Mercado vê pouca sinergia com Vale e derruba ações da Cosan
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - As ações da Cosan despencaram pelo segundo dia seguido após o anúncio da compra de fatia relevante na Vale, feito na sexta-feira (7). Nesta segunda, os papéis da holding do empresário Rubens Ometto caíram 7,51%.
Com a queda de sexta, a Cosan perdeu 15% em valor de mercado desde o anúncio da operação, o equivalente a pouco menos de R$ 5 bilhões. A avaliação de investidores é que a operação é complexa, cara, e traz poucas sinergias ao grupo.
A Cosan opera atualmente nos segmentos de cana-de-açúcar, combustíveis, transporte e gás natural. A entrada na mineração, explicou a companhia, tem o objetivo de diversificar os negócios e ter acesso a receitas em moeda estrangeira.
"O movimento é muito complexo para os benefícios que podem causar", escreveram analistas da Ativa Research no início do dia. A Cosan anunciou a compra de 4,9% da mineradora por meio de uma estrutura financeira que usará seus dividendos de subsidiárias para pagar R$ 8 bilhões tomados com bancos.
"Do ponto de vista dos acionistas de Cosan, acreditamos, por exemplo, que estes preferiam a destinação de tais recursos na validação das teses atualmente dispostas pela holding ou ainda via dividendos", completaram.
Em teleconferência na sexta, a direção da companhia disse que pretende ter voz na gestão da mineradora, hoje uma empresa sem controlador definido. Com os 4,9%, a Cosan se tornaria o quinto maior acionista da empresa, atrás de Previ (8,61%), Capital Group (6,69%), BlackRock (6,33%) e Mitsui (5,99%).
"Vamos entrar para somar e garantir que a companhia e os executivos terão os recursos necessários, o alinhamento necessário em relação a alavancar todas as possibilidades que o portfólio da Vale permite", disse o presidente da empresa, Luis Henrique Guimarães.
A avaliação, porém, é questionada por analistas, que veem na Cosan uma empresa acostumada a controlar suas operações, o que não ocorrerá na Vale, cujo estatuto tem uma cláusula que dificulta a aquisição de mais de 25% das ações.
"A Cosan será apenas mais um acionista, ainda que relevante, e não deve mudar os rumos da empresa", escreveram analistas da Guide Investimentos. "A transação é muito grande e deve pressionar as ações do grupo em função do risco de emissão de novas ações, além de impactar negativamente no risco de crédito da empresa."
O grupo de Rubens Ometto já havia se aventurado na mineração, com a compra de um terminal portuário em São Luis e anúncio de parceria com a Aura Minerals para exploração do minério de ferro que será escoado pelo terminal.
A operação da Vale, porém, foi vista pelo mercado como um investimento financeiro do grupo, que não tem esse perfil de sócio investidor. A Vale é vista como uma boa pagadora de dividendos e com grande potencial de valorização das ações.
Após duas tragédias com rompimentos de barragens em Minas Gerais, a mineradora se recuperou com a alta do preço do minério de ferro e registrou em 2021 o maior lucro da história das companhias brasileiras, de R$ 121 bilhões.
A operação anunciada pela Cosan prevê três etapas. Na primeira, a empresa comprou 1,5% do capital da Vale. Por meio de derivativos, comprou outros 3,4%, que dependem ainda de avaliação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Se conseguir espaço na gestão, a compradora pode chegar a uma fatia de 6,9% na mineradora.
O controlador da Cosan, Rubens Ometto, destacou-se nos últimos anos como o maior doador de campanhas eleitorais no Brasil. Foi assim em 2018, quando colocou R$ 7,5 milhões, e é assim em 2022, já com R$ 5,7 milhões investidos em candidatos.