Governo Biden lança ofensiva em inteligência artificial
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O governo Joe Biden lançou uma nova ofensiva sobre a inteligência artificial (IA) nesta quinta-feira (4), com investimentos em novos centros de pesquisa dedicados à tecnologia, no mesmo dia em que o próprio presidente recebeu na Casa Branca líderes das principais empresas envolvidas no setor.
"Nosso objetivo é ter uma discussão franca sobre os riscos que cada um de nós vê no desenvolvimento atual e de curto prazo da IA, ações para mitigar esses riscos e outras maneiras pelas quais podemos trabalhar juntos para garantir que o povo americano se beneficie dos avanços da IA enquanto está protegido contra seus danos", diz o convite enviado aos CEOs de Google, Microsoft, OpenAI (do ChatGPT) e a startup Anthropic.
A expectativa era de que apenas a vice-presidente, Kamala Harris, se encontraria com os líderes das empresas, mas ao fim o próprio Biden apareceu, além do chefe do Conselho de Segurança Nacional, Jake Sullivan; da Secretária do Comércio, Gina Raimondo; e da diretora do Conselho Econômico Nacional, Lael Brainard; além de outros assessores.
Do lado das empresas, estiveram os CEOs Sundar Pichai (Google), Satya Nadella (Microsoft), Sam Altman (OpenAI) e Dario Amodei (Antrhopic). O encontro durou duas horas.
"A IA é uma das tecnologias mais poderosas da atualidade, com potencial para melhorar a vida das pessoas e enfrentar alguns dos maiores desafios da sociedade. Ao mesmo tempo, tem o potencial de aumentar drasticamente as ameaças à segurança, ferir os direitos civis e a privacidade e minar a confiança pública e a fé na democracia", disse Kamala em comunicado após a reunião.
"O setor privado tem uma responsabilidade ética, moral e legal de garantir a segurança de seus produtos. E toda empresa deve cumprir as leis existentes para proteger o povo americano", afirmou ela.
**CHATPGT AUMENTOU PRESSÃO SOBRE EUA PARA MONITORARAEM IA**
Desde o lançamento do ChatGPT no fim do ano passado e com o avanço acelerado de tecnologias similares de outras empresas, o governo americano tem sido pressionado para monitorar o desenvolvimento da inteligência artificial. O Congresso promoveu audiências públicas com estudiosos e empresas da área, e o Senado pretende fazer novas sessões públicas em painéis nas próximas semanas.
A equipe de Biden tem visto uma aplicação bem prática da inteligência artificial. No mesmo dia em que o presidente democrata anunciou a campanha pela reeleição, o Partido Republicano lançou uma propaganda na TV com imagens geradas por inteligência artificial que mostram um cenário apocalíptico para os EUA se Biden for reeleito.
A peça mostra imagens fictícias geradas por IA de "uma China fortalecida" invadindo Taiwan; Wall Street, coração financeiro de Nova York, destruída; militares em guerra na fronteira com o México; e a cidade de San Francisco sitiada em meio a uma crise aguda de opióides.
Todas as imagens da propaganda foram geradas por inteligência artificial, segundo o próprio partido, inclusive com problemas comuns da tecnologia, como Biden e Kamala com muitos dentes a mais na boca e outras pessoas com aspectos físicos deformados.
**GOVERNO BIDEN ANUNCIA INVESTIMENTOS EM IA**
"Como o presidente Biden enfatizou, para aproveitar os benefícios da IA, precisamos começar mitigando seus riscos", disse uma autoridade da Casa Branca em conversa com jornalistas ao anunciar um novo investimento do governo federal de US$ 140 milhões (R$ 700 milhões) na criação de novos centros de pesquisa para o assunto.
Serão 7 novos Institutos Nacionais de Pesquisa em IA, que se somam a 18 centros já existentes pelo país, elevando o total para 25, que contam com um financiamento de cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões).
A ideia desses centros é desenvolver o uso dessas tecnologias na educação superior, indústria, e órgãos do governo, além de avançar em pesquisas sobre ética. O foco do desenvolvimento será em áreas críticas como clima, agricultura, energia, saúde pública, educação e cibersegurança, afirma o governo.
A Casa Branca enfatiza que a atuação sobre a inteligência artificial não vem de agora, com projeto de lei para proteger a privacidade dos usuários e um arcabouço do Departamento do Comércio para redução de riscos no uso da tecnologia.
Segundo o governo americano, as principais companhias do setor, incluindo também Nvidia, Hugging Face e Stability AI, se comprometeram a fazer avaliações públicas do desenvolvimento da tecnologia, abertas a pesquisadores independentes e ao público em geral.
Em artigo publicado na quarta (3) no jornal The New York Times, a chefe da Comissão Federal de Comércio dos EUA, Lina Khan, defendeu que é hora de regular a tecnologia porque "a última vez que nos encontramos diante de uma mudança social tão disseminada trazida pela tecnologia foi com a Web 2.0 em meados da década de 2000", referindo-se ao começo da chamada era das plataformas, em que redes como Facebook e YouTube passaram a dominar o que chamamos de internet.
Nesse período, o que começou como uma tecnologia revolucionária terminou como concentração extrema de poder na mão de poucas empresas a um custo extraordinário da privacidade dos usuários. Com o avanço da IA, defende, "autoridades têm a responsabilidade de garantir que a história não se repita."
A regulação de tecnologias de inteligência artificial está na pauta em outros países. Tramita no Parlamento europeu a "Lei da IA", que estabelece padrões rigorosos de transparência para tecnologias do tipo usadas em áreas estratégicas, como infraestrutura, educação e aplicação da lei, e impõe multa de até 30 milhões de euros ou 6% do faturamento global (o que for maior) para quem não cumpri-las.
No fim de abril, o ChatGPT criou a opção de desligar o histórico de mensagens depois que a autoridade de proteção de dados italiana pressionou a OpenAI a se adequar aos padrões de privacidade do país, sob pena de proibição do serviço. Órgãos na França e Espanha também investigam se a IA geradora de texto viola as respectivas normas locais.