Indústria, agro e construção veem espaço para corte dos juros em agosto

Por LUCAS BOMBANA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A aprovação da Reforma Tributária e do arcabouço fiscal, em conjunto com a divulgação recente de indicadores econômicos positivos, abre espaço para uma redução da Selic na reunião de agosto do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), na avaliação de setor produtivo.

Representantes da indústria, do agronegócio e da construção civil esperam que o ciclo de cortes na taxa básica de juros impulsione a renda da população e permita a expansão dos investimentos produtivos.

Economista-chefe da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Igor Rocha afirma que a evolução do nível geral de preços corrobora a expectativa de início do ciclo de afrouxamento da política monetária a partir de agosto.

Ele diz que os preços no atacado têm mostrado expressiva descompressão, com queda de 1,3% do IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) na primeira prévia de julho, enquanto o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve deflação de 0,08% em junho.

Rocha acrescenta que o efeito negativo dos juros altos sobre a indústria de transformação é mais expressivo do que para a economia como um todo. "A indústria de transformação não possui, por exemplo, o Plano Safra, e tampouco ferramentas de captação de mercado como LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures incentivadas."

Segundo estudos elaborados pela Fiesp, cada aumento de 1 ponto percentual da taxa real de juros tem impacto sobre o PIB da indústria de transformação superior a 50% ao que ocorre no PIB total.

"A redução da taxa de juros deverá melhorar o cenário prospectivo para a indústria de transformação. Com melhores condições financeiras, é possível colocar em prática novos planos de investimentos e estimular o consumo de bens mais sensíveis ao crédito", diz Rocha.

Segundo o economista-chefe da Fiesp, confirmado o início do ciclo de relaxamento da política monetária a partir de agosto, será possível projetar um resultado positivo para a produção industrial em 2024, interrompendo a sequência negativa dos últimos dois anos.

Diretora-executiva de competitividade, economia e estatística da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Cristina Zanella acrescenta que, desde o último trimestre de 2022, os fabricantes de máquinas e equipamentos observaram quedas contínuas nas suas atividades produtivas em razão da desaceleração do mercado doméstico e do encarecimento do custo do crédito.

A diretora da Abimaq diz que a queda da Selic abrirá espaço para a redução dos custos das dívidas e dos custos de financiamento. "Hoje a taxa de juros para investimentos, a depender do perfil da empresa, pode ultrapassar 20% ao ano, valor muito superior ao retorno do investimento. Neste cenário o investimento produtivo se torna inviável", afirma.

Ela diz também que, ao aliviar a renda das famílias, os juros mais baixos abrirão espaço para o aumento do consumo, que demandará mais produção e mais investimento. "Essas são condições desejáveis para o crescimento sustentável do país", diz a diretora.

Vice-presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Ingo Ploger afirma que a taxa de juros elevada atingiu diretamente as pequenas e médias empresas do setor, com aumento do endividamento e forte redução nos projetos de novos investimentos.

"Isso fez com que a evolução da produtividade fosse afetada. Investimentos em armazenagem que são urgentes no Brasil quase pararam, deixando o setor mais vulnerável a intempéries de mercado e do clima", diz Ploger.

O vice-presidente da Abag acrescenta que, enquanto os produtores agrícolas nos Estados Unidos estocam em suas propriedades quase 60% dos produtos, podendo calibrar melhor as suas vendas, o Brasil não chega a 30%. "Os juros altos afetaram muito o setor", diz Ploger.

Ele afirma que, na próxima reunião do Copom, as condições econômicas necessárias, como a inflação em queda e a redução das incertezas sobre a economia, devem estar presentes para permitir o início do ciclo de redução da Selic.

"Haverá um alívio para o capital de giro, liberando recursos para investimentos, que se tornam mais viáveis, com os financiamentos para equipamentos e insumos mais adequados", diz o vice-presidente da Abag.

Economista da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Ieda Vasconcelos afirma que, por conta do patamar atual dos juros, o setor teve dificuldade de renovar o seu ciclo de crescimento iniciado no segundo semestre de 2020.

A projeção de crescimento para o setor, que era de 2,5%, passou para 2% no primeiro semestre, e deve ser revisada novamente para baixo no final de julho.

Além da redução sistemática dos índices de inflação, a aprovação do arcabouço fiscal e da Reforma Tributária na Câmara dos Deputados contribuem para melhorar o cenário de incertezas em relação ao futuro, diz a economista.

"Acreditamos que todos esses fatos serão considerados pelo Copom e que assistiremos o início da queda dos juros em agosto", afirma Ieda.

Ela avalia que a queda da Selic pode contribuir para estancar as saídas líquidas de recursos da poupança -de R$ 50 bilhões entre janeiro e junho- que é uma importante fonte de financiamento para o setor.

"Além disso, esperamos, com a queda da Selic, a redução dos juros do financiamento imobiliário", afirma a especialista, acrescentando que, quanto maior os juros, menor a parcela da população que pode adquirir a sua casa própria.

A economista da CBIC diz ainda que os juros altos acabam estimulando os investimentos financeiros e inibindo os investimentos produtivos.

"A queda da Selic é totalmente benéfica não somente para a o setor da construção, mas para a economia nacional como um todo, pois ela incentiva as atividades produtivas que geram emprego e renda", diz a economista.

Presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney diz que a queda da inflação e o provável início da flexibilização da política monetária são notícias muito positivas para o mercado de crédito.

"A queda na inflação, particularmente dos alimentos, possibilita uma recuperação da renda real dos consumidores, em especial dos de baixa renda, que deve ter impactos positivos sobre a inadimplência desta faixa de renda, a mais penalizada justamente pela alta recente dos preços", diz Sidney.

A redução dos juros, prossegue o presidente da Febraban, reforça a estimativa de que a inadimplência no mercado de pessoas físicas está próxima ao pico e deve iniciar um processo de queda ao longo dos próximos meses.

"E a redução dos juros deve contribuir para uma melhora das condições financeiras, o que pode ajudar também numa recuperação na oferta e na demanda por crédito", afirma Sidney.