Bolsa fecha em baixa e dólar em alta reagindo principalmente à piora do cenário nos EUA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa fechou em baixa e o dólar em alta nesta terça-feira (25), seguindo a tendência internacional. O resultado do First Republic Bank no primeiro trimestre de 2023, com uma queda nos depósitos maior que a esperada por analistas. A perspectiva de que a economia dos Estados Unidos está cada vez mais próxima de uma recessão também pesa sobre os ativos brasileiros.
O Ibovespa fechou o dia com queda de 0,70%%, a 103.220 pontos. O dólar comercial à vista encerrou com avanço de 0,47%, a R$ 5,064.
No mercado de juros, as taxas com tendência de queda. Nos contratos para janeiro de 2025, a taxa caiu de 11,88% no fechamento desta segunda-feira (24) para 11,80%. Para janeiro de 2027, os juros recuaram de 11,86% para 11,73%. Nos contratos para janeiro de 2029, os juros recuaram de 12,26% para 12,14%.
Em Nova York, as ações do First Republic Bank caíram quase 50%, e atingem o pior patamar histórico. O banco relatou retirada superior a US$ 100 bilhões em depósitos no primeiro trimestre. As ações dos grandes do setor nos Estados Unidos também recuaram, com destaque para Goldman Sachs e JPMorgan, com quedas de 4,50% e 3%, respectivamente.
Além dos números, o que acendeu o sinal de alerta para os investidores foi a notícia da agência Bloomberg de que o First Republic pode vender alguns de seus ativos como parte de um plano de resgate, para evitar uma quebra.
Outra ação importante em queda nesta terça-feira é do banco suíço UBS. Os papéis negociados em Nova York caíram 4,65%.
O UBS reservou mais capital para fechar suas posições em hipotecas com perfil de crédito ruim nos Estados Unidos Isso reduziu o lucro do banco no primeiro trimestre pela metade, ao mesmo tempo em que se prepara para a "difícil" tarefa de absorver o rival Credit Suisse.
O UBS registrou lucro líquido de US$ 1 bilhão no primeiro trimestre, enquanto o mercado esperava ganhos de US$ 1,7 bilhão.
"Os números ruins dos bancos geram uma maior expectativa de uma recessão um pouco mais pesada nos Estados Unidos. Aquela tensão causada pela quebra do SVB (Silicon Valley Bank) volta no mercado", afirma Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.
Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, afirma que, no geral, os números dos bancos americanos vieram acima das expectativas. Mas que as instituições de menor porte, com atuação mais regional, ainda são uma preocupação.
"Conversando com analistas há duas semanas, foi levantada a possibilidade do First Republic colapsar. Portanto, me parece cedo para dizer que a fragilidade dos bancos regionais nos EUA está resolvida", afirma Lima.
Assim, os índices de ações em Nova York fecharam com o pior desempenho diário em dois meses. O Dow Jones recuou 1,02%. O S&P 500 fechou em baixa de 1,58%. O índice Nasdaq caiu 1,98%.
Se nos Estados Unidos os bancos estão em baixa, no Brasil a situação é diferente. As ações dos gigantes financeiros apresentaram altas moderadas, após os resultados do Santander Brasil divulgados na manhã desta terça-feira.
O banco registrou lucro líquido de R$ 2,14 bilhões no primeiro trimestre de 2023, o que representa uma queda de 46,6% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo balanço divulgado nesta terça-feira (25).
O resultado ficou em linha com a expectativa dos analistas, que projetavam um lucro de R$ 2,1 bilhões no período. Na comparação com o quarto trimestre de 2022, houve uma alta de 26,7%. A Unit do banco fechou em alta de 1,25%.
O cenário internacional afeta a Bolsa e o câmbio também por meio das empresas exportadoras, especialmente Vale e siderúrgicas. Nesta terça-feira, as ações destas companhias deram continuidade ao movimento de queda visto na véspera.
A ação ordinária da Vale recuou 2,55%. Também caíram as ordinárias de CSN (-2,91%) e CSN Mineração (-2,94%). As preferenciais da Gerdau recuaram 3,50%, já que a empresa tem uma atuação mais forte nos Estados Unidos que suas outras concorrentes locais. As preferenciais classe A da Usiminas caíram 1,26%.
"No curto prazo, a perspectiva para essas ações é negativa, pois os estoques de minério de ferro da China estão bons dentro da média histórica", afirma Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.
Leandro De Checci, analista da XP Investimentos, afirma que o momento é menos propício para o mercado de ações. "O pior cenário seria o de recessão mundial, principalmente se ligada às matérias-primas, já que o mercado brasileiro é bem dependente desse setor", afirma.
No Brasil, o indicador que chamou mais atenção dos investidores na manhã desta terça-feira foi a arrecadação de impostos em março.
As receitas do governo com impostos foi de R$ 171,056 bilhões em março, informou a Receita Federal, uma queda de 0,42% em relação ao mesmo mês do ano anterior em dado ajustado pela inflação.
De acordo com série histórica ajustada a preços de março deste ano, foi a primeira queda mensal real na arrecadação desde janeiro de 2021.
No acumulado dos três primeiros meses de 2023 a arrecadação alcançou o valor de R$ 581,795 bilhões, com alta ajustada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 0,72%. De acordo com a Receita, foi o melhor desempenho para o trimestre desde 2000.
Para Charo Alves, da Valor Investimentos, essa queda real na arrecadação em março gera um ponto de atenção no mercado por conta do novo arcabouço fiscal. "Como o projeto atrela diretamente o aumento de despesas à arrecadação, isso pode gerar uma preocupação."
Os investidores estão atentos também à participação do presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, em uma audiência pública no Senado para falar da taxa de juros.
Campos Neto afirmou que o combate da inflação é o melhor instrumento social que existe e negou que o Brasil esteja afundando em recessão.
Aos parlamentares, o chefe da autarquia defendeu o regime de metas de inflação e a importância da autonomia do BC, explicou a mecânica da tomada de decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) e a influência das expectativas de inflação sobre a calibragem da taxa de juros.
O presidente do BC disse ainda que o crescimento sustentável do país, com controle da inflação, não depende de "mágica" nem de uma "bala de prata", mas de disciplina das contas públicas.
Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos, avalia que as declarações de Campos Neto no Senado são "muito positivas", com base em critérios técnicos para explicar a atual política monetária colocada em prática pelo BC.