Rei Alberto

Por

Rei Alberto Verde, movimento e personagens pitorescos transitando entre o moderno e o tradicional comp?em o cen?rio desta rua t?o importante para a cidade


Marinella Souza
*Colabora??o
12/03/2008

Iniciar um passeio pela rua Rei Alberto ? come?ar uma pequena viagem no tempo. Uma viagem "confusa", porque o novo e o velho convivem ali em perfeita harmonia. No caminho dessa aventura urbana aparece o verde de belas ?rvores misturado ? selva de pedras dos pr?dios de constru?es modernas, dando o verdadeiro tom da rua.

Observar a paisagem da Rei Alberto ? ter a real no??o de que o progresso acontece a todo instante e o passado deixa marcas indel?veis nas pessoas. Por outro lado, uma rua essencialmente familiar, hoje tornou-se comercial, mas preserva o encanto dos dias passados a das buc?licas varandas e sacadas que ainda existem por l?.

Apesar do tr?nsito intenso, o ponto alto da rua ? a proximidade do centro da cidade, preservando relativa tranq?ilidade e o clima familiar. A pol?tica da boa vizinhan?a ainda n?o sucumbiu ? desconfian?a sistem?tica do dia-a-dia e as pessoas ainda se conhecem. Dividindo o mesmo espa?o urbano, ali n?o se tratam as pessoas por alcunhas como "a mulher do 22" ou "o filho do 105". As pessoas s?o conhecidas por seus nomes e hist?rias cotidianas compartilhadas.

Ren?e Maria Salom?o Gon?alves e suas irm?s (foto acima ao centro) residem na rua h? mais ou menos 50 anos e n?o pestanejam ao declarar seu amor ao local. Em coro, as tr?s simp?ticas senhoras suspiram: "morar aqui ? muito bom!". Nessas cinco d?cadas de devo??o ao local, o trio de senhoras relembra momentos memor?veis vividos ali. Nos idos de 1940, elas eram as verdadeiras "donas da rua". "Meus pais moravam aqui e todos os filhos e os 48 netos cresceram brincando nessas ruas. Era um tempo muito bom. Hoje a rua est? muito violentada pelo tr?nsito, mas antigamente isso daqui era muito tranq?ilo", recorda.

Quem n?o a deixa mentir ? sua sobrinha Regina Quinet Andrade, que lembra com saudade dos tempos em que podia brincar na rua. "A rua n?o tinha sa?da, ent?o, era muito tranq?ilo. A gente andava de patins, carrinho de rolim?, tinha festas juninas maravilhosas na rua. As fam?lias eram amigas, era maravilhoso!".

Regina passou toda a inf?ncia na Rei Alberto e de l? s? saiu aos 20 anos quando decidiu se casar. Hoje, continua freq?entando o logradouro para visitar as tias e a filha, que casada e com filhos, fez o movimento de volta. "Ela ? m?dica e aqui tem v?rias cl?nicas e fica num local estrat?gico para ela: ? perto do trabalho, do centro e da escola das crian?as", justifica.

Fugindo do tr?nsito

Uma das caracter?sticas ressaltadas pelas mulheres da fam?lia Salom?o ? o aspecto pr?tico da localidade. A Rei Alberto permite que as pessoas possam resolver suas quest?es corriqueiras com agilidade e sem depender do tr?nsito. Supermercados, escolas, cl?nicas m?dicas e de fisioterapia, imobili?rias, consult?rios m?dicos e at? uma rede de televis?o se hospedam na rua e no seu entorno, o que facilita a vida dos moradores.

Para Regina, essa ?, hoje, a principal caracter?stica da rua. "Aqui n?s estamos perto de um excelente supermercado, dos m?dicos, dos bancos, das melhores escolas. Podemos fazer tudo a p?, sem depender de autom?vel. O tr?nsito em Juiz de Fora est? horr?vel, nos hor?rios de pico, ent?o, nem se fala. Morando na Rei Alberto a gente evita esse desgaste".

Da varanda de sua casa, as experientes senhoras viram muita coisa acontecer, praticamente vizinhas do ex-presidente da Rep?blica Itamar Franco, elas se consideram privilegiadas por estarem t?o perto do movimento e, ao mesmo tempo, protegidas da correria fren?tica do grande centro. A Rei Alberto ? quase um ref?gio urbano.

