 2018 é a Mensagem da 56º Assembleia Geral, de 17 de abril passado, que afirma, entre tantos outros princípios que é fundamental conhecer e avaliar as propostas e a vida dos candidatos, procurando identificar com clareza os interesses subjacentes a cada candidatura. A campanha eleitoral torna-se, assim, oportunidade para os candidatos revelarem seu pensamento sobre o Brasil que queremos construir.  No Regional Leste 2 (MG e ES) há Mensagem dos Bispos, publicada a 5 de junho de 2018, na Assembleia Regional, onde se pode ler: Não queremos e não vamos nos sobrepor às consciências, indicando em quem votar, mas nos comprometemos em oferecer elementos e subsídios para o necessário discernimento neste contexto eleitoral. O Evangelho, fonte inspiradora da Doutrina Social da Igreja, é o critério a partir do qual queremos pensar a política e os políticos. Daí pensaremos o Brasil e queremos construí-lo a partir do Projeto de Deus.

No discernimento, o melhor é não ser ingênuo e pensar que seu candidato seja perfeito e seu partido seja detentor da verdade suprema. Todo candidato tem algo bom e algo ruim. Em todo partido há coisas positivas e coisas negativas. É preciso examinar qual opção é a mais indicada para o País e para o Estado neste momento da história. Quanto aos programas dos partidos, é necessário verificar se não há incompatibilidade com suas convicções religiosas. Um dos aspectos nesta análise, observemos que tratamento a pessoa humana, sobretudo os mais pobres, os desempregados, os sofredores, as crianças terão. Na análise da personalidade do candidato, verifiquemos se ele tem costume de mentir para ganhar eleições, se usa de meios desonestos, de recursos enganadores. Sua vivência religiosa também deve ser examinada, verificando se é autêntica, ou se comporta de um jeito no dia a dia e na época das eleições muda seus hábitos. Ele está disposto a defender a vida contra leis abortistas e a proteger a família na educação moral e religiosa dos filhos?

A questão da violência é ponto central. Que métodos seriam mais indicados para combater a violência, de forma tal que inibam o crescimento do mal e ao mesmo tempo respeitem a dignidade da pessoa humana? Que proposta ele tem para os graves problemas da saúde? Certamente, além desses, outros pontos devem ser analisados.

Que Deus nos ilumine, que Nossa Senhora Aparecida interceda por nós, neste momento tão importante de nossa Pátria.