Novas configurações familiares aumentam tendência de avós cuidadoras de netos Além disso, o envelhecimento da população faz com que haja um fenômeno denominado verticalização das famílias, que possibilita mais contato entre as gerações

Aline Furtado
Repórter
26/3/2011
Avós e netos

"Cada vez mais, as avós estão ocupando o posto de cuidadoras de seus netos." Esta é uma das conclusões da pesquisa desenvolvida pela psicóloga juiz-forana, Anna Paula Gomes da Silva, em sua dissertação de mestrado, defendida em dezembro do ano passado.

Uma das explicações para a tendência, que vem sendo percebida desde meados dos anos 80, segundo Anna Paula, são as novas configurações familiares, que, às vezes, acabam fazendo com que haja um aumento do número de idosas, assumindo a posição de chefes de família.

"A desestrutura familiar, que, muitas vezes, ocorre devido à separação do casal, assim como a impossibilidade dos pais de gerar cuidados com os filhos — seja devido ao trabalho, ao adoecimento, às dificuldades financeiras ou ao uso de drogas, por exemplo — faz com que as avós assumam a responsabilidade de cuidar dos netos."

Além da mudança na estrutura da família, o envelhecimento da população, provocado pela longevidade, acaba por proporcionar a verticalização familiar. "Com isso, a integração é maior, visto que existem dois tipos de convivência, a intergeracional e a multigeracional." Para ela, este é um ponto que precisa ser incorporado pela escola, ou seja, o contato entre as gerações deve ser estimulado, devido aos ganhos que ele representa.

De acordo com a especialista, o primeiro motivo apontado por avós que assumem este tipo de responsabilidade não é o amor aos netos, mas o fato de os pais das crianças trabalharem fora. A relação entre avós e netos remete a estudos da geratividade, propostos pelo psicanalista Erik Erickson nos anos 60. O conceito propõe uma reação à estagnação, destacando a tendência de pessoas maduras cuidarem das próximas gerações, por meio de comportamentos de liderança.

A pesquisa

A psicóloga conta que, por trabalhar em uma escola, acabou verificando que muitas das solicitações referentes ao acompanhamento escolar das crianças e dos jovens eram feitas pelas avós, um dos motivos da escolha do estudo. Após elaborar aproximadamente 400 convites, encaminhados às residências por meio dos alunos, Anna Paula obteve resposta de 75 avós que se consideravam cuidadoras dos netos. "Destas, selecionamos setenta e realizamos o trabalho de pesquisa."

Entre os parâmetros que auxiliaram na definição do grupo escolhido estão o período de tempo de dedicação aos netos, além dos cuidados em si, que devem abranger desde os básicos, como dar banho e alimentação, até os cuidados instrumentais, como a participação na vida escolar, e os cuidados psicológicos, além da proximidade geográfica com os netos.

Do total de avós com idade acima dos 60 anos, 67% foram consideradas auxiliares, não se enquadrando em todos os parâmetros previamente definidos, enquanto outras 32,7%, foram consideradas cuidadoras. Durante a coleta de dados, Anna Paula constatou que, quanto mais idosas forem as mulheres cuidadoras, maiores são os cuidados e a responsabilidade. Uma das explicações seria o fato de as avós com mais idade terem mais tempo para se dedicar aos netos.

Outra característica observada por Anna Paula é que as avós maternas assumem mais a posição de cuidadoras do que as avós paternas. "Isso porque, antropologicamente, existe uma tendência de as filhas se reportarem mais às mães dos que às sogras. Estas auxiliam, quase na maioria das vezes, por meio de ligações telefônicas."

Impactos

Entre as avós que contribuíram com a pesquisa, a maioria apontou a transmissão de vivência e ensinamentos como o principal impacto na relação com os netos. "Curioso é que elas acreditam que educar estas crianças e jovens não é de sua responsabilidade, e sim dos próprios pais. Assim, acaba ocorrendo uma lacuna, visto que os jovens carecem, mas os pais são ausentes. Mas estas avós preenchem este espaço sem que percebam."

Por outro lado, a responsabilidade com os netos acaba por conferir movimento às avós, que são um símbolo de autoridade, por guardarem a memória de outros tempos. "Assim, este valor simbólico é resgatado, o que auxilia no processo de entendimento de perdas." De acordo com a psicóloga, a ligação proporciona, ainda, mais atenção por parte dos netos, a respeito do próprio envelhecimento. "E a probabilidade é que as avós acompanhem seus netos até a fase adulta."

Outros pontos que merecem destaque são a minimização de perdas e o aumento da liberdade, que são gerados pelo contato com os mais novos. "Ainda que existam limites, como é o caso da disposição física diferente entre os mais jovens e os mais velhos, o contato é apontado por elas como algo encantador, o que pode ser explicado pelo fato de as avós serem mais permissivas que os pais." Já para os pais, o principal impacto é a troca de papéis, que não chega a ser uma preocupação, porque os afazeres passam a ser desenvolvidos por pessoas de confiança.

E os avôs?

Segundo a psicóloga, a participação dos avôs é menor e pode ser explicada pela feminização da velhice, que aponta que as mulheres apresentam maior qualidade de vida, quando chegam à terceira idade. "Além disso, estudos mostram que os homens morrem mais cedo que as mulheres." Contudo, ela destaca que o avô precisa ser inserido nesta dinâmica.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken


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