21 de mavão: Dia Contra a Discriminação Racial
Dia Contra a Discriminação Racial Ativistas do movimento negro de Juiz de Fora comentam sobre a importância de se discutir a igualdade racial e opinam sobre o preconceito na cidade
Repórter
21/03/2007
Nesta quarta-feira, dia 21 de março, o mundo todo comemora o Dia Contra a Discriminação Racial. Ativistas de Juiz de Fora prometem não deixar a data passar em branco e reafirmam a importância de se discutir a igualdade entre as raças.
Todos os entrevistados foram unânimes em dizer que em na cidade tem-se a impressão que o preconceito é bem aceito, e que grandes questões só acontecem na África, por exemplo, mas que é preciso "acordar" para a realidade e aceitar que coisas horríveis acontecem com a classe negra aqui também. Mais perto do que as pessoas possam imaginar.
"Aqui também não se dá emprego porque a pessoa é negra, aqui se desconfia do negro andando a noite sozinho, aqui os PMs dão 'batida' em mais negros que brancos. Tudo acontece. E é por isso que o movimento negro trabalha tanto e tem tanta coisa para se preocupar"
, analisa José Geraldo Azarias, mais conhecido como Zaca (foto abaixo), e coordenador do Centro de Referência da Cultura Negra (Cerne), de Juiz de Fora.
Para o ativista do movimento negro local, o dia é muito importante a partir o momento que serve para a reflexão da questão que é "de todos, e não de um segmento da sociedade"
.
"O movimento negro sofre com a velha história do 'o problema não é meu'"
, complementa.
A juizforana, que é mestre em etno-história pela Universidade Estadual de São Paulo, Rita Félix (foto) e também autora do livro "O negro: sobrevivência, conflitos e movimento" concorda com o ativista. Para ela, o Dia Contra a Discriminação é importante na medida que amplia o debate e pode lembrar os juizforanos que essa é uma questão de toda a sociedade.
Rita afirma que já passou da hora dessa situação ser revertida, já que em todos os períodos históricos da história do Brasil é possível perceber uma desigualdade muito grande entre as duas etnias. Só que, segundo a historiadora, a diferença principal está em como os negros "reagiam" a determinadas situações.
"No período da escravidão, o racismo era legitimado pelo sistema: o sistema escravizava e o escravo nunca foi tratado de igual para igual. Porém, a gente via um posicionamento diferente dos negros, eles não foram omissos e apáticos diante da sua problemática. O escravo sempre fazia algo para tentar mudar a situação que lhe era imposta"
, enfatiza.
Para Rita, a conclusão que se pode chegar nesse dia 21 de março é que a luta só vai ser concretizada quando todos resolverem abraçar a causa, porque segundo a pesquisadora, no Brasil, assim como em Juiz de Fora, o preconceito não é camuflado: é escancarado mesmo.
"É só você transitar por instituições e locais onde ficam as pessoas mais privilegiadas para a gente procurar onde é que estão os negros. Vê se eles estão trabalhando como serviçal ou se estão sendo subalternos. Vá até um restaurante de classe. Muitos só tem negros na cozinha, porque nem garçons negros muitos restaurantes querem ter"
, resume Rita.
"É triste a gente pensar que precisa botar no calendário algo que teria que ser encarado naturalmente, que é um direito de todos, indiscutivelmente. As pessoas deveriam pensar nisso todos os dias e ter a igualdade em mente sempre"
, comenta.