Bolsa fecha em queda, mas longe das mínimas do dia com Petrobras em alta seguindo o petróleo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A forte alta do petróleo faz com que a Bolsa fechasse em queda nesta segunda-feira (3). Porém, no final, a alta das ações da Petrobras fez com que o desempenho geral tivesse uma melhora no final do pregão, compensando os efeitos da forte alta do petróleo em bancos e varejistas, impactados pela perspectiva de alta da inflação.
O Ibovespa fechou em baixa de 0,37%, a 101.506 pontos. Na mínima do dia, o índice chegou a atingir os 100.650 pontos. O dólar comercial à vista fechou praticamente estável, com leve alta de 0,01%, a R$ 5,070.
No mercado de futuros, os juros também ficaram próximos da estabilidade. Nos contratos para janeiro de 2024, a taxa passou dos 13,19% da última sexta-feira (31) para 13,20% nesta segunda-feira. Para janeiro de 2025, a taxa apresentou leve queda, de 12,01% para 11,97%. No vencimento em janeiro de 2027, os juros passaram de 12,07% para 12,04%.
A cotação do petróleo tipo Brent subia 6,33% às 17h00 (horário de Brasília), com o valor do barril saindo de menos de US$ 80 na última sexta-feira (31) para perto de US$ 84,82 nesta segunda-feira.
A Arábia Saudita e outros membros do grupo Opep+ anunciaram de surpresa neste domingo (2) cortes na produção de petróleo, num total de mais de 1 milhão de barris por dia.
Riad implementará um "corte voluntário" de 500 mil barris diários, ou pouco menos de 5% de sua produção, em "coordenação com alguns outros países da Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] e não Opep", disse o país neste domingo.
A Rússia, membro da Opep+, afirmou que estenderá seu atual corte de produção de 500 mil barris/dia até o fim do ano. A redução de Moscou foi anunciada pela primeira vez em março, em retaliação contra as medidas dos países ocidentais de impor um teto de preço às exportações marítimas de petróleo russo, em razão da Guerra da Ucrânia.
A Rystad Energy disse acreditar que os cortes aumentarão o aperto no mercado de petróleo e elevarão os preços acima de US$ 100 o barril pelo resto do ano, possivelmente levando o Brent tão alto quanto US$ 110 (R$ 559).
O UBS também espera que o Brent chegue a US$ 100 até junho, enquanto o Goldman Sachs elevou sua previsão de dezembro em US$ 5, para US$ 95 (482).
Para a equipe da Mirae Asset, além do aumento da cotação no dia, a perspectiva para o petróleo após os cortes de produção adicionam ainda mais incertezas sobra o cenário inflacionário global.
"Se confirmadas as projeções do barril a US$ 100 em 2024, haverá alterações nas estratégias dos bancos centrais globais, mesmo que na margem. Não se sabe mais quando a taxa de juros pode ser reduzida", diz a Mirae.
Entre as ações, houve uma divisão clara nos impactos desta medida. As petroleiras lideram as altas do Ibovespa nesta segunda, enquanto varejistas, bancos e aéreas estão em baixa.
As ações ordinária e preferenciais da Petrobras subiram 4,75% e 4,43%, respectivamente. As ordinárias de 3R Petroleum fecharam com alta de 1,56%, e as da PRIO avançaram 3,87%.
No varejo, destaque para as ações ordinárias de Lojas Renner e Grupo Soma, com quedas de 7% e 5,79%, respectivamente. A ordinária do Assaí caiu 4,95%. Entre os grandes bancos, a maior baixa estava com a preferencial do Itaú, caindo 2,79%. As preferenciais das aéreas Azul e Gol caíam cerca de 4,15% e 3,89%.
Para Apolo Duarte, sócio e chefe da mesa de renda variável da AVG Capital, as varejistas sofrem também com uma crescente desconfiança por parte dos investidores.
" Tem acontecido uma onda de venda de ações do setor de varejo, com os investidores temendo eventuais problemas de liquidez, principalmente depois do que aconteceu com a Marisa", afirma Duarte.
Depois de apresentar um prejuízo de R$ 188 milhões no quarto trimestre de 2022, a ação ordinária da Marisa caiu mais de 6% nesta segunda-feira, e já acumula queda de 52% em 2023.
Segundo Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, aumentaram também os temores de uma desaceleração muito forte da economia global, especialmente dos Estados Unidos. O PMI industrial do país passou de 49,2 em fevereiro para 49,3 em março. Este indicador, quando fica abaixo de 50%, mostra queda da atividade industrial.
Ainda no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta segunda-feira (3), discordar de avaliações negativas sobre o PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. Segundo ele, o crescimento da economia vai ser maior do que preveem os "pessimistas".
A declaração ocorreu na abertura de reunião com ministros no Palácio do Planalto, no mesmo dia em que o Boletim Focus divulgou média da projeção do PIB estacionada em 0,9%.
Em Nova York, o dia foi de muitas oscilações, mas o fechamento foi predominantemente positivo. "O entendimento inicial era de que o corte da produção de petróleo poderia gerar mais inflação. Mas essa percepção se dissipou após a divulgação do PMI dos Estados Unidos, que fez os juros americanos recuarem", afirma Nishimura.
O índice Dow Jones encerrou a segunda-feira em alta de 0,98%. O S&P 500 fechou com avanço de 0,37%. O Nasdaq, composto por empresas de tecnologia, mais sensíveis à qualquer percepção de alta de inflação e juros, caiu 0,27%.
Um dos membro do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), James Bullard disse nesta segunda-feira à Bloomberg que a tarefa de controlar a inflação pode ficar mais difícil com os cortes na produção de petróleo.
Para o governador do Texas, Greg Abbott, o movimento da Opep+ é uma oportunidade para que a Lone Star impulsione a produção de gás de xisto, visto pelos Estados Unidos como alternativa energética ao petróleo.
Segundo informa a Bloomberg, o governador aponta um potencial para aumentar em 1 milhão de barris por dia a produção da empresa, levando a um total de 6 milhões de barris diários no estado americano.