Brasil na presidência do G20 deve focar clima e dívida de países pobres, diz secretária
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O Brasil assume a presidência do G20 em dezembro deste ano e deve ter na agenda de prioridades econômicas a mobilização de recursos para o desenvolvimento sustentável e combate às mudanças climáticas, além do alívio da dívida dos países pobres, segundo a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito.
"São temas que tendem a ganhar atenção já", diz à Folha de S.Paulo, com a ressalva de que a agenda de prioridades do país no G20 ainda será definida pela Presidência e pelo Ministério das Relações Exteriores.
Na ausência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que viajou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, Rosito representou a pasta junto com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nas reuniões de primavera do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial que aconteceram nesta semana em Washington.
A ausência de Haddad frustrou interlocutores, segundo relatos à reportagem, que estavam curiosos sobre as prioridades do novo governo, mas o ministério deve preparar reuniões bilaterais entre o ministro e chefes das finanças de outros países em eventos que ocorrerão nos próximos meses, diz Rosito.
Segundo ela, a pauta climática foi um dos temas mais fortes nas reuniões com o país neste ano, "e o Brasil tem uma mudança de posição importante" em relação ao governo Jair Bolsonaro. "Houve essa volta do Brasil com muita força ao cenário multilateral e com toda a disposição de tratar e cooperar internacionalmente no combate à mudança climática", diz.
As preocupações com o cenário de incerteza global, em meio à inflação persistente e ao aperto monetário com alta de juros, além da fragmentação geopolítica do comércio global, dividido em blocos políticos, foram outros temas mais citados nas reuniões, diz ela.
Rosito diz que houve interesse de investidores pelo país e que, em reunião com as autoridades brasileiras, o IFC, braço financeiro do Banco Mundial informou que vai investir US$ 5 bilhões no setor privado brasileiro, maior volume já investido em um único país. "É uma forte evidência do dinamismo do setor privado brasileiro, com foco ambiental e de sustentabilidade, já que o IFC tem metodologia e critérios ESG sólidos", diz.
As projeções do FMI para o Brasil, no entanto, não são positivas. O Fundo prevê um aumento da dívida pública e déficit primário pelos próximos três anos, valores diferentes do que o governo brasileiro projeta no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, de zerar o déficit primário no ano que vem. O fundo também revisou a estimativa de crescimento do PIB brasileiro para baixo, de 0,9%.
Para Rosito, "a projeção brasileira não contempla todas as variáveis que recentemente foram colocadas, como o arcabouço fiscal", cuja proposta é reduzir a dívida. Ela também destaca que a revisão negativa do PIB e da inflação ocorreu para o mundo todo, e também para a América Latina.
"Cada país tem seu timing. O Brasil foi um dos primeiros a começar o ciclo de aperto e também está sendo muito rápido em buscar reverter a situação de desequilíbrio e perseguir o equilíbrio fiscal desde os primeiros meses de governo", afirma.
Na China, Lula criticou o FMI em discurso na quinta (13) e defendeu que investimentos internacionais não significam transferência da comando da política econômica dos países em desenvolvimento. Ao sustentar o direito dos países a se endividarem para investir, afirmou: "Não cabe [ao FMI] ficar asfixiando as economias como estão fazendo agora com a Argentina".
Questionada sobre se a fala prejudica as reuniões do país no órgão em Washington, Rosito diz que o discurso não reverberou. "Foram reuniões sempre construtivas. Esse tema não chegou a ser levantado em nenhum momento."