Reajuste reduz percepção de risco político e Petrobras volta ao radar de investidores

Por NICOLA PAMPLONA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Embora não tenha eliminado as defasagens em relação às cotações internacionais, o reajuste dos preços dos combustíveis na semana passada reduziu a percepção de ingerência política sobre o comando da Petrobras e trouxe a estatal novamente ao radar dos investidores.

Entre esta quarta (23) e quinta-feira (24), três grandes bancos passaram a recomendar compra das ações da estatal, que dispararam nas bolsas, voltando a patamares anteriores à queda abrupta após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno de 2022.

"Os riscos associados à Petrobras são menores hoje", escreveram os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, do BTG Pactual, em relatório divulgado na quinta, em que voltam a recomendar a compra de ações da empresa.

A decisão de subir os preços dos combustíveis na semana passada representou a queda de uma das últimas razões para nossa posição cautelosa de longa data sobre a ação", concluem, resumindo percepção comum no mercado.

Os reajustes, de 16% na gasolina e 26% no diesel, ocorreram após pressão do mercado, que se preocupava com eventuais prejuízos com a importação de combustíveis mais caros no exterior para venda a valores menores no Brasil.

Nas semanas que antecederam o aumento, a defasagem no preço da gasolina com a paridade de importação calculada pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) chegou a bater R$ 0,90 por litro. No caso do diesel, a diferença chegou a R$ 1,29 por litro.

Os analistas do banco UBS BB destacam que o elevado percentual de reajuste no preço do diesel como um sinal de surpreendente independência da companhia, que também os levou a anunciar nesta quinta recomendação de compra das ações.

"Embora ainda haja incertezas em relação à política [de preços da estatal], ganhamos confiança em prever os preços dos combustíveis acompanhando referências internacionais nos próximos anos", escreveram Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcelos.

Na mesma linha, analistas do Bank of America "citaram entre as razões para a recomendação de compra de ações da estatal "uma política de preços mais alinhada com as cotações internacionais, o que reduz preocupações sobre influência do governo".

O Bank of America elevou a projeção de valor das ações da estatal de R$ 33 para R$ 45. O UBS BB foi de R$ 31 para R$ 42. O BTG espera que cheguem a R$ 39. Na quarta, após os primeiros relatórios favoráveis, os papéis preferenciais da Petrobras tiveram alta de 5,45% e chegaram a R$ 32,24.

Os reajustes da semana passada se somam a outras decisões que causaram alívio nos investidores, como o anúncio da nova política de remuneração aos acionistas, que reserva 45% do fluxo de caixa livre para dividendos.

No governo Jair Bolsonaro (PL), a Petrobras ganhou status de "vaca leiteira", como são chamadas as boas pagadoras de dividendos, e chegou a ocupar o segundo lugar do ranking mundial dos maiores pagadores elaborado pela gestora Janus Henderson.

Embora tenha reduzido o percentual destinado aos acionistas, a Petrobras manteve a possibilidade de pagar dividendos extraordinários em caso de sobra de caixa, o que o mercado espera que ocorra ainda em 2023.

A Petrobras não tem uma reserva estatutária de lucro, lembram os analistas do BTG, e é beneficiada pelo petróleo mais caro, já que cerca de 80% de sua receita vem da área de exploração e produção.

Ainda que reduzida, porém, a ingerência do governo na companhia não é vista pelos analistas como impossível. Os analistas do BTG entendem que hoje os maiores riscos para a companhia estão em sua governança.

"Qualquer tentativa de mudar o estatuto da companhia ou a Lei das Estatais que reduza a responsabilidade de seus executivos ou do conselho de administração é a maior ameaça ao nosso otimismo", disseram.