Comédia com Peter Dinklage e Anne Hathaway se opõe à abertura política da Berlinale
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Com a exibição do filme "She Came to Me", de Rebecca Miller, e uma cerimônia de abertura que teve a participação virtual do presidente ucraniano Volodimir Zelenski, o festival de cinema de Berlim começou na noite desta quinta-feira (16).
Zelenski falou via conferência após o apresentador receber no palco Sean Penn, que dirigiu e apresenta na Berlinale o documentário "Superpower", a respeito da invasão da Ucrânia pela Rússia há um ano. "O cinema deveria estar fora da política? Essa é uma eterna questão, que voltou a ser extraordinariamente relevante", questionou o presidente.
"Hoje, a Ucrânia é a fortaleza, uma fortaleza que resiste há quase um ano, que protege a si mesma, à Europa e ao mundo, uma fortaleza que definitiva vai ficar de pé e vai vencer. Eu sei e eu acredito nisso. E todos vocês serão convencidos disso depois de ver o nosso 'Superpower' [ou superforça], a superforça da Ucrânia. Glória para a Ucrânia", disse.
Na parte final do evento, a atriz iraniana Golshifteh Farahani, que faz parte do júri internacional presidido por Kristen Stewart, foi ainda mais incisiva ao lembrar da situação das manifestações do povo de seu país contra o repressivo regime religioso do aiatolá Khamenei.
Os protestos, que já duram seis meses, começaram após a morte de uma jovem de 22 anos, detida por usar incorretamente o véu e morta na prisão. Mais de 500 pessoas já morreram.
"Precisamos de todos vocês", disse Farahani, que atuou em "Paterson", de 2016, de Jim Jarmusch, e "Rede de Mentiras", longa de 2008 de Ridley Scott. "Precisamos que vocês fiquem do lado certo da história, com o povo iraniano e contra o regime. Esse regime vai cair. Nós só precisamos de todos vocês."
Quanto ao filme de abertura, trata-se uma comédia de erros típica de Hollywood, com pessoas que mudam de vida ao se apaixonar e na qual todos os seus dramas são resolvidos no final e de forma satisfatória.
Conforme contou na entrevista coletiva, a diretora Rebecca Miller partiu da ideia de alguém com bloqueio criativo que encontra outra pessoa que muda sua vida. Essa pessoa é o compositor de ópera Steven, vivido por Peter Dinklage -da série "Game of Thrones"- e "She Came to Me" conta com o trunfo de tê-lo escalado para um papel de um homem comum, e não de alguém que tem nanismo.
Casado com uma terapeuta, papepl de Anne Hathaway, que tem mania de limpeza, Steven tem dificuldades de escrever sua próxima peça até que conhece e tem um caso com a capitã de um barco, vivida por Marisa Tomei. O encontro rende a ele o fim do bloqueio, mas abre todo um novo problema com relação à traição conjugal.
"Esse papel é exatamente o que eu precisava agora, porque nós, atores, muitas vezes esperamos sentados até que outros nos chamem. Quero dizer, nós não criamos sozinhos, não podemos fazer isso. Escritores escrevem, pintores pintam e músicos tocam sua música, mas nós precisamos dos outros", disse agradecendo à diretora.
Questionada se seu coração bate mais forte por filmes independentes -que não são projetos de grandes estúdios e constituem a razão de ser da maioria dos festivais de cinema, como a Berlinale-, Anne Hathaway disse que não especificamente.
"Não só por independentes. Meu coração bate por qualquer filme. Sou uma viciada em cinema, e é importante que exista de todos os tipos", afirmou a estrela.
Ao mesmo tempo em que Steven se vê às voltas com as duas mulheres, seu enteado de 18 anos namora uma colega da escola de 16. Quando o supercareta pai dela vê fotos do casal nu, resolve levar o rapaz à Justiça por estupro de menor. Nesse momento, o filme se encaminha para a franca tragédia, mas mais não é possível dizer, sob o risco de revelação do final do filme.