Dólar sobe quase 1% e vai a R$ 5,14, com política fiscal e recessão no radar do mercado
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em alta desde o início da sessão, o dólar passou a avançar com mais força frente ao real ainda pela manhã nesta terça-feira (16), encerrando os negócios com valorização próxima de 1%.
A moeda americana fechou o dia em alta de 0,94%, cotada a R$ 5,1400 para venda.
O risco de uma recessão econômica global no exterior, e as incertezas sobre o cenário político com a aproximação das eleições no Brasil, contribuíram para o sentimento de cautela entre os agentes de mercado.
Sondagem do Bank of America referente a agosto divulgada nesta terça-feira mostrou que os gestores de fundos da América Latina estão mais preocupados com os planos para a política fiscal brasileira após as eleições, e um número maior deles espera que o mercado financeiro reaja aos resultados das pesquisas de intenção de voto até as eleições.
Cerca de 75% dos respondentes afirmaram esperar repercussão nos ativos financeiros dos números das pesquisas eleitorais, contra menos de 70% no relatório de julho.
Ao mesmo tempo, mais de 60% se disseram preocupados com as políticas fiscais pós-eleição, ante menos de 40% na edição anterior da sondagem.
Em relação ao câmbio, a maioria espera o dólar entre R$ 4,81 e R$ 5,40 ao término deste ano. A abertura dos dados mostra que mais de 45% dos pesquisados projeta dólar entre R$ 4,81 e R$ 5,10, enquanto cerca de 40% veem a taxa entre R$ 5,11 e R$ 5,40.
O cenário global também pesou para a nova valorização do dólar, com os investidores atentos ao risco de desaceleração da economia, seja pelo aumento dos juros em curso nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), ou pela política de covid zero na China.
Neste cenário, os preços do petróleo caíram cerca de 3% nesta terça, para o menor nível desde antes da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Os contratos futuros de petróleo Brent caíram US$ 2,76, ou cerca de 3%, para US$ 92,34 por barril. O contrato atingiu o menor patamar da sessão em US$ 91,71 por barril, a mínima desde 18 de fevereiro.
Nas Bolsas americanas, a sessão foi marcada pela forte volatilidade, com os principais índices acionários encerrando os negócios sem uma clara tendência definida.
O Nasdaq, com maior concentração de ações de tecnologia, fechou em leve queda de 0,19%. Já os índices S&P 500 e Dow Jones terminaram em alta de 0,19% e 0,71%, respectivamente, impulsionados por empresas do varejo, como o Walmart, que viu as ações subirem cerca de 5%.
O Walmart informou nesta terça que elevou sua projeção de lucro anual, revertendo parcialmente um corte robusto feito há menos de um mês, uma vez que os descontos para liberação de estoques e preços mais baixos de combustível ajudaram à varejista a vender mais do que o mercado esperava.
O Walmart espera agora que seu lucro por ação ajustado no ano fiscal atual caia de 9% a 11%.
No mês passado, a maior varejista dos Estados Unidos assustou os mercados em todo o mundo quando estimou uma queda de 11% a 13% ?a projeção anterior era de recuo de 1%? e alertou que os consumidores estavam reduzindo as compras discricionárias em um ritmo muito maior do que o temido.
Na Ásia, as principais Bolsas fecharam em queda, com recuo de 1,05% do Hang Seng, de Hong Kong, e de 0,19% do CSI 300, da China.
A rigorosa política de Pequim para combater a Covid é apontada como a principal causa para a perda de fôlego da atividade industrial em julho, além de uma persistente crise no setor imobiliário do país.
BOLSA LOCAL AVANÇA AO MAIOR PATAMAR DESDE ABRIL
Na Bolsa brasileira, o índice Ibovespa oscilou entre altas e baixas ao longo de toda a sessão, mas terminou o dia com ganhos de 0,43%, aos 113.512 pontos, no maior patamar de fechamento desde 20 de abril (114.343 pontos).
Entre os papéis que contribuíram pata a alta do índice, destaque para as exportadoras de commodities.
As ações da Vale tiveram alta de 2,42%, enquanto os papéis ordinários da Petrobras avançaram 1,15%, e os preferenciais, 0,91%, após a petroleira ter anunciado na véspera uma nova redução no preço da gasolina.
Em nota divulgada logo após o anúncio da Petrobras, a Ativa Research avaliou que o movimento de redução dos preços é condizente com o de queda das cotações de petróleo e do câmbio verificados ao longo das últimas semanas.
"Ainda que, segundo nossos cômputos, não víamos espaço para uma redução deste tamanho [no preço da gasolina], acreditamos que o mercado não contestará a decisão da petrolífera", afirmou.
Para o banco Goldman Sachs, a Petrobras passará a vender gasolina abaixo da paridade internacional após o corte, mas ponderam que as margens da empresa com o combustível permanecem superiores à média de 2021.
"Isso nos leva a acreditar que as margens de refino consolidadas da Petrobras se mantêm em um nível saudável", afirmaram os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins.
Os grandes bancos, com peso relevante no mercado local, e que reportaram um aumento de 20,5% no lucro no segundo trimestre, também contribuíram com os ganhos para o Ibovespa. As ações do Bradesco avançaram 1,44%, enquanto as do Itaú subiram 1%.
Já entre as maiores quedas do dia, as ações da Yduqs recuaram 11,76%, após a empresa reportar na véspera prejuízo de R$ 63,3 milhões no segundo trimestre, revertendo o resultado positivo de R$ 116,5 milhões obtido no mesmo período de 2021.
NUBANK E INTER DISPARAM NAS BOLSAS AMERICANAS
Com ações negociadas no mercado americano, os papéis de Nubank e Inter dispararam 17,7% e 10,4%, respectivamente, após os dois bancos digitais reportarem resultado trimestral, mesmo com analistas chamando a atenção para a deterioração na qualidade do crédito.
O Nubank reportou um salto de 230% na receita total, para US$ 1,2 bilhão no segundo trimestre, quando registrou lucro líquido ajustado de 17 milhões de dólares. O banco também nomeou Youssef Lahrech como presidente, mas o fundador David Vélez segue como presidente-executivo (CEO).
Analistas do Citi observaram que, em termos das principais métricas, foi um "trimestre sólido" para o Nubank, com destaque para o desempenho da receita. Eles, contudo, avaliam que o investidor pode continuar tendo dúvidas sobre originações de empréstimos pessoais e inadimplências, entre outros.
O Itaú BBA também destacou o comportamento da receita, mas observou sinais relevantes de deterioração da qualidade do crédito e desafios para o crescimento de empréstimo pessoal.
O Inter, por sua vez, teve lucro líquido de R$ 16 milhões no segundo trimestre, com a receita líquida de serviços avançando 91%, para R$ 316 milhões.
O UBS BB disse que o banco entregou um resultado com lucro modesto e tendências operacionais divergentes, com expansão decente da receita, mas deterioração da qualidade dos ativos.
Os analistas do Citi afirmaram acreditar que o forte crescimento da carteira de cartões de crédito deve continuar levando a uma maior inadimplência e, consequentemente, maior custo de risco, postergando uma potencial melhora na rentabilidade do banco.