Petrobras inicia trocas na diretoria com governança enfraquecida

Por NICOLA PAMPLONA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Pouco mais de dois meses após sua posse, o presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, inicia mudanças na diretoria tendo à frente um sistema de governança mais alinhado ao governo federal, o que deve reduzir resistências aos seus indicados.

A primeira troca será na diretoria de Transformação Digital e Inovação, com um nome que já era esperado pelo mercado: Paulo Palaia, que já ocupou essa função na Gol. O executivo, que substituirá Juliano Dantas, é apontado como indicação do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

Sua nomeação ainda depende de análise do comitê interno responsável por avaliar currículos e eventuais restrições impostas pela Lei das Estatais para ocupantes de cargos da alta administração da companhia. Esse comitê, porém, foi enfraquecido com a troca no conselho de administração da empresa.

Foco de resistências a nomeações anteriores, quando era presidido por representantes dos minoritários, o Comitê de Pessoas agora é formado majoritariamente por indicados do governo federal, todos detentores de cargos públicos.

Nas vagas reservadas a conselheiros, estão a procuradora da Fazenda Nacional Iêda Cagni, o presidente da CEB (Companhia Energética de Brasília), Edison Garcia, e o presidente do Serpro, Gileno Gurjão Barreto, que também comanda o conselho da estatal.

Eles substituem Ruy Flacks Schneider e Luiz Henrique Caroli, que deixaram o conselho de administração, e o advogado Francisco Petros, eleito pelos minoritários e uma das principais vozes divergentes na alta administração da companhia.

Os dois membros externos do comitê, Tales Bronzato e Ana Silvia Corso Matte, permanecem. Matte já foi indicada pelo governo para compor o conselho de administração da empresa em 2021, quando as listas de Bolsonaro tinham mais nomes independentes, mas acabou não sendo eleita.

A nova composição do Comitê de Pessoas é vista internamente como parte da estratégia para minar resistências a nomeações políticas na empresa, apos uma série de pareceres e votos contrários a indicados pelo governo.

Na última eleição para o conselho, por exemplo, o comitê decidiu que potenciais conflitos de interesse impediam as nomeações do secretário-executivo da Casa Civil, Jonathas Assunção, e do procurador-geral da Fazenda Nacional, Ricardo Soriano.

A avaliação foi corroborada pelo conselho de administração da companhia, que retirou os dois nomes da lista de candidatos, mas desconsiderada pelo governo. Os dois acabaram sendo eleitos com os votos da União em assembleia no dia 19 de agosto.

O próprio nome de Paes de Andrade teve resistência no comitê, já que o executivo não tinha a experiência exigida pela Lei das Estatais em empresas do mesmo setor ou mesmo porte que a Petrobras.

Sua primeira indicação à diretoria tem. Com passagem por empresas como Gol, Webjet, Dasa e CVC, Palaia é formado em processamento de dados pela Universidade Braz Cubas e possui aperfeiçoamento em Gestão Estratégica de TI (Tecnologia da Informação) pela Universidade Berkeley, na Califórnia.

Segundo fontes próximas à empresa, Paes de Andrade planeja fazer uma renovação completa na diretoria, com mudanças também em cargos de gerência. Ele conta com aval de Bolsonaro, que já defendeu publicamente mudanças mais amplas no comando da Petrobras.

Alguns dos nomes que circulam como prováveis novos diretores já estão em cargos de assessoria na empresa. Fernando Moura, assessor da presidência da empresa desde a posse de Paes de Andrade, por exemplo, é cotado para a diretoria de Governança.

As resistências internas a nomeações políticas se tornaram alvo também do centrão: em abril, após parecer contrário à nomeação do consultor Adriano Pires ao comando da empresa, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a propor mudanças na Lei das Estatais.