BB ainda avalia se vai oferecer consignado para beneficiários do Auxílio Brasil

Por LUCAS BOMBANA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do BB (Banco do Brasil), Fausto Ribeiro, afirmou que o banco público ainda não decidiu se irá oferecer o crédito consignado aos beneficiários do programa social Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família).

"Estamos, em conjunto com a Caixa, fazendo uma análise sobre a questão da forma, de como isso vai ser implementado, da forma de consignação, os prazos, as condições financeiras, e em breve vamos ter um posicionamento em relação a esse tema", afirmou Ribeiro nesta quinta-feira (11), durante conversa com jornalistas para comentar os resultados do banco no segundo trimestre de 2022.

Ribeiro também afirmou que o banco "seguramente" vai entrar no empréstimo consignado para o público do BPC (Benefício de Prestação Continuada). Esse benefício é concedido para idosos a partir de 65 anos e pessoas com deficiência com rendimento de até um quarto do salário mínimo por pessoa da família.

Quanto ao crédito para o público do Auxílio Brasil, Ribeiro afirmou que o posicionamento adotado será "extremamente técnico", e que o banco não recebeu qualquer pedido para ingressar nessa linha de crédito.

"Estamos, como um banco de mercado, buscando alternativas. E se a gente achar que deve entrar, porque a linha oferece condições satisfatórias, para que a gente tenha segurança na questão de risco e boa condição financeira, seguramente nós ingressaremos", disse Ribeiro.

Bancos privados como Bradesco e Itaú afirmaram, nos últimos dias, que não vão oferecer o crédito consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil, por entenderem que se trata de uma operação que não é condizente com o perfil dos potenciais tomadores do crédito.

Sobre o apelo feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) durante encontro com os bancos na Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para que reduzam ao máximo possível os juros cobrados na linha do crédito consignado para o BPC, o presidente do BB afirmou que a questão também ainda está em fase de avaliação.

"[O presidente] pediu para todos os bancos olharem para esse público, que é um pouco mais vulnerável, dependente desses recursos. Ele não entrou em méritos específicos sobre qual seria a taxa, só pediu aos bancos que levassem em consideração a vulnerabilidade desse público e ofertem taxas realmente condizentes com o que cabe no bolso desse pessoal", afirmou Ribeiro.

"A prestação tem que caber no bolso para fazer sentido, mas também, por outro lado, tem que trazer um retorno adequado aos acionistas, e essa posição que vai ser levada em consideração."

INADIMPLÊNCIA DEVE SEGUIR EM ALTA NOS PRÓXIMOS TRIMESTRES

Em linha com a sinalização transmitida pelos pares privados, o BB também afirmou que a inadimplência deve seguir em alta durante os próximos trimestres, em especial no caso das pessoas físicas.

"A gente vê o cenário de inadimplência subindo, não só a nossa carteira, mas o mercado como um todo", afirmou Ricardo Forni, vice-presidente de gestão financeira do BB.

"Não acreditamos que a inadimplência vai alcançar ainda neste ano os níveis anteriores à pandemia, mas vai haver um aumento", assinalou Forni, acrescentando que o movimento vem na esteira de um mix da carteira de crédito mais voltado para linha de maior risco e retorno, como cartão de crédito e empréstimo pessoal.

A taxa de inadimplência acima de 90 dias, por sua vez, passou para 2% no segundo trimestre, contra 1,86% em junho de 2021 e 1,89% em março deste ano. Em março de 2020, a taxa de inadimplência do BB estava em 3,20%.

"Em todas as linhas de crédito onde já vimos a inadimplência aumentar, um pouco acima do ritmo que esperávamos, já tem muita ação de risco de crédito visando um controle adequado e uma evolução saudável da carteira", afirmou o vice-presidente do BB.

Durante a coletiva nesta sexta, o banco também anunciou que está em discussões iniciais para fechar um acordo com o UBS (banco de investimento suíço) para prestar assessoria financeira aos clientes do banco com elevado patrimônio no exterior.

"A BB Securities assinou carta de intenções não vinculante com o UBS para aprofundar as discussões sobre potencial acordo comercial de prestação de serviço de gestão de patrimônio offshore e expertise em investimentos para clientes Private", afirmou Ribeiro.

AÇÕES DO BB DISPARAM NA BOLSA APÓS BALANÇO

As ações do Banco do Brasil operam em forte alta na Bolsa de Valores nesta sexta, com o mercado recebendo de maneira bastante positiva os números referentes ao segundo trimestre.

Por volta das 12h50, os papéis do banco marcavam valorização de 5,3%, enquanto o Ibovespa oscilava perto da estabilidade, em leve alta de 0,1%.

"Mesmo com o aumento da inadimplência e queda na taxa de cobertura, o banco ainda mantém esses indicadores em patamares confortáveis, se comparado aos seus pares, aliando isso ao crescimento consistente da sua carteira, principalmente entre clientes com rating mais alto", apontam os analistas da Guide Investimentos em relatório.

Os analistas destacam ainda que "o banco entregou números bem acima das expectativas do mercado, mantendo as suas margens mesmo em meio a um ambiente macroeconômico mais difícil."

"O Banco do Brasil reportou mais um forte resultado, com um lucro líquido 21% acima da nossa expectativa", dizem os analistas do Goldman Sachs, que mantiveram a recomendação de compra para as ações do banco, com preço-alvo de R$ 45 em 12 meses, o que corresponde a um potencial de valorização de 12,6% em relação ao fechamento da véspera.