Bolsa interrompe sequência de altas e fecha abaixo dos 117 mil pontos

Por MARCELO AZEVEDO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira interrompeu uma sequência de ganhos e fechou em queda nesta terça-feira (13), num movimento visto como realização de lucros, ou seja, quando investidores vendem ações que se valorizaram rapidamente para efetivar seus ganhos com os papéis.

Já o dólar continua em trajetória de queda e chegou a R$ 4,84 na mínima no dia, impactado principalmente pelas expectativas sobre a próxima decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), prevista para esta quarta (14).

Com isso, o Ibovespa teve queda de 0,50%, fechando a 116.742 pontos, enquanto o dólar caiu 0,12%, cotado a R$ 4,861 e renovando seu menor patamar do ano.

O analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, afirma que o movimento de realização de lucros desta terça não surpreende.

"Nós tivemos uma sequência muito robusta de altas do Ibovespa, tanto com força sobre o índice como na melhora de expectativas, então há um fundamento nesse movimento. O contexto geral, porém, continua sendo positivo", diz Spiess.

As ações da Petrobras foram as que mais pressionaram o Ibovespa nesta terça. A petroleira teve queda de 0,12% em suas ações ordinárias e 0,65% nas preferenciais, mesmo em dia de forte alta do petróleo, após ter registrado valorização nos últimos pregões.

As maiores quedas do dia, no entanto, foram das chamadas "small caps", empresas menores e mais ligadas à economia doméstica, que também vinham numa sequência de pregões positivos impulsionadas pelas projeções otimistas para indicadores econômicos brasileiros.

A CVC e a Gol, por exemplo, caíram 6,68% e 5,22%, respectivamente, após terem acumulado forte valorização nas últimas sessões. As duas empresas anunciaram nesta terça uma parceria para oferecer pacotes de viagens promocionais ao grande público.

A Renner também teve forte queda no pregão desta terça, fechando com perda de 4,82%, impactada por um corte de recomendação do Citi.

O índice "small caps" da Bolsa brasileira fechou o dia em queda de 1,95%, tombo bastante superior ao do Ibovespa. No acumulado do ano, porém, o indicador ainda tem valorização de 13%.

Na outra ponta, altas de Vale, Itaú e Bradesco apoiaram a performance da Bolsa, com valorização de 1,11%, 1,09% e 0,53%, respectivamente. Enquanto a mineradora foi favorecida pelo preço dos contratos do minério de ferro no exterior, os bancos tiveram recomendação de compra reforçada por analistas do UBS BB.

As ações da Americanas também tiveram forte alta, subindo 6,03% no dia após a companhia ter divulgado que um relatório jurídico apontou fraudes em suas demonstrações financeiras.

Nos mercados futuros, os juros seguem em baixo patamar, mas tiveram leve alta nesta tarde, com os contratos com vencimento em janeiro de 2024 indo de 12,98% para 13,07%. Os para 2025 saíram de 11,03% para 11,19%.

Nos Estados Unidos, dados divulgados nesta terça mostraram que o índice de preços ao consumidor do país aumentou 0,1% no mês passado, depois de avanço de 0,4% em abril.

Nos 12 meses até maio, o índice subiu 4,0%, menor patamar nessa base de comparação desde março de 2021, ante aumento de 4,9% em abril. Economistas consultados pela Reuters previam que o índice subiria 0,2% no mês passado e aumentaria 4,1% na comparação anual.

A inflação abaixo do esperado reforçou as apostas de que o banco central dos EUA deve manter as taxas de juros americanas inalteradas na reunião desta semana.

A ferramenta Fedwatch, que analisa a probabilidade de alteração nos juros pelo Fed, mostra que o mercado, após os novos dados de inflação, vê uma chance de quase 100% de uma pausa no aperto monetário do país.

"Ainda que a inflação ainda tenha um caminho a percorrer até a meta de 2%, há uma melhora significativa. O núcleo da inflação também mostrou uma melhora e está no menor nível desde 2021. Diante desses dados, os dirigentes devem pausar esse ciclo de alta de juros", diz Patrícia Krause, economista da Coface.

Já Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, destaca que o mercado já prevê novas altas dos juros americanos no futuro mesmo com a provável pausa desta semana.

"O mercado já espera uma nova alta em julho. Apesar de alguns números terem arrefecido, a inflação ainda não está tão perto de ser controlada, e a decisão desta semana não será fácil dentro do Fed, pois muitos dirigentes ainda querem subir os juros", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.

Num cenário de estabilidade ou queda de juros americanos, o dólar tende a se depreciar, já que a renda fixa americana fica menos atrativa para investidores estrangeiros, que passam a alocar seus recursos em aplicações de melhor retorno.

O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, caía 0,44% no início desta tarde, reforçando a tendência de declínio da divisa no exterior.

Com isso, os principais índices acionários dos EUA tiveram alta, já que uma pausa dos juros deve beneficiar as empresas do país. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq subiam 0,43%, 0,69% e 0,83%, respectivamente.

No Brasil, a performance do real ante a moeda americana também é apoiada pelas perspectivas para a economia brasileira nos próximos meses. Dados positivos do PIB do primeiro trimestre e da inflação de maio, por exemplo, reforçaram o otimismo de investidores com a economia do país, o que atrai recursos.

A taxa Selic em 13,75% também auxilia a moeda brasileira, já que torna o diferencial entre os juros brasileiro e americano mais atrativo. Analistas esperam que um corte da Selic seja feito em setembro deste ano, mas apostas de uma redução já em agosto vêm ganhando força no mercado.

Com isso, o dólar vem apresentando seus piores níveis desde junho de 2022 ante o real, renovando seu patamar mínimo do ano a cada sessão.