Bolsa sobe e dólar reflui com políticas para conter crise do SVB e dados de inflação

Por PEDRO S. TEIXEIRA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A bolsa está em alta na tarde desta terça-feira (14), com investidores otimistas com a possibilidade de desaceleração na alta de juros promovida pelo governo dos EUA para resguardar setor bancário. O dólar apresenta queda, sob influência da desaceleração na inflação nos EUA. No cenário nacional, o relatório Prisma da Fazenda reduziu a projeção de défice primário em 2023.

Às 13h, o Ibovespa subia 0,42% a 103.556,57 pontos, em recuperação do pior dia do ano registrado na segunda (103.121,36). A cotação da moeda norte-americana à vista recuava 0,32% a R$ 5,252.

No mercado de juros, as taxas apresentam leve alta, após dia de queda influenciada pela expectativa de desarrocho na política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 subiram de 12,99% da segunda-feira (13) para 13,06% ao ano. Para janeiro de 2025, a taxa passou de 12,14% para 12,20%; para 2027, de 12,46% a 12,55%.

O mercado de ações brasileiro tem dia de recuperação, após dois fechamentos de recuo, com a quebra do SVB (Banco do Vale do Silício, em tradução livre) nos EUA. Os bancos brasileiros não estão expostos a crise da instituição financeira californiana, de acordo com relatório do ItaúBBA.

Os bancos locais não estão ameaçados por perdas não realizadas, que levaram à falência do SVB. "Os números de capital e liquidez estão confortáveis", diz o ItaúBBA no comunicado. A casa de investimentos, no entanto, avalia que os bancos podem reter lucros e diminuir pagamento de dividendos, em busca de estabilidade.

Nesta tarde, os papéis ordinários dos maiores bancos brasileiros oscilavam perto de zero: Itaú recuava 0,08%, e Banco do Brasil, 0,10%; Bradesco subia 0,17%.

Os bancos digitais brasileiros Inter e Nubank também estão seguros, avalia a equipe do ItaúBBA. Ambas as instituições financeiras operam bem abaixo de sua capacidade de empréstimo.

O Nubank, por exemplo, teria 1,4 vezes mais depósitos de pessoas físicas do que exposição ao crédito, conforme os cálculos do Itaú BBA.

As bolsas de Wall Street se recuperam de forma parcial nesta terça-feira (14) dos impactos de segunda (13). Dow Jones sobe 1,28%; S&P 500, 1,86%; e Nasdaq, 2,31%.

De acordo com a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, os investidores norte-americanos reagem a possibilidade do FED, o banco central norte-americano, a diminuir a taxa de juros terminal, antes projetada em 6% para manter a inflação na meta de 2%.

Esse movimento visaria proteger os bancos de possíveis perdas com a valorização de títulos do governo a longo prazo. "O FED vai tolerar uma inflação mais elevada nos EUA", diz Abdelmalack.

De acordo com levantamento do TradeMap, os bancos dos EUA perdem US$ 110,9 bilhões (R$ 581 bilhões, na cotação atual) em valor de mercado no último pregão ?o que equivale a soma do valor de mercado de Petrobras e ItauUnibanco.

O valor dos 292 bancos listados no mercado de ações norte-americano somou US$ 1,65 trilhão no início dos negócios contra US$ 1,54 trilhão no final do dia 13. A instituição financeira com maior desvalorização foi o Bank of America?US$ 14,0 bilhões, ou uma Eletrobras?, a segunda maior queda é da Wells Fargo, com recuo de US$ 11,2 bilhões ?valor equivalente ao da Suzano.

A inflação de serviço a 7% nos EUA anunciada nesta terça continua alta para os padrões do país. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,4% no mês passado, após avanço de 0,5% em janeiro, conforme anúncio do Departamento do Trabalho nesta terça.

Isso, porém, reduziu o aumento na base anual para 6,0% em fevereiro, a menor alta desde setembro de 2021. O índice havia subido 6,4% nos 12 meses até janeiro.

A projeção do FED tolerar uma inflação mais alta e aliviar o aumento nas taxas de juros deve amenizar o tom da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) na próxima semana, segundo análise de André Fernandes, sócio da A7 Capital. O comitê tem resistido a pressão do governo federal para diminuir a taxa Selic.

No cenário nacional, operadores da bolsa ainda melhoraram a expectativa para resultado primário deste ano, com redução na projeção para a dívida. As estimativas foram incluídas no relatório Prisma Fiscal do Ministério da Fazenda referente a março, que capta projeções de agentes do mercado para as contas públicas. O material foi divulgado nesta terça.

A mediana das expectativas para o resultado primário do governo central em 2023 ficou em déficit de R$ 99,01 bilhões, ante saldo negativo de R$ 109,64 bilhões. Para 2024, no entanto, os prognósticos de resultado primário foram revisados a rombo de R$ 98,33 bilhões, contra déficit de R$ 96,15 bilhões estimado em fevereiro.

Houve revisão para cima nas estimativas de receita para 2023 no Prisma de março, a R$ 1,92 trilhão, contra R$ 1,91 trilhão previstos antes. As despesas também foram ajustadas para cima, a R$ 2,02 trilhões, de R$ 2,01 trilhões.