Educa??o ao alcance de todos
Escolas e universidades federais s?o obrigadas a contratar
tradutores de libras para surdos, a partir do pr?ximo m?s
Rep?rter
23/11/2006
A partir do dia 23 de dezembro, todos os col?gios e universidades federais do pa?s est?o obrigados a contratar int?rpretes da L?ngua dos Sinais para que os estudantes surdos possam acompanhar as aulas. Ao mesmo tempo, todas as universidades - p?blicas e particulares - ter?o de incluir aulas de Libras (sigla de L?ngua Brasileira de Sinais) nos cursos de forma??o de professores - como Letras, Matem?tica e Hist?ria, por exemplo - e no curso de fonoaudiologia.
Em Juiz de Fora, a situa??o n?o ? diferente: a cidade classificada como universit?ria tamb?m vai ter que se adequar ?s novas regras inclusivas da educa??o. Mas o fato ? que, pelo menos por enquanto, algumas faculdades particulares e tamb?m a Universidade Federal de Juiz de Fora(UFJF) acreditam na id?ia e nos seus benef?cios, mas ainda est?o um pouco perdidos com o seu cumprimento.
A inclus?o do curso de libras na forma??o dos professores pode acontecer de forma gradual. Em no m?ximo tr?s anos, as institui?es de ensino devem ter 20% dos seus cursos regularizados, e em no m?ximo dez anos, 100%. Na UFJF, por exemplo, 20% da forma??o de professores s?o representados por tr?s cursos, o que, de acordo com o pr?-reitor de gradua??o da UFJF, Eduardo Magrone, ? plenamente poss?vel de ser realizado. J? a oferta de int?pretes para as salas de aula, ? imediata e, de acordo com a Lei, deve ser implantada em sua totalidade. E ? exatamente nesse ponto que muitas vari?veis aparecem.
Uma das quest?es destacadas por Eduardo Magrone, da UFJF, est? no "pagamento da conta" da nova determina??o. Segundo o pr?-reitor, ao discutir esse assunto ? preciso lembrar da "eterna quest?o do nosso pa?s". O or?amento demandado para esse tipo de mudan?a, mesmo com o aproveitamento do quadros do funcionalismo da pr?pria universidade (tend?ncia confirmada para a UFJF por Magrone) precisa ser pensado. Segundo Magrone, pelo menos por enquanto, esse assunto n?o foi debatido em profundidade na UFJF e nenhum pedido de or?amento foi encaminhado ao Minist?rio da Educa??o (MEC).
A informa??o oficial vinda da Associa??o Nacional dos dos Dirigentes das Institui?es Federais de Ensino Superior (Andifes) ? a de que algumas universidades, como por exemplo a UNB, Unicamp, Usp e UFF j? solicitaram ao MEC as autoriza?es para contratar tradutores. Ainda n?o h? resposta do MEC, porque o Minist?rio espera quantificar esses pedidos. Mas j? se sabe, por exemplo, que o MEC vai aplicar em janeiro o primeiro exame oficial de profici?ncia em Libras do pa?s. Esse certificado poder? ser um dos requisitos exigidos pelos col?gios e pelas universidades federais para contratarem os int?rpretes.
Para o pr?-reitor de gradua??o, essa lei faz parte de um contexto maior de inclus?o, e ? muito bem vista pela universidade. A "falta de pressa" para resolver essa pend?ncias na adequa??o inclusiva, ?, segundo ele, uma esp?cie de reflexo da situa??o do ensino da universidade. Magrone destacou que a "UFJF n?o tem uma massa cr?tica de alunos com defici?ncia auditiva, e que pelo menos, pelo que sabe, n?o possui nenhum aluno com necessidade de um int?rprete".
No entanto, pelo menos no discurso do governo federal, ? exatamente nessa quest?o que est? a diferen?a da aprova??o da lei. A Lei de Diretrizes B?sicas da Educa??o (LDB) j? dispunha do direito do aluno com defici?ncia auditiva de ter um int?rprete na sala de aula. A diferen?a, ? que esse aluno, teria que requerer o seu direito. Com a regra que passa a valer, a partir de 23 de dezembro, as universidades passam a ser obrigadas e terem seus int?rpretes dispon?veis, antes que os alunos com limita?es cheguem as salas de aula. Exatamente para que esse detalhe n?o seja um impedimento no acesso a educa??o.
