Como a Festa do Peão de Barretos alavanca a carreira de cantores de sertanejo
BARRETOS, SP (FOLHAPRESS) - Tão logo o rodeio termina e os portões da arena se abrem, uma multidão corre para pegar os melhores lugares para assistir a shows de artistas como Zé Neto & Cristiano, Luan Santana, Ana Castela e Jorge & Mateus na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, a 423 quilômetros de São Paulo.
A cerca de 800 metros dali, com o Parque do Peão projetado por Oscar Niemeyer lotado, como no sábado (19), a cantora Cida Ajala, de Presidente Prudente, se apresentava com o músico Anselmo Ferreira para menos de 40 pessoas no palco Raízes Sertanejas, que veta o uso de instrumentos eletrônicos.
Em outro espaço, o palco Culturando recebia a mineira Aline Abreu, que dirigiu nove horas de Belo Horizonte a Barretos para se apresentar num espaço destinado a manifestações artísticas variadas, que não se limita à música sertaneja.
Distantes do glamour que a festa desperta no palco principal, com uma estrutura cenográfica custou mais de R$ 1 milhão, centenas de artistas fazem shows nesses dois palcos menores com o objetivo de divulgar seu trabalho e buscar o estrelato.
"Cheguei cansada, em cima da hora, mas graças a Deus consegui fazer. Busco estar nos palcos maiores nos próximos anos. O objetivo de todos que conhecem e veem como é grande a estrutura. Vira meta", disse Aline, que cantou pela segunda vez no Culturando canções de Shania Twain e Raul Seixas, entre outras.
"É uma oportunidade para artistas que, em regra, não têm muitas oportunidades em grandes eventos e estão começando", disse Edemilson José do Vale, o Sete, coordenador geral do Culturando.
Barretos é conhecido por potencializar carreiras artísticas. César Menotti, da dupla com Fabiano, nomeada embaixadora da festa deste ano, relembrou na sexta-feira (18) que, em 2004, ambos pegaram R$ 300 emprestados, abasteceram o carro e dirigiram até a cidade apenas com viola e violão em mãos.
"Passamos uma semana cantando onde dava, numa barraca ou noutra. Dezenove anos depois, estamos no palco principal recebendo esse título", disse Menotti. Eles sucederam o ex-peão Adriano Moraes, tricampeão do mundo e primeiro nome fora do meio artístico a ocupar o posto.
No total, a festa barretense tem cinco palcos -Estádio, Amanhecer, Raízes Sertanejas, Culturando e Camping, além dos shows que ocorrem nos espaços da feira comercial, camarotes e ranchos. Até o dia 27, só os dois primeiros palcos terão recebido mais de cem atrações.
O caso de César Menotti & Fabiano não é único. Em 2009, antes da fama, mas prestes a ver a carreira decolar, Luan Santana distribuía CDs a quem estava no rancho da assessoria de imprensa do parque, atrás dos bretes, onde os touros ficam antes e após as montarias. No ano seguinte, ele teve o show mais aguardado da festa, numa edição que contou com Mariah Carey.
O desejo de emplacar atinge inclusive artistas já consagrados entre os sertanejos. Durante show no palco Amanhecer, Sorocaba, da dupla com Fernando, disse no sábado à noite que a música que cantariam em seguida, "A Galera do Chapéu", ainda seria "o hit do Barretão".
Era comum, quando o CD era uma mídia relevante, cantores e duplas sertanejas invadirem o Parque do Peão em busca de sucesso e de atrair os olhares de empresários do sertanejo com milhares de cópias na bagagem.
Outro exemplo é o da dupla Rionegro & Solimões, que já se apresentou no início da carreira no festival Violeira Rose Abrão, de música raiz, organizado pelo grupo Os Independentes, que produzem a Festa do Peão de Barre.
Cida Ajala, que fez um bate e volta entre sua cidade e a capital nacional do rodeio, entoou clássicos como "Mercedita" e "Pagode em Brasília". Poucos assistiram à apresentação, mas ela disse ter saído do palco satisfeita. "É um lugar de divulgação, para mostrar nosso trabalho -e dá certo, tanto que estou sendo entrevistada."