Na modernidade dos dias atuais, constru?es mais antigas dividem a cal?ada com modernos pr?dios de vidra?as espelhadas, ambientes de trabalho movimentados e estressantes, mas n?o ? incomum cruzar com pessoas de apar?ncia leve passeando com seus animaizinhos, crian?as sorrindo e jovens entrando e saindo dos pr?dios da rua sem qualquer sinal de nervosismo. Isso tudo porque o bom humor e a cordialidade d?o o tom do cotidiano desse lugar especial.

Personagens pitorescos

Logo depois do cruzamento entre a Rei Alberto com a rua Santo Ant?nio encontram-se os personagens mais famosos da localidade. Trata-se do casal que faz da cal?ada seu escrit?rio e ali, com sorriso nos l?bios, bom humor, boa educa??o e garra, ganham o "p?o de cada dia" de forma honesta.

Quem apresenta esse pitoresco casal s?o as senhoras Salom?o. "Tem o tomador de conta da rua e a mulher dele. Eles s?o ?timos", diz Ren?e. Logo as outras duas irm?s e a sobrinha v?o montando o perfil do casal. "S?o pessoas de bem que, sem oportunidade no mercado de trabalho, aportaram na rua h? mais de uma d?cada e trabalham sem incomodar ningu?m, muito pelo contr?rio. Ela ? revendedora de produtos de beleza, ele ? flanelinha e ambos s?o muito bem quistos por quem freq?enta a rua", comentam os moradores.

Trata-se de L?cia Helena Barbosa e seu marido Paulo C?sar Avelino Coelho que tornam o dia-a-dia dessa rua ainda mais agrad?vel. Al?m de flanelinha, Paulo C?sar presta pequenos favores aos moradores, ? sol?cito, educado e n?o exige nada em troca de seus servi?os. "?s vezes, os m?dicos me perguntam quanto me devem por eu tomar conta de seus carros, eu digo que eles devem pagar o que acham justo. Tem quem n?o pague, tem quem volte para pagar e todos s?o tratados da mesma maneira depois" , diz.

Paulo conta que conhece a rua h? muito tempo, desde que prestava servi?os para uma empresa que faliu. Sem emprego, resolveu acatar a sugest?o de um dos moradores com quem conversava e tomar conta dos carros da rua a fim de evitar os furtos que aconteciam.

De l? para c?, os furtos e o uso de drogas na rua diminu?ram e os moradores atribuem essa seguran?a ? vinda do casal para a rua. Sem falsa mod?stia, L?cia acredita que eles s?o mesmo os respons?veis pela mudan?a da Rei Alberto. "Quando a gente chegou aqui, tinha muito maconheiro na rua, menino de col?gio... acho que com a gente aqui eles se intimidam, ficam com medo".

Hoje L?cia tem uma clientela fixa para seus produtos e confessa que j? tentaram tir?-la de l?. "J? me acusaram de vender CD pirata, mas eu nunca vendi nada disso. Trabalho com produtos de beleza e j? vendi lingerie tamb?m, mas hoje n?o vendo mais".

O marido diz que tamb?m j? foi v?tima de injusti?as, mas os moradores da rua fizeram um abaixo-assinado que convenceu as autoridades a deixarem o flanelinha continuar o seu trabalho junto aos moradores da Rei Alberto. "Foram reclamar de mim, mas eu consegui 680 assinaturas e agora continuo aqui".

Assim como s?o queridos pelos moradores, Paulo e L?cia retribuem o carinho, mas garantem que n?o saem da rua por nenhuma proposta do mundo. "? trabalhando aqui que consigo me manter, ajudar a criar meus netos. N?o saio daqui de jeito nenhum", diz L?cia. E Paulo acrescenta. "Temos nosso amigos aqui, as pessoas sentem falta quando n?o viemos trabalhar. Aqui ? o nosso lugar".

Quem leva o nome da rua?

Alberto I foi um rei belga que visitou o Brasil em 1922, com a rainha Elizabeth a convite do presidente Epit?cio Pessoa. O ilustre rei passou e parou na Esta??o Ferrovi?ria de Juiz de Fora, encantando os moradores. Segundo consta, era dono de uma alma generosa e bondosa, o que justifica a homenagem.

Fonte: site da PJF

*Marinella Souza ? estudante de Comunica??o Social da UFJF.