Humor restrito ou falta de conhecimento do tema?
Humor restrito ou falta de conhecimento do tema?
Se você conhece superficialmente as problemáticas que envolvem o conflito árabe-israelense, provavelmente não achará tanta graça em Santa Paciência. Se você desconhece o tema profundamente, não achará graça de forma alguma, porque ele não é do tipo que contextualiza ou apresenta o tema. É possível perceber que, em muitos momentos, ele soa como uma grande compilação de "piadas internas", onde só conhecedores do assunto podem desfrutar de seu humor.
Santa Paciência narra a história de Mahmud (Omid Djalili), um muçulmano que descobre, após a morte de sua mãe, que fora adotado enquanto bebê. Tentando saber um pouco mais de sua origem, Mahmud descobre que, na verdade, nasceu numa família judia e, portanto, pertence ao universo oposto ao qual sempre imaginou integrar.
A introspecção temática do filme não chega a fechá-lo para o público totalmente porque ele usa muito da ironia do humor inglês, razoável, nesse caso, para sustentá-lo parcialmente. O fato mais irritante é que, em alguns momentos, o espectador comum é jogado para escanteio. Essa falta de envolvimento acaba dotando Santa Paciência de um tom, por vezes, alienante.
Se por um lado nos irritamos um pouco por não "pertencer ao clube", por outro podemos admirar a ousadia e o apuro das piadas. Elas não se apegam a clichês populares no intuito de arrancar uma risada a qualquer custo e isto é um diferencial diante das comédias contemporâneas. Diferentemente das demais, ela não recorre à escatologia e nem à sexualidade como forma de fazer piada. Ela vai na contramão da tendência atual: usa de um humor fino e inteligente, sem deixar o tom cômico pastelão totalmente de lado.
Mesmo girando em torno de questões religiosas, devemos ter em mente que Santa Paciência não pretende discutir a fundo essas questões. De forma alguma ele tenta privilegiar uma religião ou pregar alguma crença – apesar do desfecho moralista. O que ele faz é colocar a diferença entre árabes e israelenses num patamar oposto à realidade conflitiva que paira sobre ambas as culturas no contexto real. Através dessa transposição, às avessas, da realidade, ele desmitifica o fato de que membros de religiões opostas possam se dar bem. É mais ou menos como esclarecer o fato de que nem todo árabe é terrorista, nem todo brasileiro é malandro, que francês não toma banho, etc.
Apesar de ganhar muitos pontos pela ousadia na seleção das piadas e muitos outros pelo que acabamos de citar, o roteiro vem para derrubar mais uma vez Santa Paciência. Se opondo ao refinamento temático, está a superficialidade das tramas paralelas à principal, dada, fundamentalmente, pela escolha de um elenco fraco e pelas histórias rasas. O casamento atravancado de seu filho, o ditador fundamentalista e a busca de Mahmud pelo pai judeu são inconsistentes e têm soluções demasiadamente óbvias.
No fim, fica difícil definir se Santa Paciência conquista ou decepciona. Ao tratar de um assunto delicado, acabou faltando um feeling no sentido de até onde ir, transformando uma comédia que promete muito em apenas simpática.
Ficha Técnica
Santa Paciência / The InfidelInglaterra, EUA , 2010 - 105 min.
Comédia
Direção: Josh Appignanesi
Roteiro: David Baddiel
Elenco: Omid Djalili, Richard Schiff, Amit Shah, Archie Panjabi, Matt Lucas, Miranda Hart, Yigal Naor
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Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos.