'Dom Quixote', em cartaz em São Paulo, questiona o amor e o que é ser quixotesco

Por GUSTAVO ZEITEL

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Quixote e Sancho, De Portinari" é o nome de uma série de poemas, escrita por Carlos Drummond de Andrade, para o livro "As Impurezas do Branco", publicado em 1973. No livro, o poeta mineiro não homenageava apenas a obra do pintor modernista. Ele reafirmava o interesse pela figura quixotesca, correspondente imediato de seu comportamento "gauche".

"A minha casa pobre é rica de quimera", diz o primeiro verso do "Soneto da Loucura". Entre sonho e realidade, a peça "Dom Quixote", em cartaz no Teatro Renaissance, se apropria da inquietação drummondiana para examinar o que é ser quixotesco nos dias atuais.

"É ser sonhador, não ter limite, nutrir uma utopia de que as coisas são melhores do que realmente são", afirma Leonardo Brício, que vive Quixote. Ao ceticismo do tempo presente, o termo adquiriu um significado negativo. Para Brício, o sonho impede a visão da realidade, mas é também a resignação da poesia na vida cotidiana.

Escrita pelo imortal da Academia Brasileira de Letras Geraldo Carneiro, a peça reelabora algumas temáticas da obra-prima do espanhol Miguel de Cervantes nos anos 1600. Segundo livro mais lido da história e terceiro mais traduzido do mundo, "Dom Quixote" narra as desventuras do cavaleiro andante e seu parceiro Sancho Pança.

Parodiando os romances de cavalaria, Quixote imagina provações inexistentes, como a famosa luta contra moinhos de vento, que ele pensa se tratar de terríveis gigantes. Dirigida por Fernando Philibert, a peça ilumina, em uma hora, duas passagens da obra-prima de Cervantes -a luta contra os dragões e o amor de Quixote por Dulcineia, sua amada que também não existe na vida real.

"Esse personagem inspira o sonho, então o leitor quer realizar essas aventuras descritas no texto", diz Philibert. De fato, a epopeia de Cervantes prevê a ação de seus personagens, adquirindo um caráter cênico. No palco, Brício, ao falar de Rocinante, seu cavalo, incorpora o animal, vivificando o texto de Cervantes e a adaptação de Carneiro.

Vivido pelo ator e palhaço Kadu Garcia, Sancho Pança se torna uma amálgama de Quixote. "O palhaço pode tanto ir para um lugar poético ou para o mais profano, exatamente a ambiguidade vivida pelos dois personagens, entre ficção e realidade", afirma ele.

Já o amor por Dulcineia é diluído em cena, não sendo episódico, mas constituindo um enredamento dramático. O amor que não existe, senão na imaginação, adquire assim tons etéreos e irônicos, entre a realidade e a fantasia. "Dulcineia pode ser qualquer pessoa", diz Brício. "É pequeno, nos dias atuais, falar que um homem precisa de uma dama."

**DOM QUIXOTE**

Quando Até 21/5

Onde Teatro Renaissance - al. Santos, 2233, São Paulo

Preço R$ 120

Classificação Livre

Autor Geraldo Carneiro

Elenco Leonardo Brício e Kadu Garcia

Direção Fernando Philbert