Mercado ignora Bolsonaro, e Bolsa sobe e dólar cai com entrada de estrangeiros
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Investidores negociaram nesta terça-feira (1º) focados em perspectivas favoráveis ao mercado brasileiro, dando menos importância aos bloqueios ilegais de estradas promovidos por manifestantes bolsonaristas que não aceitaram o resultado das eleições.
Analistas destacaram que o aumento do volume de compras de papéis por meio de corretoras com representação no exterior sugere a entrada de mais estrangeiros na Bolsa de Valores após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já o pronunciamento de Jair Bolsonaro (PL) sobre os atos golpistas teve pouco impacto na sessão, que foi favorável durante quase todo o dia às ações brasileiras.
O Ibovespa chegou a subir levemente e tocou a máxima de 118.261 pontos às 16h39, momento em que Bolsonaro falava, mas o indicador recuou rapidamente ainda durante o pronunciamento de dois minutos do presidente. O índice referência da Bolsa fechou em alta de 0,77%, aos 116.928 pontos, patamar no qual havia permanecido durante a maior parte do dia.
No mercado de câmbio, o dólar comercial à vista terminou em queda de 1%, cotado a R$ 5,1120. Contando com a expressiva queda de 2,6% na véspera, a moeda americana já recuou 3,6% em relação ao real após o fim da corrida presidencial.
"Os estrangeiros continuam entrando [na Bolsa] e o Brasil vem descolando do mercado internacional, que hoje fechou praticamente no zero a zero", comentou Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.
Destacando certa decepção do mercado com o discurso de Bolsonaro após a derrota nas eleições, Leandro Petrokas, diretor de pesquisa da Quantzed, também comentou que os indicadores do mercado demonstram mais entusiasmo externo do que doméstico com a vitória petista.
"O mercado aguardava há dois dias alguma declaração de Bolsonaro, mas o discurso foi pouco representativo para a formação de preço dos ativos. Tanto que não houve qualquer reação do mercado. Não muda nada", comentou Petrokas. "Por hora, temos mantido o cenário-base do Lula eleito e gringo animado", disse.
Apesar da tensão provocada pelos bloqueios, Rodrigo Natali, estrategista-chefe da INV, reforçou que essa não é a maior preocupação dos investidores neste momento. "A gente acha que algum perigo vem desses bloqueios dos caminhoneiros, mas o mercado parece não estar se importando muito com isso", disse.
O foco está sobre a composição do novo governo, disse Luccas Fiorelli, sócio da HCI Invest. "O mercado está em compasso de espera, enquanto Lula não anuncia sua equipe para a economia."
Ações de empresas exportadoras de matérias-primas subiram na Bolsa de Valores também devido à forte repercussão nos mercados da Ásia de informações não confirmadas sobre a redução das restrições contra a Covid na China, principal consumidor das mercadorias brasileiras.
Os mercados asiáticos fecharam em alta. A Bolsa que reúne empresas de Xangai e Shenzhen saltou 3,58% e as ações de Hong Kong dispararam 5,23%.
Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, alertou que os rumores que impulsionaram os mercados asiáticos devem ser observados com cuidado pelo investidor, pois soam de forma incoerente em relação à postura do governo chinês.
"A corrida global de hoje, calcada nos rumores de flexibilização da política restritiva de quarentena na China, parece diametralmente oposta ao que os dados dizem. O número de casos de Covid aumentou na China em outubro", escreveu, em nota a investidores.
Nos Estados Unidos, o mercado americano fechou em leve queda antes de uma provável elevação dos juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) nesta quarta-feira (2). O índice parâmetro da Bolsa de Nova York, o S&P 500, caiu 0,05%.