SP-Arte abre sua 19ª edição em clima de euforia com retorno de Lula ao poder
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enfim, o velho normal está de volta. Nestes dias que antecedem a SP-Arte, dezenas de galerias e os principais museus paulistanos abrem mostras por toda a cidade, e já não há espaço na agenda para mais uma festa, jantar, brunch ou coquetel em torno deste ou daquele nome badalado no circuito.
A 19ª edição da feira paulistana, que ocupa o pavilhão da Bienal de São Paulo a partir desta quarta-feira (29) com cem galerias de arte e 45 de design, é a primeira desde o início da pandemia sobre a qual não há parece haver nem sombra de coronavírus.
O clima entre o público, galeristas, artistas e colecionadores lembra esta mesma época em 2019 -há um misto de expectativa com ansiedade no ar. Mas não necessariamente porque a pandemia ficou para trás.
"A conjuntura do país está diferente pós-eleições. Do ponto de vista da receptividade da feira no exterior, a gente teve uma receptividade maior --as galerias e o público querendo vir, entendendo que o Brasil está voltando a uma pauta positiva, a pautas que são importantes para o mundo", afirma Fernanda Feitosa, a diretora da SP-Arte. "Isso para a gente faz uma diferença de atmosfera."
"Toda a situação nos últimos anos acabou jogando uma sombra mais escura sobre o Brasil", acrescenta.
Se o retorno de Lula ao poder favorece a feira num panorama macro ao melhorar a imagem do Brasil lá fora, fatores específicos do mundo da arte também contam.
Feitosa lembra que o país voltou a ganhar projeção internacional com a indicação de Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp, ao posto de diretor artísitco da próxima Bienal de Veneza, a principal mostra de arte contemporânea do mundo. Ela lembra ainda o fato de algumas exposições do Museu de Arte de São Paulo estarem circulando pelos Estados Unidos.
Em termos numéricos, esta SP-Arte está um pouco maior do que a do ano passado, quando havia 133 galerias de arte e design. Há 15 galerias estrangeiras -em relação a nove de 2022-, dentre as quais as francesas Maât e Nil, que representam só artistas africanos e fazem sua primeira participação na feira.
Do Brasil, há o tradicional mix de casas poderosas como A Gentil Carioca, Luisa Strina, Gomide & Co, Mendes Wood DM, Fortes, D'Aloia & Gabriel e Vermelho, com outras menores, como Mitre, Central, Asfalto e Verve.
Vale notar o crescimento do setor de design, que recebe marchands de mobiliário e objetos e pulou de 32 estandes no ano passado para 45. Feitosa atribui o aumento ao boca a boca positivo entre os designers e à mudança dessas galerias para o térreo do pavilhão no ano passado, uma área com circulação maior de pessoas do que o terceiro andar, onde elas ficavam anteriormente.
Teo Vilela Gomes, da galeria Teo, diz que a feira ajuda a equiparar design com obra de arte e que as turmas de um mundo e de outro não estão mais tão distantes como antes. Sua galeria vai mostrar uma seleção de móveis desenvolvidos por artesãos do Liceu de Artes e Ofícios entre as décadas de 1930 e 1980, a prévia de uma exposição a ser inaugurada em abril com mais peças da escola paulistana.
Ainda no quesito móveis do passado que despertam desejo, a Etel vai levar uma mesa lateral de 1930 do modernista Gregori Warchavchik e também exemplares de uma reedição da poltrona Baixíssima, de Oscar Niemeyer.
Dos contemporâneos, Alex Rocca mostra uma série de tapeçarias feitas com sedas descartadas, e o Estúdio Guto Requena exibe sua série de vasos modelados no computador a partir da gravação de causos contados pela avó do designer.
Quem se detiver nas galerias de arte vai encontrar obras monumentais, a exemplo de um penetrável de seis metros de comprimento do venezuelano Jesús Rafael Soto, expoente da arte cinética representado pela Dan, e de um portal de Tunga de quase dois metros de altura no estande da Millan, trabalho na categoria dos mais caros da feira, avaliado em R$ 1,5 milhão.
Já a Nara Roesler exibe uma grande instalação de Lucia Koch, uma espécie de cortina com tecido impresso em degradê, o desdobramento de um trabalho que a brasileira mostrou em Paris.
Daniel Roesler, um dos sócios da galeria, concorda com a diretora da feira e diz que tem sentido, na filial deles em Nova York, o aumento da curiosidade do mundo pelo Brasil depois da eleição de Lula. Ele afirma que nem o cenário turbulento econômico, com a recente quebradeira de bancos nos Estados Unidos e os juros altos no Brasil, deve arrefecer o interesse externo pela arte local.
Neste ano, pela primeira vez desde a pandemia, a SP-Arte convidou 70 colecionadores e outros VIPs da Europa, dos Estados Unidos e da América Latina para uma agenda de visitas a exposições e ateliês em São Paulo nesta semana, com a ideia de que eles espalhem a palavra da arte do Brasil no exterior.
O público também deve esperar, como é praxe, ver na feira obras de nomes em alta no circuito. Neste ano, o bastão está com os artistas indígenas.
A Fortes D'Aloia & Gabriel mostra monotipias do yanomami Sheroanawe Hakihiiwe, exposto na Bienal de Veneza do ano passado, com preços que começam em R$ 26 mil. A Central vai pendurar nas paredes pinturas da macuxi Carmézia Emiliano, que tem mostra no Masp agora, com valor na casa dos R$ 60 mil por tela. Já Daiara Tukano, que esteve na última Bienal de São Paulo, marca presença pela Millan, com obras entre os R$ 120 mil e os R$ 350 mil.
A SP-Arte abre o calendário de feiras no país deste ano, com projeção de ser mais enxuto em 2022, dado que a ArtSampa sumiu do mapa após uma única edição.
Gisela Gueiros, galerista brasileira radicada em Nova York que estreia agora na feira com pinturas do jovem Gabriel Botta, diz que é diferente mostrar na SP-Arte e em eventos que só tiveram uma edição, como a ArtSampa e a ArPa.
"A SP-Arte é uma máquina que já está muito lubrificada. O custo [para os expositores] é mais caro, mas você sabe onde está se metendo."
**19ª SP-ARTE**
Quando qua. (29) a dom. (2); qua. e qui, das 14h às 20h; sex. e sáb., das 12h as 20h; dom., das 11h as 19h
Onde Pavilhão da Bienal - parque Ibirapuera, portão 3, São Paulo
Preço R$ 70; ingressos em www.sp-arte.com