Igor Silveira canta sobre decepções amorosas no lançamento "Ferida no Olhar"
Compositor revisita suas primeiras composições com sofrência pop em novo EP
Relações amorosas deixam marcas e, quando ocorrem feridas, a presença, a lembrança da pessoa amada, que em algum momento foi importante e desejada, se torna incômoda. Assim como os sentimentos vão ganhando novos significados com o tempo, a música também incorpora outros contornos, é o que conta o cantor e compositor Igor Silveira, que lançou “Ferida no Olhar”, disponível em todas as plataformas de streaming. Igor revisita suas primeiras composições que compõem o EP: ‘O Maior Vexame do Século XXI’, seu mais recente trabalho, que terá outras faixas lançadas no segundo semestre de 2023.
“Ferida no Olhar” foi escrita em 2018 mas já é conhecida do público, uma vez que foi incorporada às apresentações ao vivo do cantor. “Eu a fiz toda pensando num arranjo que eu usaria, utilizando o pedal de looping, que tem essa estética minimalista que é o violão, voz e pedal de looping”, conta. Animada e dançante, a canção foi gravada com a equipe do Estúdio Sonidos. “Ela existe há muito tempo, mas ao mesmo tempo, foi se transformando numa coisa nova”.
O compositor adianta que o projeto inclui criações que percorrem a história dele. Os primeiros relacionamentos e laços, mas sob uma outra perspectiva. “Um Igor novo, recuperado, um pouco mais maduro para olhar para essas situações e entendê-las como parte da jornada.” A tônica desse momento na carreira do músico com uma carga melancólica, mas com traços estéticos de pop acentuados indicam a direção que norteia essa fase. “Uma bússola que está guiando o caminho para o qual eu estou seguindo neste momento. Talvez, eu esteja indo, realmente, para esse caminho e acho que ‘Ferida no Olhar’ representa um pouco dessa abertura de portas”.
Música, decepção e sofrência
Igor conta que a jornada na composição teve como elemento central a expressão do sentimento, das vivências, da maneira como se relaciona. Tudo isso, segundo ele, não se desassocia. Os primeiros amores, no Ensino Médio, são, segundo ele, uma motivação e sentido para a potência criativa de elaborar a canção. “Então, existia a vontade de criar música como uma obra e, na vontade de criar uma obra, para ter um significado, era indissociável que os sentimentos e as vivências pessoais aparecessem”.
Aparece a tendência da escrita autobiográfica. “Por mais que eu não esteja falando sobre mim exatamente, por mais que eu esteja contando uma história, eu sempre tenho ali um traço sobre algo que fez parte da minha vivência. A tradução desses sentimentos e dessas observações da vida em canção partem de uma pulsão. Uma pulsão muito necessária dentro de mim, de expressar algo que não se expressaria de outra forma, a não ser em música.”
Dividir a ‘sofrência’, como característica humana universal, é parte da poética envolvida em “Ferida no Olhar”. “ A sofrência, por si, é uma característica poética, uma temática milenar. Desde que a poesia foi inventada, desde que a escrita foi inventada, desde que a narrativa foi inventada. O ser humano fala sobre sofrer por amor, sofrer por relações. E muito dentro da cultura pop e também das influências de música brasileira, de poesia, que me criaram, que me formaram, seja na música mesmo ou pensando nos grandes poetas que eu tive contato desde a minha adolescência, o tema chamou muito a minha atenção desde o início.”
Lidar com o que escapa às expectativas que criamos é, também, segundo Igor, uma maneira de lidar e encarar o que foi vivido. “A perspectiva sobre essa característica humana, que são decepções, que, às vezes, lidamos com situações de relacionamentos que não dão certo, que nos trazem sentimentos que não são os melhores e escrever sobre isso, cantar sobre isso, me parece uma forma de poder desabafar.” Abertura que gera identificação e proximidade.
“Quando você escuta o seu cantor favorito cantar sobre uma situação que lembra um caso seu, a gente tende a ouvir com o ego e achar que aquilo foi feito para nós. Quando nós escrevemos sobre aquilo, estamos falando sobre nós, mas quando ecoa, ecoa universal. Eu acho que essa é uma conexão muito interessante por si só, porque ela é interminável”, pontua Igor.
Dividir as dores, as experiências, conforme o compositor, leva a entender as vivências de outro modo. “Todos nós vivemos e, enquanto vivemos, nós sofremos. A música, nesse sentido, funciona como uma forma de terapia coletiva, em que a gente se conecta para falar sobre as próprias dores. De alguma maneira, ela pode ser muito invasiva, se você se permite escancarar os sentimentos. Pensando no meu caso, que sou uma pessoa muito reservada, é até contraditório falar de uma maneira tão pessoal sobre situações. Mas acredito que essa identificação funciona como um espelho. Um espelho por meio do qual, de alguma maneira, a gente se conforta”, conclui.