Livro 'De Onde Vem Essa Força' resgata a trajetória da família biológica de Milton Nascimento
Com venda prevista para 2024, a publicação de autoria de Vilma Nascimento, Jary Cardoso e João Marcos Veiga
Com venda prevista para 2024, publicação de autoria de Vilma Nascimento, Jary Cardoso e João Marcos Veiga mergulha na pesquisa que se dedica a responder o questionamento que traz como título, "De Onde Vem Essa Força".
Os hipnóticos olhos de Maria do Carmo, mãe biológica do cantor Milton Nascimento, que nos encaram com força e energia na fotografia em preto, branco e tons de cinza, viralizaram no Brasil em outubro de 2022. A imagem e a reverberação dela a partir do compartilhamento nas redes, fez com que Vilma Nascimento, prima de Milton e os jornalistas e pesquisadores Jary Cardoso e João Marcos Veiga, tivessem um vislumbre ainda maior sobre a importância do livro “De Onde Vem Essa Força”, antes da finalização da obra. Em 2023, a publicação, que reúne o resgate de informações e relatos da família foi disponibilizada para pré-venda e deve chegar às mãos do público em 2024.
“Nos chamou a atenção a repercussão da foto da mãe de Milton, que divulgamos na ocasião dos 80 anos dele. Os traços fortes, bonitos e os olhos expressivos da foto pertencente à carteira de trabalho de Maria do Carmo rodaram o Brasil, pela semelhança com o artista e força da história. É algo que nos dá alegria, de ter valido a pena trazer essa história à tona”, conta o jornalista e coautor da obra, João Marcos Veiga ao Acessa.com.
Ele explica que Vilma teve a ideia do livro há mais de uma década. Ela começou a colher os depoimentos das tias mais velhas e familiares, para registrar a trajetória e as lembranças. “Com o livro amadurecendo nos anos seguintes, consolidou-se o intuito de dar visibilidade e textura a histórias que muitas vezes se apagam no país, de famílias descendentes de pessoas escravizadas, além é claro de ampliar o conhecimento da trajetória biográfica de Milton Nascimento com isso”, pontua.
Segundo João Marcos, é possível traçar paralelos entre a família de Milton e a de muitas outras famílias brasileiras. “Essa história dos Nascimento mostra o desafio de sobrevivência de famílias descendentes de pessoas escravizadas, mantendo-se em empregos braçais e com a estrutura sobretudo da figura feminina com centro dessas famílias; mas também revela a vivacidade, redes de apoio e trocas de conhecimento que circulam entre eles numa cidade como Juiz de Fora - com o desafio de ser algo compreendido enquanto história do país também para todos nós.”
Nessa trajetória, passagens importantes da vida do músico são contadas, como os dois anos em que ele passou com a mãe biológica na casa dos patrões dela e em uma comunidade da periferia, até que Maria morreu de tuberculose, em 1944. Outra recordação narrada é uma viagem ocorrida em 1972, quando Milton vem a Juiz de Fora acompanhado de outros ícones da Música Popular Brasileira: Gonzaguinha, Joyce, os músicos Tutty Moreno e Novelli, dentre outros, que participaram de uma feijoada na casa dos parentes de Milton, com direito à música no quintal, que estão contadas no texto.
Os acontecimentos acompanham a movimentação da família pelo curso do Rio do Peixe na Zona da Mata mineira até a zona rural de Lima Duarte. Contemplam a lida da avó Maria e de seus oito filhos na primeira década do século XX. A luta pela sobrevivência segue desse território para Juiz de Fora e em parte no Rio de Janeiro, sobretudo em trabalhos domésticos.
Mas há outras faces, ainda desconhecidas do público, que ganham protagonismo na obra, como o uso de ervas curativas aos partos caseiros, da culinária aos costumes e aprendizados nas feiras, também circulam pelas páginas saberes da família, sempre acompanhada por trilha sonora.
Para além da figura lendária de Milton Nascimento, segundo João Marcos, o livro ilustra um olhar voltado para uma família marcada pela alegria, laços de união e histórias de superação, com pessoas espalhadas por todo o Brasil, algumas delas artistas também. “É uma família que honra a música "Raça", de Milton e Fernando Brant, quando evocam os negros que enchem a casa de alegria”.
A obra tem previsão de lançamentos presenciais a partir de 2024 nas cidades de Belo Horizonte, Juiz de Fora, Lima Duarte, Três Pontas, Alfenas e Salvador, com a presença dos autores e performances musicais. Informações sobre a publicação estão disponíveis no site da editora Letramento.