TikTok rastreou usuários que assistiram a conteúdo LGBT, diz jornal

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O TikTok identificou usuários que assistiram a conteúdo voltado para o público LGBT no aplicativo por pelo menos um ano, segundo reportagem publicada pelo Wall Street Journal nesta sexta-feira (5).

Ex-funcionários da empresa disseram que informações relacionadas a vídeos dessa temática podiam ser visualizadas em um painel, no qual eram exibidos o conjunto de usuários que lhes assistiram e seus respectivos números de identificação.

Funcionários do TikTok nos EUA, Reino Unido e Austrália questionaram essa prática para executivos de alto escalão, dizendo temer que os funcionários pudessem compartilhar os dados com terceiros ou que pudessem ser usados para chantagear os próprios usuários, segundo a publicação.

A coleta de informações sobre o comportamento dos usuários é comum entre empresas de tecnologia para personalizar a experiência do usuário e fornecer anúncios direcionados. Contudo, o rastreamento com base em dados sensíveis, como orientação sexual, religião, raça, entre outros, pode ser considerado invasivo e pode levar a práticas discriminatórias.

No Brasil, por exemplo, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), distingue o tratamento de dados pessoais (como nome, email, hábitos de consumo) dos dados sensíveis, que exigem maior cuidado. O TikTok não pede que usuários revelem sua orientação sexual para se cadastrarem, prática comum na internet.

Uma porta-voz do TikTok disse ao Wall Street Journal que o painel que os funcionários usavam para acessar os dados dos consumidores de conteúdo gay foi removido nos EUA há quase um ano.

A porta-voz também afirmou que a empresa não identifica informações potencialmente sensíveis, como orientação sexual ou raça dos usuários, com base no que assistem. Os dados representam os interesses dos usuários e não são necessariamente um sinal da identidade de alguém, disse.

Internamente, alguns funcionários do TikTok ainda argumentaram que a coleta de dados era segura, porque não indicava se os usuários realmente pertenciam a determinado grupo, segundo o jornal.

Outros funcionários discordaram, dizendo que o tema dos vídeos a que um usuário assistia é suficiente para inferir aspectos de sua identidade, principalmente para tópicos como sexualidade, segundo alguns ex-funcionários. Esses funcionários descreveram os dados como uma lista de usuários gays do TikTok.

A revelação ocorre em meio a uma ofensiva dos Estados Unidos contra o aplicativo. O governo americano tem duas grandes suspeitas em relação à rede social. A primeira é que ela seja usada pelo regime chinês para espionar cidadãos americanos. Como outros aplicativos, como Facebook e Instagram, o TikTok coleta todo tipo de dados de seus usuários e usa essas informações para alimentar seus algoritmos. A diferença é que a ByteDance, dona do app, é uma empresa chinesa e, portanto, estaria sujeita a uma lei de segurança nacional que exige que ela repasse os dados ao regime caso exigido.

A segunda suspeita é de que o algoritmo de recomendação de vídeo do TikTok, conhecido por sua capacidade de reter usuários em um looping eterno, tenha também fins de propaganda, influenciando a opinião pública ao promover ou suprimir postagens estratégicas.