Lula volta a criticar a decisão do Banco Central sobre a taxa de juros

Por MICHELE OLIVEIRA

MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a decisão do Banco Central sobre a taxa de juros, mantida em 13,75% pelo Copom (Comitê de Política Monetária) nesta quarta-feira (21).

Em coletiva de imprensa concedida nesta manhã (22) em Roma, antes de viajar da Itália para a França, o petista disse que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, joga contra a economia brasileira e que deve ser cobrado pelo Senado, que tem poder para avalizar uma mudança no comando da instituição.

"Eu acho que esse cidadão joga contra a economia brasileira. Não existe explicação aceitável para que a taxa de juros esteja em 13,75%. Não temos inflação de demanda no Brasil", disse Lula.

"Eu tenho cobrado dos senadores porque foram eles que colocaram esse cidadão lá. Os senadores têm que analisar se ele está cumprindo aquilo que ele tem de cumprir. Na lei, ele tem que cuidar da inflação, do crescimento econômico e da geração de emprego. Então, tem que ser cobrado", afirmou.

A Lei de Autonomia do Banco Central, de 2021, estabelece mandatos fixos ao presidente do BC e seus diretores, com mandato de quatro anos, com direito a uma recondução. Indicado pelo antecessor Jair Bolsonaro, Campos Neto pode ficar no cargo até dezembro de 2024.

"Quando o presidente indicava o presidente do Banco Central, quem era cobrado era o presidente. Agora, não. O presidente não pode fazer nada. O Senado é que tem responsabilidade de cobrar dele", completou Lula.

O petista disse também que não se trata de uma briga do governo contra o BC, mas de uma insatisfação da sociedade brasileira e citou entidades como a CNI (Confederação Nacional das Indústrias) e Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), além de grandes grupos varejistas e pequenos e médios empresários.

"É irracional o que está acontecendo no Brasil. Você tem uma taxa de juro de 13,75% com inflação de 5%, ou seja, cada vez que reduz meio ponto a inflação, aumenta o juro real no país. Não é possível ninguém tomar dinheiro emprestado para pagar 14% ao ano, às vezes 18% ao ano."

Lula, que tem encontro bilateral com o presidente da França, Emmanuel Macron, previsto para sexta-feira (23), afirmou que pretende discutir os termos do acordo entre o Mercosul e União Europeia, travado por conta de novas condicionantes ambientais pedidas pelos europeus e divergências do governo brasileiro sobre a reindustrialização do país.

O petista, que prometeu concluir as conversas neste ano, classificou como inaceitável a carta adicional que o bloco apresentou, a qual propõe transformar em obrigações compromissos ambientais feitos de forma voluntária na primeira redação da proposta. O texto está em análise pelas áreas técnicas dos ministérios envolvidos na discussão.

"É inaceitável porque eles colocam punição para qualquer país que não cumpriu o Acordo de Paris. Nem eles cumpriram. Os países ricos não cumpriram o Acordo de Paris, o Protocolo de Kyoto e a decisão de Copenhague. Então, é preciso que a gente tenha um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de humildade", disse ele, que afirmou que a resposta do governo brasileiro está em preparação.

"Não é correto você está discutindo o acordo e alguém achar que pode colocar punição ao parceiro do acordo. Um acordo pressupõe uma via de duas mãos: todo mundo tem que ceder e conquistar alguma coisa."

"Eu pretendo conversar com o presidente Macron, porque a França é muito dura na defesa dos seus interesses agrícolas, e é importante a gente convencer a França de que é maravilhoso que eles defendam a sua agricultura, mas eles têm que entender que os outros também têm o direito de fazer o mesmo. É preciso que cada um abra mão do seu protecionismo, para que a gente possa construir a possibilidade de um acordo que melhore a situação da União Europeia e da América do Sul", completou.

Ainda sobre o continente, afirmou que conversou com o ministro Fernando Haddad (Fazenda) nesta quarta sobre a crise econômica na Argentina e que pretende apresentar uma possível solução durante visita do presidente argentino, Alberto Fernández, no próximo dia 26.

"Pessoalmente, estou tentando fazer todo o esforço possível para ver se a gente consegue estabelecer uma parceria com outros bancos, para que a gente possa financiar as exportações da Argentina. No Brasil, quanto melhor estiver a Argentina, melhor."