Filme sobre Eike Batista se sai bem ao mostrar carisma do empresário
FOLHAPRESS - É difícil ficar indiferente diante de "Eike - Tudo ou Nada". O longa narra a história de Eike Batista, empresário da área de mineração que rapidamente foi alçado para a lista dos dez homens mais ricos do mundo -para em seguida perder quase tudo.
A maneira de comandar o grupo EBX, com reflexos próximos aos de um jogador de pôquer, e as peculiaridades do dia a dia, como o costume de brindar com leite e não com bebidas alcoólicas, já fazem do protagonista um grande personagem.
De posse de tamanho trunfo e com clareza na estrutura narrativa, o filme maneja o suspense e conta de maneira saborosa a narrativa de ascensão e queda de Eike Batista. Não se trata de um filme estilisticamente inovador. Tampouco se deve esperar atuações impressionantes. Estamos, sim, diante de uma história rica em informações e muito bem contada.
O filme se inspira no livro-reportagem de Malu Gaspar, que era chefe da sucursal carioca da revista Exame à época em que a fortuna do empresário cresceu vertiginosamente, até somar, há dez anos, mais de US$ 30 bilhões. A jornalista também acompanhou a derrocada de seus negócios, ao longo dos anos seguintes, culminando em sua prisão, cinco anos atrás.
O recorte que a dupla de diretores e roteiristas Andradina Azevedo e Dida Andrade deram à biografia de Eike Batista privilegia os aspectos econômicos de sua trajetória. A trama dá pouco destaque, por exemplo, a seu casamento com a atriz e modelo Luma de Oliveira.
O enredo resiste, assim, à tentação de reconstituir o desfile da Tradição no sambódromo, em 1998 -quem não se lembra do nome dele grafado na coleira com que ela desfilava? O filme também não perde tempo em mostrar corridas de iate, festas e o luxo em que vivia o protagonista.
Todo o esforço narrativo se concentra na nada óbvia tarefa de tornar compreensível e, mais importante, agradável a história dos negócios de Eike Batista, do sucesso na abertura do capital de sua mineradora à decisão de investir na exploração de petróleo.
Por incrível que pareça, o filme consegue explicar como o empresário e seu séquito -conhecido como "guarda pretoriana"- surfaram após a descoberta do pré-sal, adquirindo jazidas e especulando sobre sua capacidade de produção. Ajudam, nesse ponto, recursos jornalísticos, como infográficos inscritos sobre a imagem. É um caso em que o registro televisivo é explorado de maneira proveitosa.
Interpretado por Nelson Freitas, o Eike Batista do cinema tem contornos cômicos e um carisma irresistível. Intrigado e cativado pelo discurso sedutor de um empresário tão singular, o espectador consegue entender os investidores de pequeno porte que acreditaram no empresário e adquiriram ações do grupo, quebrando a cara quando o empresário começou a perder seus poderes de Midas.
Para o público, é uma lição de capitalismo especulativo. E o prazer de uma narrativa alicerçada na bem apurada reportagem que dá origem ao filme.