Peça põe Carmen Miranda para fazer terapia após vaias no Cassino da Urca
SÃO PAULO,SP (FOLHAPRESS) - Já próximo do final de "Carmen Miranda - Pra Você Gostar de Mim", a atriz e cantora interpretada por Renata Ricci revela que seu sonho é ganhar um Oscar e fazer um filme com Clark Gable, um dos maiores galãs da Hollywood clássica. A artista saiu de cena aos 46 anos, em 1955, sem jamais ter sido indicada ao prêmio ou ter feito os filmes que desejou.
Ao longo dos anos, no entanto, Carmen Miranda entrou para a história como uma figura folclórica graças às roupas de baiana, as cores vivas e os chapéus com frutas. Era esta a imagem que Ricci tinha da cantora antes de mergulhar em pesquisas para dar vida à artista.
"Achava que ela era uma figura carnavalesca, aquela mulher com as frutas na cabeça. Não entendia direito o que fazia ela ser tão interessante para algumas pessoas" diz a atriz que, uma década depois, dá vida à pequena notável no monólogo musical em cartaz no Teatro Itália Bandeirantes, na capital paulista.
No espetáculo com texto de Guilherme Gonzalez, Ricci interpreta a cantora em um momento crucial de sua vida. Após passar um ano nos Estados Unidos e ser exportada como a maior estrela brasileira que já existiu, Carmen voltou ao Brasil para uma apresentação no Cassino da Urca.
Diz a lenda que, logo após a primeira canção, "South American Way", começaram a surgir vaias na plateia, e para sempre a história que se contou foi a de que em seu retorno ao Rio de Janeiro a artista fora vaiada. O biógrafo Ruy Castro refutou a história em "Carmen: Uma Biografia". De acordo com o autor, nunca houve uma vaia, mas, no máximo, a reação de uma plateia fria.
"Mesmo assim, você imagina ser uma artista acostumada a ser ovacionada em todas as apresentações de sua vida e de repente, nada. Foi complicado para ela", diz Ricci.
Lenda ou não, a suposta vaia é o que dita o espetáculo. Após o show no Cassino da Urca, Carmen volta a Los Angeles, onde se consulta com um psicólogo e, numa franca sessão de terapia, narra seus medos e suas dores a partir do medo de ser esquecida.
Buscando a mulher por trás do mito, o espetáculo põe na boca da cantora os anseios de uma artista que começa a ver sua estrela se apagar e, assim, inicia um processo duro e constante de trabalho que, alguns anos depois, resultaria em sua morte devido a um ataque cardíaco.
Sob a direção de Celso Correia Lopes e direção musical de Reinaldo Sanches, o espetáculo enfileira clássicos do repertório da cantora, entre eles "O Que é que a Baiana Tem?", "Camisa Listrada", "Tico-Tico no Fubá" e o samba-resposta "Disseram que Voltei Americanizada."
Para Lopes, há um processo de redescoberta da cantora a partir de um movimento de jogar luz em diferentes personagens históricas femininas. "A ideia que queremos levar ao público é a sobreposição desta mulher ao nosso tempo", diz.
"O espetáculo a apresenta em sua humanidade, fugindo das romantizações reforçadas durante todos estes anos. O desejo é que todos conheçam a mulher que abriu caminhos para novas gerações de cantoras e artistas brasileiras, mas que pagou um preço muito alto. É a história de muitas mulheres artistas ainda hoje."
"A gente sabe onde vai dar, né?", diz Ricci, que afirma estar mais interessada em mostrar o meio do caminho na vida de Carmen neste que considera ser o maior desafio de seus 15 anos de carreira.
Indicada ao Prêmio Bibi Ferreira como melhor atriz coadjuvante por seu trabalho na comédia "Ponto a Ponto", a artista enfrenta o seu primeiro monólogo musical e vê a chance de ajudar a manter viva a memória daquela que considera ser a primeira popstar da história do showbusiness. "Proporcionalmente, ela vendeu tanto quanto a Lady Gaga. Não havia quem batesse Carmen lá. Hoje ainda não tem."
CARMEN MIRANDA - PRA VOCÊ GOSTAR DE MIM
Quando Dom., às 16h. Até 29 de outubro
Onde Teatro Itália Bandeirantes - av. Ipiranga, 344, São Paulo
Classificação 12 anos
Elenco Renata Ricci
Direção Celso Correia Lopes