Michelle Yeoh, favorita no Oscar, tem torcida na China, mas sofre oposição nos EUA
TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - Início de domingo na Ásia e, no Weibo, uma das maiores redes sociais chinesas, encontravam-se mensagens nervosas como "espero ver Michelle Yeoh recebendo o prêmio", ou "parece que Michelle Yeoh será a melhor atriz no Oscar".
Na plataforma e na imprensa em chinês, tanto em Pequim como no exterior, ela é descrita mais como sino-americana --e não asiático-americana, como prefere a cobertura nos Estados Unidos.
Nascida na Malásia, é de família chinesa e se celebrizou no cinema de artes maciais de Hong Kong, em cantonês, ao lado de estrelas como Jackie Chan e Jet Li, antes de ser chamada para Hollywood.
A febre em torno da atriz no Weibo disparou em janeiro passado, ao ser premiada pela National Board of Review e pelo Globo de Ouro e ao ser indicada formalmente ao Oscar.
Na rede social chinesa, então, liam-se passagens como "provou que é mais que uma estrela de ação" e "orgulho do povo chinês em todo lugar", referência ao título do filme pelo qual concorre, "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo".
Num dos discursos de janeiro, com a voz embargada, ela havia desabafado: "Meu nome verdadeiro é Yeoh Choo Kheng. Me disseram que eu precisava de um nome ocidental, então Yeoh Choo Kheng virou Michelle Yeoh".
"Este prêmio prova que nós podemos contar as nossas próprias histórias, em nossas próprias palavras [o filme é parcialmente em cantonês e mandarim] e abraçar algo tão simples, mas tão importante, quanto nossos nomes próprios", afirmou.
Também ironizou ter sido tratada como minoria ao chegar a Hollywood e o fato de os americanos não conseguirem distinguir entre chineses, coreanos ou japoneses. Foi festejada até pelo tabloide nacionalista Global Times, de Pequim.
Depois Yeoh atenuou o tom, enfatizando que uma vitória sua seria de toda a comunidade de asiáticos.
No filme, outros atores, alguns deles também indicados a Oscar, são de família chinesa e nascidos em diferentes lugares, como Ke Huy Quan, no Vietnã, Harry Shum Jr., na Costa Rica, e James Hong, nos Estados Unidos, assim como o codiretor Daniel Kwan.
Nos próprios EUA, a recepção digital a ela não tem sido tão amável, reproduzindo um histórico que chega a ser agressivo. Sua colega Zhang Ziyi, uma década atrás, foi acusada por tabloides e mídia social de se prostituir com líderes do Partido Comunista --e deixou Hollywood, apesar de ter vencido processos.
Dias atrás, a reprodução de um artigo da Vogue pela conta de Yeoh no Instagram, defendendo sua escolha como melhor atriz por ser não branca, deu início a um questionamento pesado por redes sociais americanas e veículos como a Fox News, com pedidos públicos por sua retirada do Oscar.
Não está sozinha. Donnie Yen, que também estrelou ao seu lado em filmes de ação em Hong Kong, foi escalado para entregar uma das premiações, na cerimônia do Oscar deste domingo, e se viu alvo de uma campanha online nos EUA para ser retirado da transmissão.
Ele se popularizou, mais recentemente, por participar das séries de filmes "John Wick" e "Star Wars". O motivo dado para o pedido de seu cancelamento, na expressão usada no site de petições Change.org, já com mais de cem mil assinaturas, foi que ele criticou protestos realizados em Hong Kong, contra o governo chinês, em 2019.