'Desertos de notícia' já não são maioria no Brasil, diz estudo
TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - Pela terceira vez consecutiva, o Atlas da Notícia, um estudo anual sobre jornalismo local no Brasil, apontou queda no número de municípios sem veículos de informação, os chamados desertos de notícias.
A redução foi de 8,6% em um ano, próxima do ritmo de queda no levantamento anterior, identificando-se 271 novas cidades com pelo menos um site, jornal, página de mídia social ou outro formato de cobertura local.
Com isso, pela primeira vez, agora há menos desertos de notícias do que "não desertos", áreas com acesso a informação local, ainda que limitada, no Brasil.
No total, são 2.712 desertos, somando uma população de 26,7 milhões. E foram levantados 2.858 "não desertos", somando 176,3 milhões de habitantes. Desses, porém, 1.643 municípios têm apenas um ou dois, configurando o que o Atlas chama de "quase desertos".
"O que mais tem ocorrido é o surgimento desses veículos individuais, blogs, perfis", diz Sérgio Lüdtke, presidente do Projor - Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, que realiza o Atlas.
Ele alerta porém que "é uma expansão frágil, que não traz tanto otimismo porque já se vê o fechamento de muitas dessas iniciativas online", por falta de sustentação financeira. "A pessoa consegue no máximo um anúncio via Google ou um acerto com o comércio local."
A mudança é encabeçada pelas regiões Norte e Nordeste, onde foram identificados 95 e 87 novas cidades, respectivamente, com os novos veículos digitais ou, em medida menor, notícias em emissoras comunitárias de rádio. Os estados mais favorecidos foram Pará e Pernambuco, com 36 cada um.
Ainda assim, o Nordeste é a região do país com mais municípios sem cobertura local, proporcionalmente.
Nesta edição do levantamento, foram identificados 14.444 veículos em atividade no Brasil, 5,2% a mais do que no ano passado, sendo 5.245 online, 36% do total -dos quais 1.671 blogs ou páginas de mídia social, de empreendedores individuais, como descreve o estudo.
O levantamento é financiado pela Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, plataformas presentes no levantamento de perfis noticiosos locais, assim como o YouTube, do Alphabet. Outras, como TikTok, Twitter e Telegram, também são registradas, mas em grau menor.
O trabalho envolveu 303 colaboradores voluntários e estudantes de 80 organizações e universidades, nos últimos dez meses, em todo o país.
Desde 2017, quando foi lançado, o levantamento é atualizado regularmente, descreve Sérgio Spagnuolo, coordenador de dados do Atlas da Notícia. Saltou o ano de 2020, devido à pandemia, mas "tem a mesma metodologia e o mesmo rigor desde 2019, com comparabilidade".