Verde Asset vê sinais de crise de crédito e 'ruído desnecessário'

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diante de um ambiente global desafiador, o mercado brasileiro segue afetado pelo barulho gerado pelo governo, segundo avaliação da gestora Verde Asset, liderada por Luis Stuhlberger e Luiz Parreiras, em carta enviada a investidores nesta terça-feira (7).

No texto, a empresa afirma que a economia brasileira pode estar no início de uma crise de crédito que irá demandar "boas políticas públicas". O governo brasileiro, por sua vez, pode jogar oportunidades fora com "bravatas", diz.

"Há sinais de um incipiente 'credit crunch' [crise de crédito] atingindo a economia brasileira, cujo enfrentamento requer boas políticas públicas e não bravatas", segue o texto da Verde.

Ela diz que o mercado segue focado no barulho gerado pelo governo. "Mesmo medidas corretas da perspectiva fiscal, como a reoneração dos combustíveis, conseguem ser acompanhadas de graus excessivos de ruído desnecessário e contraproducente, neste caso, a taxação das exportações de petróleo e os reiterados ataques ao Banco Central."

O governo de Lula decidiu instituir uma taxa de 9,2% sobre as exportações de petróleo bruto. A medida, que entrou em vigor em 1º de março, terá duração de quatro meses.

O objetivo da medida é cobrir a lacuna de R$ 6,6 bilhões gerada pela reoneração apenas parcial, e não integral, da gasolina e do etanol.

A Verde Asset afirma que, não por acaso, os prêmios de risco dos ativos brasileiros seguem bastante altos.

O fundo diz ter mantido exposição na B3 (Bolsa brasileira), e voltou a implementar hedges ("proteções") na 0Bolsa americana.

A Verde Asset começou com um fundo em 1997 e tinha patrimônio de R$ 1 milhão. Atualmente, passa dos R$ 55 bilhões em ativos geridos.

Apesar de repercutirem no mercado, as análises sobre as conjunturas econômicas do país devem ser ponderadas, por também refletirem interesses das gestoras.

Em janeiro, o fundo já havia dito que o governo Lula tem feito "declarações estapafúrdias" e contribuía para afastar os investimentos do setor privado no país e que a situação fiscal era preocupante.

Ao mesmo tempo, Stuhlberger fez coro às críticas do presidente Lula, ao levantar a discussão sobre a revisão da meta de inflação. "Buscar uma meta irrealista não é coisa boa para o Brasil. Concordo que tem que ter um arcabouço fiscal crível, os dois juntos podem jogar o Brasil num lugar melhor", disse em fevereiro, durante evento do BTG.

Agora, a gestora também avalia que o "tom construtivo" dos mercados desenvolvido em janeiro deu lugar a um choque de realidade em fevereiro.

A economia norte-americana surpreendeu mais uma vez, indo contra o consenso de que entraria em recessão e os investidores agora se preparam para enfrentar um cenário de juros e inflação elevados.

"Os dados americanos de emprego, renda e consumo divulgados ao longo do mês surpreenderam as expectativas, e levaram a uma importante mudança de narrativa dos mercados. Antes tínhamos uma narrativa focada na desaceleração, desinflação, e um possível pivô do Fed [banco central dos EUA] na direção de corte de juros."