BC mantém Selic em 13,75% às vésperas do segundo turno das eleições

Por NATHALIA GARCIA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A quatro dias do segundo turno das eleições, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve nesta quarta-feira (26) a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano.

Esta é a segunda reunião seguida em que não há alteração no patamar da Selic. No encontro passado, em setembro, o colegiado do BC interrompeu o seu mais intenso choque de juros desde a adoção do regime de metas para inflação, em 1999.

A autoridade monetária reforçou a mensagem de que se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período "suficientemente prolongado" será capaz de assegurar a convergência da inflação.

O BC também repetiu o aviso de que poderá ajustar os passos futuros de sua estratégia e que "não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".

Ao longo do ciclo de aperto monetário (alta de juros), a taxa básica saiu de seu piso histórico (2%) em março de 2021 e subiu 11,75 pontos percentuais até agosto deste ano. Foram 12 aumentos consecutivos no período.

A decisão do Copom veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que a Selic ficaria inalterada em 13,75%. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa unânime entre os economistas consultados.

Desde a última reunião, as projeções de inflação seguiram a tendência de queda para este ano e para o próximo, enquanto a previsão para 2024 se manteve estável em 3,5% ?acima do centro da meta (3%).

Os riscos elevados de recessão nas principais economias e o rumo da política fiscal, dependente do cenário eleitoral, pressionam as expectativas de prazos mais longos.

Quanto ao cenário externo, ressaltou as revisões negativas para o crescimento global e aumento da volatilidade nos ativos financeiros. "O comitê notou também a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais, inclusive em países avançados", disse.

Em relação à atividade econômica brasileira, o BC observou um ritmo de crescimento mais moderado.

De acordo com o último boletim Focus, divulgado na segunda-feira (24), a estimativa do mercado para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 5,6% em 2022 e caiu para 4,94% em 2023.

As revisões para baixo foram calculadas depois de o país registrar três meses seguidos de deflação (queda de preços), de julho a setembro, puxada sobretudo pelos cortes de impostos sobre combustíveis e energia elétrica.

No acumulado em 12 meses até setembro, o IPCA ficou em 7,17%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para os próximos resultados mensais, não são esperadas novas deflações, como sinalizou a prévia do índice de outubro.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação se mantiveram em 5,8% para este ano e subiram de 4,6% para 4,8% para 2023. Para 2024, o colegiado elevou marginalmente a previsão de 2,8% para 2,9% (ainda abaixo do centro da meta, de 3%).

Mais uma vez, o comitê deu ênfase ao período observado seis trimestres à frente do usual de forma a atenuar os efeitos diretos das mudanças tributárias, incorporando os impactos secundários. No intervalo até o segundo trimestre de 2024, a projeção de inflação acumulada em 12 meses é de 3,2%.

Apesar dos dados mais otimistas, as expectativas continuam acima das metas perseguidas pelo BC ?fixadas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,5% e 3,25% para 2022 e 2023, respectivamente, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

No balanço de riscos para a inflação, entre as condições que puxariam os preços para cima, o BC destacou mais uma vez a persistência das pressões inflacionárias globais, a incerteza sobre a situação fiscal do país e a pressão vinda do mercado de trabalho.

Na direção oposta, indicou a queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a prevista e a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023.

Dada a defasagem dos efeitos da política monetária sobre a economia, o ano de 2024 vai ganhando mais peso sobre a decisão do colegiado quanto aos juros à medida que o calendário avança. O Copom volta a se reunir nos dias 6 e 7 de dezembro para calibrar o patamar da Selic no último encontro do ano.