Movimentos antirracista e LGBTQIAP+ rebatem ideia de que 'humor é humor' após caso Leo Lins
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A discussão em torno da censura ao vídeo do humorista Leo Lins, em que ele faz piadas com minorias sociais, continua. Fabio Porchat, Antonio Tabet e Danilo Gentili foram alguns dos comediantes que defenderam o colega e disseram ser contra a decisão do Ministério Público, que determinou a retirada do especial de comédia "Perturbador" do YouTube.
Na quarta-feira (17), Porchat afirmou que é contra as piadas ofensivas que Leo faz, mas que, "enquanto não for crime, pode". O posicionamento dos humoristas repercutiu entre internautas e integrantes da causa antirracista e do movimento LGBTQIAP+, que afirmam não ser engraçado um conteúdo que relativiza a história do Brasil e reflete problemas históricos.
AD Junior, comunicador antirracista e apresentador do programa Trace Trends (Multishow), diz que o problema surge quando Leo usa um crime contra a humanidade --a escravidão-- como piada, e afirma acreditar que o holocausto choca mais o brasileiro em comparação à um problema com consequências ainda atuais.
"Se você é uma pessoa consciente sobre os problemas da sociedade, jamais faria essa piada. O negro continua a sofrer as consequências disso. Conteúdos com crime contra a humanidade não deveriam ser aceitáveis. Como vai ser engaçado falar sobre o desemprego e sobre 'a época que nascia com trabalho'? Não é sobre censurar, é conscientizar que essa pessoa faz piada com aquilo que nos dói todos os dias". E questiona: "Por que a dor de uns dói mais que a de outros?"
Junior afirma ainda que o humorista deveria pensar e aplicar limites ao conteúdo que oferta e que o especial reflete um problema de caráter de Leo.
"Humor não é humor, estamos no século 21, as pessoas precisam entender que não é engraçado fazer piadas com grupos étnicos. Onde está a consciência desse ser humano que consegue achar graça na realidade de pessoas pretas, que relembra a escravidão?"
O presidente da Aliança Nacional LGBTQIAP+, Toni Reis endossa a opinião de Junior e diz que o criador da piada tem que ter como parâmetro a dignidade humana.
"Humor, como qualquer forma de arte, tem que ter liberdade de criação. Essas piadas e violências se naturalizam e são vistas como normais. Quando você naturaliza a violência que esses grupos sofrem, essas pessoas se tornam objetos. Uma das táticas do nazismo foi desumanizar os judeus", afirma.
Reis complementa que, mesmo que não mate fisicamente, a fala "afia a faca". "A partir disso, um perpetuador de um ato criminoso se sente tranquilo com o que fez."