Mais um país europeu anuncia compra do cargueiro KC-390 da Embraer
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Áustria escolheu o avião de transporte tático da Embraer KC-390 para substituir sua frota de cargueiros C-130 Hércules. É a quarta exportação anunciada do modelo brasileiro, todas no continente europeu.
Viena hoje opera três Hércules, venerando avião de transporte que voa desde os anos 1950, líder de mercado até hoje em versões modernizadas. Mas o KC-390 é um projeto novo, desenvolvido no fim dos anos 2000 pela Embraer em conjunto com a Força Aérea Brasileira, onde voa desde 2019, com seis unidades entregues.
Com esse ponto de venda, a Embraer tem buscado avançar pelas bordas na Europa. Vendeu cinco KC-390 para Portugal, outros cinco para a Holanda e dois, para a Hungria. Esses países integram a Otan, aliança militar ocidental que não tem a Áustria como membro, mas parceira próxima.
O anúncio austríaco foi feito pela ministra da Defesa do país, Klaudia Tanner. Ela afirmou que a ideia é fazer uma compra conjunta com a encomenda da Holanda, que ainda está em negociação. O plano é adquirir quatro aeronaves, em contrato a ser fechado no ano que vem.
Em nota, a Embraer afirmou que está pronta para cumprir os requisitos dos europeus e disse que o KC-390 está "redefinindo os padrões de transporte tático no mercado mundial de defesa".
Os valores não são conhecidos. No ano passado, quando a Holanda anunciou a intenção da compra, o governo informou ao Parlamento que ela sairia por algo entre ? 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões hoje) e ? 2,5 bilhões (R$ 13 bilhões). No caso húngaro, cada avião saiu por US$ 150 milhões (cerca de R$ 730 milhões). Tudo depende do pacote entregue e do pós-venda, além da escala no caso de uma encomenda maior.
Existem na Europa hoje 160 aviões de transporte médios, 140 deles versões mais ou menos modernas do Hércules. Com o aumento da demanda militar devido à piora da segurança europeia desde o início da Guerra da Ucrânia, iniciada pela Rússia em 2022, orçamentos de defesa estão sendo revisados para cima -criando oportunidades, como as vendas do caça americano F-35 mostram.
Hoje, a Embraer negocia a venda do avião, em sua versão com capacidade de reabastecimento aéreo (KC-390) ou só de transporte (C-390) com quase dez países. No caso da Áustria, ainda não está definido o padrão, embora a ministra tenha falado no C-390.
Alguns desses clientes, como República Tcheca e Eslováquia, são membros da Otan, impactados pela guerra na Ucrânia. Outros são mercados agitados pelo acirramento das tensões da Guerra Fria 2.0 entre Estados Unidos e China, como a Índia e a Coreia do Sul. Por fim, há negócios regionais potenciais na África (Egito, África do Sul e Ruanda).
Mas a negociação europeia mais avançada, depois do anúncio austríaco, é com a Suécia. O país nórdico está na fila para aderir à Otan, esperando apenas o OK da Turquia e da Hungria, previsto para outubro.
Fabricante do caça adotado como padrão pelo Brasil, o Gripen, a Saab sueca assinou em abril um acordo para a venda do KC-390 para a Força Aérea de Estocolmo. As conversas avançaram, envolvendo também o fato de que a FAB deseja mais caças além dos 36 de seu contrato inicial, que está em curso.
Há um interesse não secundário, nos royalties de exportação: como investiu R$ 5 bilhões (em valores não corrigidos) no desenvolvimento do cargueiro, o governo ganhará 3,2% do valor de cada novo contrato até saldar a dívida
O afinamento de posições ocorre depois de uma crise aguda entre a Embraer e a FAB no ano passado, quando os militares revisaram o contrato assinado em 2009 para a compra de 28 KC-390 pelo equivalente hoje a R$ 12,3 bilhões. A encomenda baixou para 19, após duras rodadas de negociação que azedaram o clima entre a fabricante paulista e a Força, da qual surgiu como estatal em 1969 até ser vendida em 1994.