Dólar abre em alta nesta sexta-feira em meio à preocupação com economia chinesa

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar abriu em alta nesta sexta-feira (18) em meio à preocupação no exterior com a economia chinesa, que vem dando apoio à moeda americana nas últimas semanas.

A moeda começou o dia cotada a R$ 4,9864, valorização de 0,09%, às 9h17, com os investidores à espera de novidades para se reposicionarem de forma mais firme no mercado futuro, enquanto no exterior a moeda norte-americana tinha viés de alta ante divisas fortes e sinais mistos ante moedas de emergentes e exportadores de commodities.

Os temores sobre a China foram aprofundados após o grupo imobiliário Evergrande ter entrado com um pedido de proteção por falência em um tribunal dos EUA como parte de um dos maiores exercícios de reestruturação da dívida do mundo.

Na quinta (17), a Bolsa brasileira renovou seu recorde histórico de quedas e fechou no negativo pelo 13° pregão seguido sob pressão da Petrobras e do setor financeiro. O desempenho foi puxado pelo pessimismo no exterior, que fez com que o Ibovespa terminasse o dia em baixa de 0,52%, aos 114.982 pontos.

Já o dólar oscilou em torno da estabilidade no Brasil e no exterior, num cenário de aversão ao risco ainda influenciado por preocupações sobre a economia chinesa e com os juros dos EUA após a divulgação da ata do Fed. Ante o real, a divisa americana teve leve queda de 0,11%, cotada a R$ 4,981.

Para Lucas de Caumont, estrategista de investimentos da Matriz Capital, a sequência de quedas do Ibovespa está ligada a um movimento de realização de lucros, ou seja, quando investidores vendem ações que tiveram forte valorização para efetivar seus ganhos. O pano de fundo é o pessimismo no exterior, que derrubou ativos locais globalmente.

"Em algum momento, essa realização tinha que acontecer, e o estopim foi o risco de uma recessão global por conta da China, que, apesar de diversos estímulos econômicos, ainda está com dificuldade de retomar o aquecimento da economia", diz Caumont.

O analista-chefe da Toro Investimentos, Lucas Carvalho, diz que o movimento de baixa do Ibovespa está mais ligado ao exterior, com ativos de risco sendo pressionados tanto por preocupações sobre a China quanto pelo alto nível dos juros em todo o mundo.

"Os juros globais estão nas máximas dos últimos anos, principalmente os americanos. Outros mercados, como o do Reino Unido, também tiveram altas, e o aumento do retorno da renda fixa também impacta a Bolsa, que reage negativamente", diz Carvalho.

Nos EUA, inclusive, as apostas de que os juros podem subir ainda mais foram reforçadas após a divulgação da ata da última reunião do Fed. O documento mostrou que algumas autoridades da instituição ainda apoiam a manutenção do aperto monetário para reduzir a inflação no país, fragilizando as apostas do mercado de que a alta nas taxas americanas já havia chegando ao fim.

Piora a situação da Bolsa brasileira, ainda, a falta de catalisadores para motivar investidores locais. A aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, por exemplo, impulsionou os ativos locais em meses anteriores. Agora, a pauta econômica está parada no Congresso, o que traz cautela ao mercado.

"Os investidores permanecem em compasso de espera diante da iminente votação de medidas econômicas no Congresso, fator que também contribui para manter a postura cautelosa entre os agentes do mercado", afirma Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos.

No pregão de quinta, o índice abriu em alta e teve apoio da Vale, que subiu 1,40% com a recuperação do minério de ferro no exterior. Ao longo dia, porém, o Ibovespa reverteu os ganhos, sob pressão da Petrobras, que caiu 0,41%, e de ações do setor financeiro.

Papéis de Itaú e Bradesco, por exemplo, ficaram entre os mais negociados da sessão e caíram 1,18% e 1,24%, respectivamente. O IFNC, índice que reúne as principais empresas do setor financeiro da Bolsa brasileira, recuou 1,29%.

A queda do setor tem como pano de fundo a divulgação recente de balanços corporativos de grandes bancos do país, que não animaram o mercado, afirma Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos.

"Os resultados foram bons, mas não foram excelentes. Além disso, os bancos representam boa parte do Ibovespa. Se há saída de capital daqui, consequentemente eles serão afetados", diz Meira.Os ativos locais também foram pressionados pelas curvas de juros futuros, que registraram alta nesta quinta em meio a receios de que os juros nos EUA podem subir novamente e à preocupação em torno do andamento do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados.

Os contratos para 2025 foram de 10,51% para 10,53%, enquanto os para 2026 subiram de 10,04% para 10,11%.

No câmbio, o dólar manteve-se estável em meio ao clima de pessimismo mundial, mas houve certo otimismo sobre possíveis medidas do banco central da China para estimular a economia do país.

Em relatório sobre a implementação da política monetária do segundo trimestre, o Banco do Povo da China afirmou que "apoiará firmemente a recuperação e o desenvolvimento da economia real".

O anúncio deu leve alívio aos investidores, e a moeda americana começou o dia em queda. Ao longo da sessão, porém, as perdas foram devolvidas e o dólar recuperou força, com os temores sobre o Fed pesando mais sobre os ativos globais.

Nos Estados Unidos, os principais índices de ações mostraram fraqueza, justamente pela preocupação sobre os juros. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq caíram 0,77%, 0,84% e 1,17%, respectivamente.