Artistas fogem de declarações políticas em reduto bolsonarista durante a Festa do Peão de Barretos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Festa do Peão de Barretos, que acontece há mais de 60 anos no interior paulista, voltou nesta semana após dois anos suspensa pela pandemia. Famosa por promover grandes shows, ela teve sua arena principal lotada e artistas mais receosos na hora de se posicionar politicamente.
No primeiro final de semana do evento, conhecido por concentrar simpatizantes ao presidente Jair Bolsonaro (PL), os sertanejos, em especial, fugiram da imprensa e das perguntas "polêmicas". Foi assim como Jorge e Mateus, que optou por não receber a imprensa na última sexta (19), e Gusttavo Lima, que fez o mesmo no sábado (20).
Esse último já foi associado a Bolsonaro algumas vezes nos últimos tempos. No início do mês, ele chegou a convidar o ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, Ciro Nogueira (Progressistas), para subir ao palco no interior do Piauí, para uma homenagem. O ministro, no entanto, acabou vaiado.
A opinião política de Gusttavo Lima pode não ser a única razão para sua fuga da imprensa. Recentemente, o cantor sertanejo teve o nome envolvido no que ficou conhecido como "CPI do Sertanejo", uma série de denúncias de que recebe valores elevados para fazer shows em cidades pequenas, mesmo criticando a Lei Rouanet e o uso do dinheiro público por colegas artistas.
Também passaram pelo palco principal nos dois dias Wesley Safadão, Pedro Sampaio e a dupla César Menotti e Fabiano, que se esquivaram de questões políticas. "Somos declaradamente brasileiros", afirmou César Menotti ao ser questionado se tinha uma posição definida para as eleições de outubro.
"O debate político tem que se manter no campo das ideias. Quando parte para o campo físico, para coisas pessoais, ele é completamente negativo", completou ele.
Já o cantor Pedro Sampaio apontou a polarização como "um problema". "Eu, assim como todo artista, quero um Brasil melhor, com condições melhores para todos. Se a educação melhorar, se a saúde melhorar, o benefício não é apenas na educação e na saúde, afeta até a forma que as pessoas escutam música."
"Esse é meu lado, minha posição" completou o músico, que preferiu não dizer qual será seu voto nas eleições. "A polarização agressiva é um problema. Quando você fala que é A, não quer dizer que odeia o B, mas acho que isso não está claro para muita gente no momento."
DO SERTANEJO AO FUNK
Apesar de ser conhecida como uma festa sertaneja, Barretos mostrou mais uma vez que quer ser um evento eclético. Se na edição de 2019 já vimos Ivete Sangalo e Alok no palco principal levando o axé e a música eletrônica, agora foi a vez do forrozeiro Wesley Safadão e do funkeiro Pedro Sampaio.
"Com certeza dá [um frio na barriga]", afirmou Sampaio. "Eu sou muito abraçado por esse público do sertanejo, do piseiro, do forró. Surpreendente, combinam com o meu som, eu faço combinar. Agora no hotel eu estava fazendo um remix de 'Tem Cabaré essa Noite', do Nattan. Isso traz o público comigo".
A Festa do Peão de Barretos acontece até o dia 28, com mais quatro palcos além da arena principal. Nos próximos dias ainda se apresentarão nomes como Maiara e Maraisa, Alok e Zé Neto e Cristiano. Bolsonaro é esperado na festa na próxima sexta-feira (26). Na última edição, cavalgou na arena lotada.