Bloqueios nas estradas travam entregas e atrasam produção de carros e laticínios

Por RAFAEL BALAGO E ANA PAULA BRANCO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os protestos que bloquearam estradas em ao menos 18 estados nesta segunda (31) geraram atrasos em entregas e dificultaram a produção de itens como automóveis e laticínios. Empresários de vários setores pedem a liberação das vias, travadas por atos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que rejeitam a vitória de Lula (PT) nas eleições presidenciais.

A Braspress, uma das principais transportadoras de encomendas do país, teve impacto em mais de 60% de suas operações nesta segunda. Em unidades como as de Itajaí (RJ) e nos arredores de Florianópolis (SC), os veículos não conseguiram sair, pois havia bloqueios próximos.

"Nesta manhã, estávamos com 40 carretas bloqueadas. E decidimos reter parte da frota na origem, para evitar riscos ao patrimônio, à carga e aos funcionários", conta Luiz Carlos Lopes, diretor de operações da empresa.

"Levará alguns dias para regularizar tudo. Vamos torcer para que isso seja dissipado logo. Nossa empresa é contrária a estes movimentos. Isso não resolve o problema do país. Quem quiser protestar, que o faça, mas de maneira ordeira e pacífica", defende Lopes.

Em Porto Real (RJ), a Stellantis suspendeu a produção na manhã desta segunda, por um bloqueio na rodovia que dá acesso ao complexo industrial, impedindo a chegada de funcionários e peças. A fábrica, que fica perto da via Dutra, na região de Resende (RJ), produz motores e automóveis das marcas Citroën e Peugeot e emprega cerca de 1.800 pessoas.

No Rio Grande do Sul, um dos estados mais atingidos pelos bloqueios, produtores de laticínios temem que os bloqueios os impeçam de levar o leite fresco das fazendas para as fábricas, algo que precisa ser feito em no máximo 48 horas.

"Os bloqueios ganharam força hoje depois do meio-dia. Se resolverem até meio-dia de amanhã, teremos poucos problemas. Mas se passar disso, o produtor passará a ter prejuízo. Começaremos a viver uma situação de caos que ninguém precisa agora", diz Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindilat, sindicato estadual do setor.

"Aguardamos que o presidente Bolsonaro se posicione. O silêncio que acaba gerando toda esta insegurança. E vemos que este movimento não tem uma pauta clara ou um líder", prossegue Palharini.

A indústria da construção também teme problemas se o protesto continuar a fechar as estradas do país. Segundo o presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, o setor será afetado se as estradas ficarem bloqueadas por mais de três dias.

"Acreditamos que isso não deve crescer. Para os caminhoneiros, isso é um tiro no pé. No fim do mês é quando tem o maior volume de cargas para entregar. Acabamos de sair de um fim de semana prolongado. Isso não pode continuar além de hoje [segunda]", defende Carlos Pazan, presidente da Fetcesp (Federação das Empresas do Transporte de Cargas de SP). "As federações são totalmente contra os bloqueios."

A CNT (Confederação Nacional do Transporte) também criticou os atos. "Qualquer tipo de bloqueio não contribui para as atividades do setor transportador e, consequentemente, para o desenvolvimento do Brasil", disse o órgão, em nota.

A Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping) aposta no fim dos protestos até esta terça (31). "Como estamos quase no início de novembro, muitas lojas já estão com estoques para o Natal, não vai afetar o abastecimento", afirma Luis Augusto Ildefonso, diretor institucional da entidade.

A Abrasce (Associação Brasileira de shopping centers) informa que as operações dos shoppings seguem normalmente e acredita que, "em breve, teremos uma resolução pacífica para o caso".

A Apas (Associação Paulista de Supermercados) tem monitorado com atenção a cadeia de abastecimento por meio dos informes da Polícia Rodoviária Federal e relatos dos seus mais de 4.500 supermercados associados. Até a tarde de segunda (31), não havia qualquer anormalidade em função dos bloqueios de rodovias nem escassez de produtos.

"Como medida de contingência, a Apas tem orientado os supermercados associados, quando possível, que antecipem a logística de suas lojas e centros de distribuição a fim de garantir que o setor consiga abastecer a sociedade de forma segura e sem interrupção, independentemente dos desdobramentos futuros", afirmou a associação em nota.

A Ceagesp não registrou impacto na chegada de alimentos e outros produtos ao entreposto da Vila Leopoldina nesta segunda.

O abastecimento de combustíveis também não foi prejudicado ainda. "Até a presente data, o abastecimento de combustíveis está ocorrendo de forma regular, sem restrições para o atendimento ao consumidor final", disse a ANP (Agência Nacional do Petróleo), em nota.

Executivos do setor de combustíveis disseram à reportagem que os bloqueios afetam o transporte dos produtos, mas ainda não houve tempo suficiente para esgotar estoques nos postos.

No entanto, pode haver problemas caso os bloqueios permaneçam por mais dias. Neste caso, regiões mais distantes das refinarias do país, que estão concentradas perto da costa, podem ser prejudicadas primeiro, já que o transporte de combustíveis ao interior do país é feito majoritariamente por caminhões.

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Colaborou Nicola Pamplona, do Rio.