Julia Dalavia vive ativista que descobre ser filha de torturador: 'Registro da nossa história'

Por JÚLIO BOLL

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Conhecida por viver personagens engajadas, Julia Dalavia, 25, vai acrescentar mais um tipo assim a seu currículo. Ela vive a ativista estudantil Juliana no filme "O Pastor e o Guerrilheiro", que chega aos cinemas na quinta-feira (13). No longa de José Eduardo Belmonte (de "Carcereiros"), ela descobre que o pai era um torturador durante a ditadura militar.

Para Dalavia, a produção faz uma homenagem para as pessoas que lutaram "como puderam" durante esse período. "O registro da nossa história, através da arte e do cinema, é essencial para relembrarmos tudo que nosso país já passou e das pessoas que batalharam para defender a nossa democracia", aponta À reportagem.

A trama se divide entre a década de 1970 e o começo dos anos 2000, quando o pai de Juliana comete suicídio. Na casa do pai, a jovem se depara com um livro que revela uma história que ?até então? ela desconhecia da biografia do coronel.

O registro mostra que, durante a Guerrilha do Araguaia, o militar torturou dois homens: um guerrilheiro comunista (vivido por Johnny Massaro) e seu companheiro de cela, Zaqueu (Cesar Mello), um cristão evangélico, preso por engano. Os dois combinaram um encontro na virada de 2000 para ir atrás do homem que tanto mal fez para eles.

Boa parte das cenas de Dalavia foram gravadas ao lado de Cassia Kis, que interpreta a avó de Juliana e, portanto, a mãe do militar linha dura. O nome da atriz no elenco não passa despercebido. Afinal, Cassia foi vista em um ato bolsonarista e a favor dos militares, na porta de um quartel, em novembro do ano passado.

A curiosidade sobre como era a convivência com a atriz, que causou nos bastidores de "Travessia" (Globo), é natural. Mas Dalavia prefere não entrar em polêmicas. Perguntada sobre como foi a experiência, ela evitou o assunto e ignorou a pergunta do reportagem sobre a colega.

REVOLUCIONÁRIAS

Antes da ativista estudantil do filme, a atriz também chamou a atenção recentemente como a Guta no remake de "Pantanal" (Globo). Em comum, as duas são jovens preocupadas com o futuro, apesar de cada uma ter sua intensidade e foco.

Na novela, a postura de Guta rendeu algumas críticas por parte dos internautas. Isso porque, ao mesmo tempo em que se dizia feminista, a personagem não comprava as brigas da mãe, Bruaca (Isabel Teixeira), frente à postura machista do pai, Tenório (Murilo Benício).

"Ela chega muito confusa na casa dos pais, depois de descobrir muita coisa sobre a vida dela que sempre omitiram", justifica a atriz. "O direcionamento dessa frustração e raiva cai sobre a mãe também, e ela não percebe que talvez seja quem mais precisa da sua escuta e companhia. Ela tinha muitas contradições, como todo ser humano: erra, acerta, aprende e erra de novo."

Já em "O Pastor e o Guerrilheiro", Juliana acaba se ocupando com outras causas, como a implementação do sistema de cotas nas universidades. Mesmo assim, Juliana e Guta são mulheres contemporâneas, só que em momentos completamente diferentes, na visão da intérprete.

"Juliana e Guta são jovens com ideais latentes e agem como podem para movimentar suas realidades em prol do que acreditam ser mais justo e necessário, mas se deparam com algumas contradições no caminho", avalia.

Na vida real, a atriz também costuma defender os valores em que acredita e se posiciona sempre que acha necessário. No ano passado, Dalavia revelou que "gosta de pessoas", declarando-se bissexual. Atualmente, ela vive um relacionamento com o ator João Vithor Oliveira, 27. "As pessoas têm se sentido mais confortáveis e com abertura, acho incrível. Revolucionário. O amor é revolucionário", reforça ela.