Magrone concorda, mas acha que "a inten??o do governo ? menos punir e mais criar uma cultura inclusiva nas institui?es". Respondendo pela Universidade Federal de Juiz de Fora, o pr?-reitor diz que espera que ao longo com o tempo possa se contabilizar os avan?os da Federal com rela??o ao tema.
Algumas institui?es privadas da cidade, tamb?m ainda n?o possuem defini??o total do que v?o fazer nos pr?ximos dias. Muitas fizeram quest?o de destacar que j? possuem algumas turmas com alunos acompanhados por int?rpretes. O que ? verdade. Mas a quest?o da adequa??o ? nova lei, ainda ? assunto pendente.
Educa??o inclusiva
Os n?meros ilustram as justificativas de pesquisadores e pessoas com defici?ncia para a necessidade da educa??o inclusiva. O Departamento da Pessoa Portadora de Defici?ncia da Prefeitura de Juiz de Fora n?o soube precisar o n?mero de surdos na cidade, mas com rela??o ?s defici?ncias variadas sabe-se que esse n?mero chega a 14,5%. O pa?s tem, de acordo com o Censo 2000, cerca de 5,7 milh?es de pessoas com defici?ncia auditiva, o que corresponde a 3% da popula??o. O n?mero inclui as pessoas que nasceram surdas e as que perderam a audi??o ao longo da vida.Segundo o Minist?rio da Educa??o, existem 66.261 alunos surdos da educa??o infantil ao ensino m?dio - 0,12% do total. No ensino superior, 974 - 0,02%. A diferen?a nos percentuais mostra a dificuldade para chegar a universidade.
No passado, a tend?ncia das escolas, tanto as regulares como as voltadas para os surdos, era "oralizar" os alunos, isto ?, fazer com que aprendessem a falar e a ler os l?bios. O conceito come?ou a mudar no in?cio dos anos 90, quando se chegou ? conclus?o de que nem todos tinham aptid?o para a "oralidade". A L?ngua dos Sinais passou a ser permitida.
Irene Mendes, m?e de Rodrigo e Raquel, ambos com defici?ncia auditiva, concorda com os nos rumos da educa??o. Ela comenta, que pelas suas experi?ncias pessoais, pode afirmar que h? grande perda de comunica??o na leitura labial e que muitas vezes, as pessoas com algum tipo de defici?ncia auditiva passava por incapaz, sem intelig?ncia, s? porque n?o conseguia se comunicar bem.
A filha mais nova de dona Irene est? passando pela experi?ncia da L?ngua de Sinais dentro da sala de aula.
Raquel est? no primeiro per?odo do curso de pedagogia e conta com a interprete do seu lado. "Fico feliz com a nova oportunidade
que a nova lei garante. Meus filhos est?o ou conclu?ram uma faculdade, mas h? muitos que desistem pelo meio do
caminho"
, comenta. A filha de dona Irene contou com a interpreta??o da l?ngua para resolver a prova do vestibular e garantir a sua vaga na institui??o que estuda.
Como exemplificou o int?rprete, na Libras, cada palavra ? "dita" por meio de um sinal pr?prio com as m?os. "Obrigado", por exemplo, lembra uma contin?ncia militar. "Deus" ? representado pelo dedo indicador apontado para cima. As palavras s? s?o ditas letra por letra quando n?o t?m um sinal espec?fico, como os nomes de pessoas.
A libras tamb?m s?o importantes para a interpreta?es de palavras abstratas para os surdos. Para eles, ? dif?cil entender o que ? uma nota vermelha por exemplo, j? que o significado de "vermelho", como "baixo", foi algo que a intera??o entre as pessoas criou.
Mercado em ascens?o
Todos os entrevistados foram un?nimes em afirmar que a cidade possui poucos profissionais capacitados para ocupar as vagas que devem ser criadas a partir j? do pr?ximo m?s nas faculdades e escolas federais.
Em Juiz de Fora, h? dois "cursinhos" para quem quer aprender a l?ngua de sinais. Todos com cursos que se estendem por meses ou anos, de acordo com a vontade de aprofundamento do aluno. Vale lembrar, que quem sabe portugu?s e aprende a libras, passa a ser classificado como bil?ng?e.
No dia 27 de outubro deste ano, come?ou o primeiro curso superior para forma??o de professores da l?ngua de sinais. Ser? como os demais cursos de Letras, com a diferen?a de que, em vez de se habilitar em portugu?s ou ingl?s, o estudante se especializar? em Libras. O curso ? coordenado pela Universidade Federal de Santa Catarina e ministrado, pela internet, em outras oito faculdades p?blicas.
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