Embraer e Saab se unem para vender o cargueiro KC-390 na Europa

Por IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As empresas aeronáuticas brasileira Embraer e sueca Saab anunciaram nesta terça-feira (11) a expansão de sua parceira na área militar. Elas irão ofertar o avião de transporte e reabastecimento aéreo KC-390, estrela do portfólio da fabricante paulista, para a Força Aérea da Suécia e outras Aeronáuticas europeias.

O avião já foi adotado por três Forças integrantes da Otan, a aliança militar ocidental em que os suecos estão tentando ingressar na esteira da Guerra da Ucrânia. São clientes Portugal, Hungria e Holanda. "Podemos crescer em diversos mercados", disse o presidente da Embraer Defesa e Segurança, Bosco da Costa Junior.

As empresa já têm parceria na produção da versão mais moderna do caça sueco Gripen, inclusive no desenvolvimento de sua versão para dois pilotos. Ao todo, 15 dos 40 aviões comprados pelo Brasil serão feitos na linha da Embraer a ser aberta neste mês em Gavião Peixoto.

Agora, a ideia é usar a integração alcançada desde que o Gripen foi escolhido, em 2014, como base para exportar o avião para mercados na América Latina -hoje, sete países têm versões do caça, Brasil e Suécia unidades das versões mais recentes, a E (um lugar) e a F (dois lugares).

O caça já concorre como opção de 12 novos aviões da Colômbia. "Nós queremos fazer o máximo de Gripen no Brasil", afirmou Micael Johansson, presidente da Saab. Ele prevê que a vida útil do avião, em ciclos de modernização, chegue a 2060.

Ele também coloca como prioridade o segundo lote de Gripen para a FAB (Força Aérea Brasileira). O contrato inicial em 2014 de 39,5 bilhões de coroas suecas (com correção, cerca de R$ 28 bilhões hoje) era para 36 aviões, mas foi ampliado em 4 unidades no ano passado, algo em negociação. A Força quer ainda mais 26 aviões.

A FAB passou a operar os primeiros quatro caças no fim de 2021. Este ano, de quatro a seis unidades deverão ser entregues, um processo que irá inicialmente até 2027.

As empresas também anunciaram, durante a feira militar LAAD-2023 no Rio, que procuram trabalhar juntas em um programa de aeronave de caça futura --a chamada sexta geração, já que o Gripen é um modelo avançado da quarta, mas não é da quinta, com características furtivas como o F-35 americano.

Aqui há problemas, dado que analistas não creem que seja possível entrar nesse campo sozinhos, e a Suécia deixou um acordo inicial que tinha com o Reino Unido e outros países europeus --talvez para voltar, com os brasileiros como sócios.

Mais próximo da realidade, impactada pela mudança geopolítica provocada pela guerra, Johansson defendeu que o Gripen não irá perder espaço com produto pela inundação de F-35 que os EUA está proporcionando a países europeus.

No mês passado, as quatro Forças Aéreas nórdicas anunciaram que vão unificar suas operações, e apenas a Suécia não opera ou vai operar o modelo de quinta geração americana. "Não excluo nada, vejo o Gripen como um complemento de operação no teatro nórdico ao F-35", disse o executivo.

Mais próximo da realidade, contudo, é a questão dos cargueiros. Há uma demanda por substituição da frota dos 160 aviões de transporte médios no continente, a maioria quadrimotores a hélice C-130 Hércules. Nesse nicho, o KC-390 hoje é visto como o melhor produto em termos de custo-benefício e desempenho, mas tais negócios dependem basicamente de política.

E o C-130 é um esteio da indústria aeroespacial americana desde os anos 1950, sendo modernizado de tempos em tempos. No ambiente tensionado com a Rússia guerreando às suas portas, a pressão de Washington sobre seus parceiros minoritários na Otan não é desprezível.

No Brasil, o KC-390 é um dos aviões mais utilizados pela FAB. No ano passado, houve uma crise entre a Força e a Embraer, a mais grave em 50 anos, porque o governo decidiu cortar a compra de 28 aviões acertada em 2009.

Houve críticas à opção, dado que a FAB redirecionou verbas para comprar dois Airbus-330 de transporte, aparelhos de grande porte para missões de longa distância --menos afeitas, em tese, à realidade brasileira.

Ao fim, a renegociação em curso deve deixar a encomenda de KC-390 em cerca de 20 aviões. Costa Junior diz que não há mais crise. "Existe a bênção da FAB a essa parceria, estamos totalmente alinhados", afirmou.

A Embraer, como grupo, teve um prejuízo líquido de R$ 953,6 milhões no ano passado. A Saab, maior empresa de armamentos da Suécia, viu um lucro operacional de aproximados R$ 622 bilhões no mesmo período, um aumento de 22% antes 2021 devido à guerra.