Economia do Brasil cresce 1,2% no segundo trimestre, acima do esperado

Por LEONARDO VIECELI E EDUARDO CUCOLO

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1,2% no segundo trimestre de 2022, em relação aos três meses imediatamente anteriores. É o quarto resultado positivo em sequência, apontam dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A variação ficou acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,9% na mediana.

Com o novo resultado, o PIB ficou 3% acima do nível pré-pandemia, do quarto trimestre de 2019. Porém, ainda está 0,3% abaixo do recorde da série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014. O indicador avançou 2,5% no primeiro semestre deste ano.

O PIB mede a produção de bens e serviços no país a cada trimestre. O avanço do indicador é usualmente chamado de crescimento econômico.

O período de abril a junho de 2022 ainda mostrou reflexos da reabertura de atividades após as restrições na pandemia. Com o aumento da circulação de pessoas e a volta de negócios presenciais, houve impulso para o setor de serviços, o principal do PIB. A alta dos serviços foi de 1,3% de abril a junho.

"Os serviços estão pesando 70% da economia, então têm um impacto maior nesse resultado. Dentro dos serviços, outras atividades de serviços (3,3%), transportes (3,0%) e informação e comunicação (2,9%) avançaram e puxaram essa alta", disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, em nota.

"Em outras atividades de serviços, estão os serviços presenciais, que estavam represados durante a pandemia, como os restaurantes e hotéis, por exemplo", completou.

A indústria teve alta de 2,2%. É a taxa mais elevada desde o terceiro trimestre de 2020 (14,7%), quando o setor começava a se recuperar da pandemia e apresentava uma base de comparação depreciada, apontou o IBGE. A agropecuária subiu 0,5% no segundo trimestre.

"É um crescimento muito baseado na demanda interna", afirmou Palis.

Em um ambiente marcado pela pressão inflacionária, o governo Jair Bolsonaro (PL) apostou na liberação de recursos para tentar atenuar a perda do poder de compra dos brasileiros às vésperas das eleições.

No segundo trimestre, o governo autorizou saques de contas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e antecipou o 13º de aposentados.

O consumo das famílias cresceu 2,6% de abril a junho. Os investimentos na economia, medidos pelo indicador de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), aumentaram 4,8%.

Em valores correntes, o PIB no segundo trimestre totalizou R$ 2,4 trilhões. O IBGE revisou os resultados do segundo trimestre de 2021, do quarto de 2021 e do primeiro de 2022.

Os dados divulgados anteriormente haviam sido estimados em -0,2%, 0,7% e 1%. Com as revisões, passaram para -0,3%, 0,8% e 1,1%, respectivamente.

Em relação ao segundo trimestre de 2021, o PIB teve crescimento de 3,2%. Nessa base de comparação, analistas também projetavam avanço menor, de 2,8%, de acordo com a Bloomberg.

Após a divulgação desta quinta, economistas passaram a revisar para cima as estimativas de alta do PIB no acumulado de 2022. Instituições financeiras já falam em um crescimento superior a 2,5% neste ano.

A previsão mais recente do boletim Focus, publicado pelo BC (Banco Central), é de crescimento de 2,10%. Essa estimativa foi divulgada na segunda-feira (29).

No terceiro trimestre, espera-se impacto dos recentes cortes de tributos, além dos efeitos da ampliação de benefícios sociais às vésperas das eleições, o que inclui o Auxílio Brasil.

A inflação, porém, ainda mostra sinais de persistência e encarece produtos como alimentos, que pesam mais no bolso da população pobre.

Isso dificulta uma sensação de melhora econômica para parte dos brasileiros, mesmo com o desempenho positivo do PIB, diz a economista Vívian Almeida, professora do Ibmec-RJ.

"Não podemos desconsiderar as boas notícias, como a do PIB. Mas ter a renda comprando menos do que em outros períodos é uma questão importante para a população", aponta.

POSSÍVEL PERDA DE FÔLEGO

Até a virada do ano, analistas projetam reflexos mais intensos da alta dos juros na economia. A elevação da taxa básica (Selic), atualmente em 13,75%, desafia a recuperação do consumo. Outro risco vem dos sinais de perda de fôlego da economia global.

Não à toa, o mercado financeiro projeta um avanço mais tímido para o PIB brasileiro em 2023. A alta prevista para o acumulado é de 0,37%, indica o boletim Focus.

A divulgação do PIB nesta quinta é a última antes das eleições de outubro. O desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre só deve ser conhecido em 1º de dezembro.

Rodrigo Sodré, economista e sócio do escritório de investimentos BRA, destaca que a alta no segundo trimestre veio em linha com fatores como o aumento da geração de vagas de trabalho. Ele avalia que medidas como o Auxílio Brasil tendem a estimular a atividade no segundo semestre, mas chama atenção para os riscos existentes no cenário.

"É preciso estar atento nos próximos trimestres às consequências do aperto monetário e da desaceleração da economia global. Além disso, o nível de endividamento das famílias está em um patamar bastante elevado (o que pode frear o consumo), não haverá a injeção na economia do 13° dos aposentados e servidores e a contribuição positiva da reabertura pode começar a ser absorvida e normalizada pela economia", indicou em relatório.

CÁLCULO DO PIB

Produtos, serviços, aluguéis, serviços públicos, impostos e até contrabando. Esses são alguns dos componentes do PIB, calculado pelo IBGE, de acordo com padrões internacionais.

O objetivo é medir a produção de bens e serviços no país em determinado período.

O indicador mostra quem produz, quem consome e a renda gerada a partir dessa produção. O crescimento do PIB (descontada a inflação) é frequentemente chamado de crescimento econômico.

O levantamento é apresentado pela ótica da oferta (o que é produzido) e da demanda (como esses produtos e serviços são consumidos). O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período em questão.